ON THE ROCKS

Uma Breve História do Tempo

Walter Hupsel
Microphonia
Published in
3 min readAug 8, 2020

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Chesterman Beach skyscape — by Eiko Jones

Hoje o Microphonia completa um ano. Ou talvez ontem, não sei bem. Recebi o comunicado de Hamburgo. Isso não quer dizer muita coisa. Talvez tenha sido ontem. Ou anteontem. O fato é que completa, ou completou. O tempo eu não sei. Nunca soube, e no nosso cotidiano atual ele se tornou mais relativo ainda. Não sei a última vez que sentei na praia e olhei para o mar e a areia. Não sei quando completou um ano. E isso pouco importa.

Importa que o Microphonia me trouxe, junto com o CBS e o ¡Mis Putas Tristes! (tem música nova no ar. Como diria Gil, os pecados são todos meus), um sentimento de pertença. Numa Salvador que sempre me senti um forasteiro, seu sol e seu imperativo da felicidade, Microphonia me devolveu a cidade.

Os domingos de olhos ressaqueados, acordando às 07:00 pra ir gravar. Os estudos das bandas para entrevistar, que desconhecia por ter estado duas décadas fora, as amizades que foram feitas e/ou consolidadas… tudo isso devo aos corajosos cabras que, em março do ano passado apareceram com uma ideia insana de fazer um programa com bandas alternativas baianas.

Insana sim. Nunca tivemos experiência de vídeos, de entrevistar, de conduzir programa de entretenimento. Mas ali, naquele mês (ou foi outro mês? não sei, e não importa) começou uma aventura de quem simplesmente achava que muita gente tinha algo a dizer, algo que Salvador não permitia na sua plenitude.

E assim foi. Mambembe no seu início, mudando e melhorando a cada dia. Aprendendo.

Nesse trajeto fomos incorporando mais pessoas, geniais em suas especificidades e vicissitudes, ampliando rede, amplificando vozes. Fomos indo, sim, com o perdão da redundância tão típica do futebol. Fomos indo.

A pandemia impediu novas gravações, mas não diminui nosso ímpeto de amplificar. Temos as lives e esse blog, ferramentas que nos mantém ativos e sedentos. O baque é forte, a saudade imensa, mesmo dos domingos de manhã tentando não transparecer a ressaca no vídeo.

A nossa revolta é imparável, nossos decibéis são puro noise. Gostamos da inquietude, do barulho, mais que da paz. Gritamos: “estamos vivos e temos muitas coisas a dizer”.

Agradeço a todos que por aqui passaram. Às bandas, aos escribas, àqueles que nos acolheram e disseram “estamos juntos”. Vamos seguir amplificando as vozes ao ponto de causar curtos-circuitos sonoros.

Valeu Joniel, Ataíde, Quinho, Tony, Érico, André, Lúcio (cast in order of appearance).

Valeu a todos que acreditaram, e também aos que nunca puseram fé.

É isso. Não sei se foi ontem. Se é hoje. Só recebi a informação vinda não de um asilo mas da Alemanha. O fato é, e isso que importa, que não sou mais um estrangeiro em minha própria terra. Devo isso também ao Microphonia, filho de mentes brilhantes e incômodadas.

I know it’s only rock’n’roll but WE LOVE IT.

Walter Hupsel para o Microphonia.

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Walter Hupsel
Microphonia

Cientista político, punk, anarco… uma caralhada de moléculas em choque constante. Aqui é barulho, dissonâncias e muito fuzz. Só JESUS (AND MARY CHAIN) SALVA!