CASA DA MÚSICA

Shhhh!

Magano
Microphonia
Published in
2 min readMar 31, 2020

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O som teve um papel importante na minha vida, desde o princípio. Do bater de latas aos primeiros ídolos da música. De forma que, na minha casa, música era uma constante. Quando não havia música, havia a rádio com notícias, e ali estava uma ponte de comunicação com o mundo, revelando coisas que eu ainda não conhecia da realidade.

Também sempre estudei com algum tipo de música ao fundo. O silêncio total me causa uma certa agonia e desconcentração. Demorei pra aceitar isso depois que entrei na universidade e os textos mais densos pareciam pedir silêncio e introspecção. A introspecção ficou, o silêncio foi às favas.

A lembrança mais remota que tenho da percepção de que o som me era tão caro vem lá da época em que eu saía com a minha mãe pra visitar pessoas amigas, as quais eu estava encontrando pela primeira vez. Com as devidas advertências da minha mãe, “não toque nisso, não toque naquilo”, e consentimento dos donos da casa, lá ia eu explorar o ambiente.

Passei a ter uma ideia de que havia algo errado nas casas que não tinham música tocando, nem um rádio ligado. Achava que algo estava faltando ali. Nessas casas, a minha exploração do ambiente era bastante breve. Eu achava tudo sem graça e lá ficava sentado, inquieto pra ir embora. Ficava pensando: como aquelas pessoas conseguiam viver, morar ali, sem ouvir música ou vozes vindas do rádio? “Por que naquela casa não tem um toca discos, mãe?”, perguntava, meio intrigado. E minha mãe sorria pra mim, segurando-me pela mão, de volta pra nossa casa da música, pra perto do som.

Esse foi o meu primeiro registro de que a música já estava pulsando dentro de mim, influenciando na interação e percepção do mundo.

Lúcio Magano para o Microphonia.

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Magano
Microphonia

Psicólogo, doutorando, guitarrista; produção e pesquisa no @radioafricabrasil da Educadora FM 107.5 ;Colaborador e editor no @microphonia_