AMENIDADES

O Meu Fascínio Por Janet Leigh

Quinhones
Microphonia
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3 min readMay 28, 2020

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Tenho que assumir, depois de 25 anos abro meu coração para Janet Leigh, atriz estado-unidense de Beverly Hills. Pode parecer muito estranho tudo isso (ser estranho para os Hitchcok é normal), mas o meu desejo amoroso por uma senhora na época, considerando que ela tivesse seus 40 anos e eu um juvenil caipira com 12 anos de idade, era eloquente. “Nosso” primeiro caso de amor foi anunciado por uma voz de uma vinheta da Rede Globo, informando Corujão, que acontecia logo após Supercine. Era Psicose, de Alfred Hitchcock.

Naquela época não tinha muita autonomia para assistir determinados filmes, diga-se de passagem, o conteúdo e principalmente o horário. Era tudo muito delicado, os meus pais sempre foram rígidos com disciplina de horário e outras coisas mais. Mas era um sábado e no outro dia não teria aula, mas mesmo tendo hora para acordar, poderia acordar um pouco mais tarde. Domingo era dia de missa, casa da vó, encontro da família.

Com apenas dois canais, a única TV que ficava na sala, sem controle remoto, e o velho Bombril na ponta da antena, era controlada por minha mãe. Não sei o que deu, mas a minha velhinha liberou geral. A euforia era tanta que até pipoca com Mirinda (refrigerante da época) foram reservadas para aquele momento. Pergunta que não quer calar: por que aquele filme estranho que ninguém nunca tinha ouvido falar? Acredito que era por causa do terror, eu adorava e adoro até hoje filme de terror — um salve para o mestre José Mojica Marins (Zé do Caixão).

Tudo pronto para começar, pipoca, refri, luz apagada, cobertor no sofá, pedindo a Deus que minha mãe não usasse o liquidificador — todos sabem que era ligar o liquidificador que dava interferência na imagem da televisão.

Ela estava linda, deslumbrante, o seu texto era um texto, um texto que não lembro. Lembro-me da sua voz, da sua maquiagem, da sua roupa, do seu brilho, do seu charme. Era ela, a deusa, Marion Crane (JL). O olhar de “adolescente masturbadoriano”, que esperava sentir medo no filme, sentia desejos sexuais e amorosos pela encantadora secretária Crane. A trilha sonora era algo tão presente, tão fascinante, que a considerava como um ator invisível que demonstrava um texto sem improviso, verdadeiro, totalmente veraz.

O charme encantador de Anthony Perkins como Norman Bates, sacrificava a minha deusa com facadas em um banheiro de azulejo, que não sei o porquê, era um banheiro que tinha cheiro de ralo, de barata. Inveja cruel daquele banheiro que presenciou a donzela se despindo, sentiu o cheiro das suas axilas e foi pisado pelos pés de pluma.

Norman apunhala a secretária Marion enquanto Bernard Hermann entra em cena com sua orquestra de jazz. Segundo alguns críticos de cinema, ele, por receber um cachê menor, impôs algumas condições inclusive a trilha mais sutil com instrumentos de cordas. Isso ajudava a dar mais ênfase de suspense no filme em preto e branco.

A cena marcante, acompanhada por uma trilha sonora estonteante, dava criatividade e desejo a um moleque que a princípio buscava sentir aquele medo por filmes de terror.

Sim, foi um sono incrível, obrigado Alfred Hitchcok por me apresentar Janet Leigh.

Quinho Castro para o Microphonia.

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