ENTRE CORDAS E POESIAS

Quem vai degustar acarajé frito com azeite do dia anterior?

Junior Vaz
Microphonia
Published in
2 min readMar 29, 2020

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Foto de Érico Amaral©

CLAVE

Nota após nota

Noto que algumas notas

Não deveríamos notar

Confusas, difusas, obtusas, semibreves

Sem silêncio, sem composto, sem pauta, descompasso!

Um incômodo inicial e um posterior: “me faça uma garapa!”. Frutos da mesmice e da falta de culhões de grande parte da galera que propõe o novo cenário rock na nossa cidade.

Bandas sem ousadia e que se limitam a reproduzir receitas já testadas são ótimas para manter pessoas circulando nos bares. Voltando rapidamente ao bairrismo gastronômico: o novo acarajé rock não pode ser feito com dendê virgem e ter mais pimenta?

Fique chateado, não! É essencial a ativação de uma lupa que ajude a dissecar a anatomia da recente verve rock baiana. Uma calibrada cena só ganhará músculos se tivermos a capacidade de absorver alguns chutes na canela.

Você, “o quadrado” – que se vangloria por ser rocker e surfa na onda do conforto – afine seu instrumento, calibre sua voz, invista tempo em conhecimento sobre produção musical e acima de tudo: liberte-se do 4/4! Existem outros tempos e outros elementos para compor uma nova trilha musical.

EFEITO MANADA

Lembro eu…

Quando precisava adoçar

Batia à porta do vizinho

Não há resquício de somsibilidade

E apreço ao que existirá

Aprendeu a sorver amargo

A fazer sozinho

Repete a conversa chata

Sobre seu amor aos 70s

E que um certo barbudo não morreu

Enfadonha e depressiva

Ei, garoto?!

Ouve aquele riff

Sente os rufos

Os descompassos

Algo em progressão

Desviando desse sabor quadrado

Eu sei, eu sei

Ouvimos depois

Em tom messiânico

Uma gim tônica em bemol

E não preciso abrir a porta

Hoje, sem cordas, restou poesia!

E não me venha com dendê vencido. Sinto o cheiro a distância!

Junior Vaz para o Microphonia.

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