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Senso de Urgência

Walter Hupsel
Microphonia
Published in
2 min readJun 2, 2020

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Chuva — Vincent van Gogh, 1889.

Gosto muito da ideia da chuva que vem do nada justamente quando você está indo para algum lugar. Aí bate aquele dilema, aquela escolha tão difícil quanto do Estadão: devo sair agora ou esperar uns minutinhos?

Certeza, espere. Em 5 minutos ela deve diminuir ou até mesmo parar. Não diminuiu? mas já se passaram uns dez minutos… nem tem tanto vapor assim no céu, já já para. Meia hora depois, cansado de esperar que o sol brilhe, ou ao menos um lusco-fusco, está ainda inerte dando mais cinco minutinhos porque, afinal, já choveu tanto que é impossível que continue por muito mais tempo.

Mas se espera, na vã esperança que a sua temporalidade e a da chuva se encontrarão em algum meio termo. O que são mais dez minutos para quem já esperou mais de duas horas?

E assim esperamos. E esperamos. Mesmo com a realidade nos dando na cara, a esperança em tempos perfeitos, de clima ideal nos faz aguardar.

Mas certas coisas são urgentes e o clima não pode adiar, mesmo que tente. É obrigação ética se posicionar e agir. Vidas estão em jogo. Na verdade, sempre estiveram, mas a maioria não quis enxergar porque não lhe era cômodo.

Mas está ai, incontestável. Nos EUA ou aqui, o projeto de extermínio anda à cavalo (ou tanques). Máscaras caíram, com o perdão do infame trocadilho. Quem ainda insiste em não ver é porque assim escolheu, não tem argumentos ou desculpas… talvez nem mesmo perdão. Não há como dialogar com quem defende a morte. Já dissera Durruti, fascismo não se debate, se destrói.

A chuva está ai… e estamos esperando o que? Mais cinco minutos? O momento ideal?

Não! O senso de urgência me impele…: eu vou pra rua beber a tempestade.

Walter Hupsel para o Microphonia.

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Walter Hupsel
Microphonia

Cientista político, punk, anarco… uma caralhada de moléculas em choque constante. Aqui é barulho, dissonâncias e muito fuzz. Só JESUS (AND MARY CHAIN) SALVA!