ENTRE CORDAS E POESIA
Um Grito Repleto de Silêncio.
Hoje deu banzo! Lembranças de um velho amigo de infância e parceiro de descobertas sonoras. Daqueles que compartilhar o único violão, ao ponto de ser uma noite na casa de cada um, era um exercício pleno de amizade.
Nutria um grande apreço pela sua companhia, não somente pela afinidade musical, mas, principalmente, por perceber ou intuir um certo descompasso naquela cabeça genial e acelerada.
Todos os dias, por alguns meses, sentávamos para arranhar as cordas. Um punhado de revistas, o diapasão – indubitável árbitro das dúvidas auditivas – e a constante brincadeira de um dia sermos astros do rock. Ele, com a imensa capacidade de decorar letras e sequências dos acordes, e eu, com um pouco mais de destreza no gordinho Giannini com cordas de aço.
Soube, recentemente, com palavreado por demais pejorativo – Cara, Mauricio tá precisando de camisa de força! — , que o querido amigo andava estranho e num agudo distanciamento social.
Há muito tabu em torno das doenças psíquicas. Amigos e familiares, muitas vezes, desviam do assunto e isso reforça a recusa em se reconhecer doente e aceitar ajuda profissional. Além disso, convivemos com insensíveis e desnecessárias “brincadeiras”: esqueceu de tomar os remedinhos? andou rasgando dinheiro? Quantos de nós não soltamos coisas desse tipo, achando serem piadas inofensivas?
O triste é que o talentoso amigo parece ter o caminho fechado para a poesia da vida.
CASULO
Porquês em demasia cultua
Introspecção pensa ter ido
Os pés
Um bailado
Apontam infinito
Frenéticos
Sem alma
Morrido?
Paraquedas fechados só é
O cume sem vento aspersão
As mãos
Os detalhes
Não cura
Futuro
Sem unha
Repetição?
Tilintares dóricos amiúdes
Centelha abanada devoção
O eu
Acamado
Se vê
Apartado
Infeliz
Sem razão
Thank you, Joni, por sacudir o passado com seu excelente texto, inspirando-me a escrever sobre o meu fraterno amigo.
De banzo fico, abraçando cordas e fugindo do quarto escuro através de pincéis invisíveis!
Junior Vaz para o Microphonia.