CREIA!
Da Boca pra Fora
O sucesso não é obra do acaso.
Ele nasce de circunstâncias estranhas.
A música está aí para provar isso a cada dia, a cada nova história. A cada novo hit. A cada nova tentativa de se conseguir.
Vejamos um caso bem interessante que aconteceu com a aclamada banda Secos & Molhados.
O grupo que surgiu no início dos anos 70, e logo arrebatou todos com um som criativo e fora dos padrões vigentes, isso sem falar do comportamento andrógino e uma atitude visceral que demoliu com todas as estruturas hipócritas e conservadoras daquela época.
Apesar de serem altamente contestadores, tinham o apoio de todos, pois contava a seu favor o choque que causaram e, que, com a ajuda do visual bastante peculiar, com seus rostos pintados, os aproximava das crianças.
Eu mesmo fui uma delas, e me vi seduzido com a aparência das caras e das roupas extravagantes sem me dar conta, naquele momento, que ali existia um vulcão que só explodiria de verdade muitos anos depois.
E apesar de romperem essa barreira “sexual”, com irreverência e autenticidade, ainda assim não foram perseguidos pelo regime militar e pelos padrões rígidos daqueles tenebrosos anos.
Mas, o que mais me chama atenção hoje, quando olho para trás, é ver como as coisas se dividiram de forma injusta.
Formado por João Ricardo e Ney Matogrosso com a inclusão discreta, mas marcante, de Gerson Conrad. Dois LPs lançados e um estrondoso sucesso que durou muito pouco e implodiu.
Toda a trama musical surgiu da cabeça inquieta e genial de João, uma cara que teve a poesia encrustada na sua mente por seu pai João Apolinário, um poeta e incentivador dos versos.
Porém o tempo foi cruel com João, sabe-se lá porque, e existem muitas teorias, e ele não conseguiu manter os holofotes sobre si. E pior, viu Ney lograr quase sozinho todo o louvor e glória pelo sucesso do grupo.
Injustamente, diga-se.
Sou fã dos dois, e acompanho suas carreiras desde sempre, mas confesso é João o cara que me estimula e me faz querer seguir a trilha por eles aberta.
Ele tentou por várias vezes levar o Secos e molhados com outras pessoas, fez grandes canções, gravou outros LPS, mas jamais voltou a obter êxito.
O mesmo ocorreu com sua carreira solo que se iniciou logo após o fim do grupo. Ele até chegou a ter algum sucesso e glamour na época com seus primeiros Lps. O primeiro foi lançado em 1975 como uma super produção. O disco rosa.
Mas o tempo tratou de lhe deixar escondido lá no passado, fincado às suas próprias memórias apesar de até hoje continuar a lançar alguns discos que ainda contém aquele toque sutil de genialidade.
Ney continua por aí, rebolando na cara dos caretas. Com uma carreira sólida e recebendo os vivas pela sua história singular e competente.
Mas é bom sempre lembrar que nada disso teria acontecido se não houvesse um cara chamado João Ricardo, um português que veio bem jovem para o Brasil e criou um dos maiores grupos da nossa história.
Reverendo T para o Microphonia.