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Novas Fronteiras em Brisa Nórdica, da Marlargo

márcio correia campos
Microphonia
Published in
2 min readJul 20, 2021

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Entre os vários falsos amigos entre as línguas portuguesa e espanhola, a palavra largo é uma das mais divertidas: de uma língua para a outra, ela designa a dimensão oposta. Uma das poucas experiências onde esse jogo linguístico se esvai e deixa de ser uma questão de tradução é seguramente o navegar em alto mar: entre tons de azul do mar e do céu, comprimento e largura deixam de existir na abertura ao espaço.

Em Brisa Nórdica (2021), a Marlargo aventura-se a deixar seu porto seguro para adentrar as águas onde sopra o novo vento dos sons de bandas de guitarras norte-americanas. Há uma clara abertura a experimentações nas estruturas das canções, certa dissonância e sutileza estão bem mais realçados que no álbum de estreia, Ressonância, de 2019, que trazia uma parede sonora mais compacta. Neste novo conjunto de canções há mais intervalo, mais variação que levam a uma riqueza exploratória: clareza e refinamento acompanham essa abertura de horizonte e permitem à banda e ao ouvinte quase navegar em outras águas. Baixo e guitarras convidam a bateria, com certa frequência, a um passeio quase jazzístico. Em Lívia, a quarta canção do disco, esteja talvez o momento em que esta experiência de fronteiras líquidas torne-se mais evidente.

Mas se engana quem achar que a banda se desorientou por vastos oceanos; o porto seguro, o sal original, está ali, sempre à vista, a aventura tem norte e a bússola continua certa. É larga a experiência, mas ela não confunde. A viagem é rica e fica a expectativa de escutar o som ao vivo. Que seja logo!

Márcio Campos para o Microphonia.

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