CREIA!

Da Boca pra Fora

Reverendo T aka Tony Lopes
Microphonia
Published in
3 min readJun 11, 2020

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O sucesso não é obra do acaso.

Ele nasce de circunstâncias estranhas.

A música está aí para provar isso a cada dia, a cada nova história. A cada novo hit. A cada nova tentativa de se conseguir.

Vejamos um caso bem interessante que aconteceu com a aclamada banda Secos & Molhados.

O grupo que surgiu no início dos anos 70, e logo arrebatou todos com um som criativo e fora dos padrões vigentes, isso sem falar do comportamento andrógino e uma atitude visceral que demoliu com todas as estruturas hipócritas e conservadoras daquela época.

Apesar de serem altamente contestadores, tinham o apoio de todos, pois contava a seu favor o choque que causaram e, que, com a ajuda do visual bastante peculiar, com seus rostos pintados, os aproximava das crianças.

Eu mesmo fui uma delas, e me vi seduzido com a aparência das caras e das roupas extravagantes sem me dar conta, naquele momento, que ali existia um vulcão que só explodiria de verdade muitos anos depois.

E apesar de romperem essa barreira “sexual”, com irreverência e autenticidade, ainda assim não foram perseguidos pelo regime militar e pelos padrões rígidos daqueles tenebrosos anos.

Mas, o que mais me chama atenção hoje, quando olho para trás, é ver como as coisas se dividiram de forma injusta.

Formado por João Ricardo e Ney Matogrosso com a inclusão discreta, mas marcante, de Gerson Conrad. Dois LPs lançados e um estrondoso sucesso que durou muito pouco e implodiu.

Toda a trama musical surgiu da cabeça inquieta e genial de João, uma cara que teve a poesia encrustada na sua mente por seu pai João Apolinário, um poeta e incentivador dos versos.

Porém o tempo foi cruel com João, sabe-se lá porque, e existem muitas teorias, e ele não conseguiu manter os holofotes sobre si. E pior, viu Ney lograr quase sozinho todo o louvor e glória pelo sucesso do grupo.

Injustamente, diga-se.

Sou fã dos dois, e acompanho suas carreiras desde sempre, mas confesso é João o cara que me estimula e me faz querer seguir a trilha por eles aberta.

Ele tentou por várias vezes levar o Secos e molhados com outras pessoas, fez grandes canções, gravou outros LPS, mas jamais voltou a obter êxito.

O mesmo ocorreu com sua carreira solo que se iniciou logo após o fim do grupo. Ele até chegou a ter algum sucesso e glamour na época com seus primeiros Lps. O primeiro foi lançado em 1975 como uma super produção. O disco rosa.

Mas o tempo tratou de lhe deixar escondido lá no passado, fincado às suas próprias memórias apesar de até hoje continuar a lançar alguns discos que ainda contém aquele toque sutil de genialidade.

Ney continua por aí, rebolando na cara dos caretas. Com uma carreira sólida e recebendo os vivas pela sua história singular e competente.

Mas é bom sempre lembrar que nada disso teria acontecido se não houvesse um cara chamado João Ricardo, um português que veio bem jovem para o Brasil e criou um dos maiores grupos da nossa história.

Reverendo T para o Microphonia.

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Reverendo T aka Tony Lopes
Microphonia

escrevo blasfêmias , orações e letras de músicas que poucos irão ouvir.