ON THE ROCKS

Quem é Marlargo?

Walter Hupsel
Microphonia
Published in
2 min readJul 3, 2021

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Foi com surpresa que recebi o convite para escrever sobre o novo álbum da Marlargo. Banda de grandes amigos que sabem meus gostos e predições, a Marlago faz um tipo de música que pessoalmente não me atrai muito. É estranho, adoro tessituras e texturas musicais, sons não convencionais, dissonantes, e, em certa medida, é isso que essa grande banda faz.

Mas ali, tudo flui. A voz suave e plana de Sávio te convida justamente para essa fluidez, essa forma de contemplação, e admirar e deixar-se ir.

As camadas da guitarra de Júnior, Ataíde Júnior, que o nome já indica: nasceu velho. Algum de vocês conhece um Ataíde jovem? Um bebê Ataidinho? Pois. Júnior nasceu velho e como tal, contemplativo. Sua guitarra, seus tempos, são a melhor metáfora da idade.

O álbum é sobre isso: tempo, fluidez e contemplação. Não é música pra consumo, muito menos música de fundo, que você põe pra tocar enquanto lava a louça ou lê um livro. Não dá, e ainda bem, não se propõe a isso. O seu tempo não é de agora nem mesmo o agora, é fora da escala.

É, assim, fora do hoje sem ser o ontem. Impossível datar o som que sai dos meus headphones, impossível traçar uma linha. A banda não nos permite referenciar, encaixar.

Não me atrai muito porque prefiro outras estéticas, outros tempos.

Mas nada disso impede-me de dizer que é uma das bandas mais criativas e originais que se ouvirá. Ela te convida, suavemente, sem insistir, em esquecer o tempo e olhar pro nada, a esmo, prum horizonte que se recusa a se fechar em uma linha. São camadas, são horizontes.

A Marlargo é assim mesmo, é o plural.

Walter Hupsel para o Microphonia.

Ouça aqui:

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Walter Hupsel
Microphonia

Cientista político, punk, anarco… uma caralhada de moléculas em choque constante. Aqui é barulho, dissonâncias e muito fuzz. Só JESUS (AND MARY CHAIN) SALVA!