ENTRE CORDAS E POESIAS
Estrelinha no Céu
Ontem, um amigo me ligou. Não mandou mensagem, ligou! Ação que estimo e que revela um pouco da minha crença em que, se você se importa, fale e ouça. O som rabisca cores, dores, amores e norteia muitos sentimentos.
Na verdade, ele queria me abraçar por causa da recente e triste passagem da minha querida mãe. Não que a morte me traga tristeza, afinal, trata-se daquilo que nos resta. Pior do que a morte são os pequenos suicídios cotidianos a que nos infligimos quando não esmurramos mesquinharias, preconceitos, presunções e, principalmente, quando desqualificamos outrem em causa própria. Devo confessar, no entanto, que essa nova experiência – enterrar quem amamos nesse protocolo pandêmico – foi surreal! Mas, ainda assim, prefiro mesmo é celebrar a vida! Foi difícil, dessa vez, não poder reunir os amigos e familiares para umas doses e músicas, inclusive, esse também era o desejo de Minha Mainha.
NOSSO NINHO
Hoje ninei o amor
Aquele que me trouxe sorrindo
Escorregando numa escada sem fim
De alguns amores antes
E de muitos outros depois de mim
Hoje ninei o amor
Aquele que jurei amar
Mesmo antes de saber quem sou
Aquele do toque na orelha
Que do afago repetitivo nos cansados braços se enamorou
Hoje ninei o amor
Do alto lá
“Morreu morreu seu Dom Jorge…”
Morreu morreu o amor!
Não ele não morre
É seu e você o sorve
Mesmo ao servir-se do ombro da dor
Destarte, encerro esse capítulo, momentaneamente, e celebro um amor de toda uma vida dedicada à família e achegados. Ah! Seriam tantos adjetivos, tantas histórias e poesias… Sem falar que ela sempre foi a grande incentivadora para que eu também saboreasse a música e, acho eu, guia minhas mãos em momentos poéticos sublimes.
Outros versos para ela e por ela:
DIVISÃO
Seria muito bom! Oh! Que bom seria
se toda dor, todo sorriso,
toda mágoa, toda alegria,
pudéssemos transformar em poesia.
Dividem tudo os sentimentais,
contando e cantando para os demais,
desenganos, desilusões,
erros, vitórias e paixões.
Oh! Tu que não sabes te expressar
um possível amor: cantar vem!
Terás o fardo mais leve a carregar.
Tua paixão em versos explodiria
e dividirias com todos também
esperanças, otimismo, até nostalgia…
(por Nair Almeida – extraído do livro: Retalhos de um Cotidiano – 2005)
E o amigo? — devem ter se perguntado. Ele é importante em vida e isso será assunto para o próximo texto.
Júnior Vaz para o Microphonia.