BANDA DESENHADA

Vozes Que Me Inspiram: Liz Fraser.

André Lissonger
Microphonia
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2 min readApr 24, 2020

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Começo aqui uma mini-série sobre as vozes que ouvi, me surpreendi e me inspiro para compor e cantar. A primeira dessa coleção de homenagens é a uma das minhas maiores musas, Liz Fraser. Conheci essa voz vasculhando uma novíssima remessa de lançamentos do selo britânico 4AD, no headphone de uma loja de departamentos. Perguntei-me logo se aquilo era uma valsa, e que idioma era aquele. Quanto mistério, delicadeza e riqueza de timbres haviam conseguido! O braço da pickup pulou até a quarta faixa, “Persephone”, e aí foi o suficente. Era o álbum “Treasure” (1984) dos Cocteau Twins.

Em casa, a noite entrando pela madrugada, luzes apagadas, altura do volume no headphone no máximo, fui e voltei no tempo mais de dois mil anos. Deusas gregas perambulando em um ritual na Ilha de Delos, fadas medievais nos vãos obscuros de um castelo e divas darks de cabelo curtíssimo saindo do Crepúsculo de Cubatão valsavam e cantavam juntas aqui em casa.

Elisabeth Fraser é soprano. Possui hoje 56 anos. É escocesa. Seus principais trabalhos são com os Cocteau Twins. Ainda fez interessantes trabalhos com o Massive Attack.

É compositora também e suas músicas não possuem um idioma específico. Palavras de idiomas distintos, inventados, estranhos, esquisitos, compunham frases musicalizadas com modulações de um rico lirismo. Dos susurros às explorações de tons, timbres e oitavas de altas, graves e baixas frequências, auilo me emocionou muito. Que arte!

Três coisas que mais me impressionam nessa voz, além da riqueza de timbres:

  1. Quando ela explora os graves… o grave de uma soprano bem executado, é impressionante!
  2. Quando explora a liberdade na melodia de voz, independente da letra indecifrável, pelas harmonias e ritmos.
  3. As camadas, as tessituras, as sobreposições de timbres e frequências.

Ouça Pandora (do álbum Treasure)… sinta o que o ser humano pode densa e delicadamente fazer com a voz. Como Liz e os Cocteau Twins chegaram ao sublime. E depois me responda se valeu à pena libertar os males do universo.

André Lissonger para o Microphonia.

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André Lissonger
Microphonia

Microphonia editor and reporter . Architecture . Urban planning Professor . Rock music . Urban sketchers . Art