7 filmes dirigidos por mulheres que você precisa assistir

Selecionamos sete filmes disponíveis on-line para você assistir nas férias e entender questões das mulheres pelo mundo

Equipe Mídium
Mídium - Comunicação em Movimento
7 min readDec 21, 2017

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Por Bia Rabelo, Catalina Leite, Marcela Tosi, Marília Abreu e Thayná Facó.

1. She’s Beautiful When She’s Angry (Mary Dore, 2014)

Dirigido por Mary Dore, “She’s beautiful when she’s angry” está disponível no serviço de streaming Netflix e trata das dificuldades e diferenças do movimento feminista da Segunda Onda. O nome já sugere uma contradição: “Ela é bonita quando está com raiva” pode referir-se à falta de credibilidade que a indignação da mulher sugere e a mania de sempre associá-la à beleza, como também pode sugerir que as mulheres são extraordinárias quando questionam o que não concordam e lutam pelo que acreditam.

E é basicamente isso que o documentário retrata. Pela voz de diversas mulheres incríveis, que iam do meio acadêmico às ruas, e sob o mote feminista “o pessoal é político”, a realidade feminina deixa de ser uma situação individual e passa a ser uma preocupação conjunta. Urge, assim, a sororidade, a luta e a resistência. Provocador e entusiasmante, salienta a importância de reconhecermos o valor das histórias e das conquistas de nossas precursoras, assim como a relevância de continuarmos questionando e debatendo nossas indignações enquanto mulheres na sociedade.

2. Curta Mulheres

O projeto Curta Mulheres, disponível no canal Hysteria, traz um curta-metragem por semana ao longo de 12 meses. Todos dirigidos por mulheres e produzidos nos últimos cinco anos. São, ao todo, 52 filmes de diretoras de todo o país. Os dois que resenhamos a seguir são os primeiros da série.

  • De Castigo (Helena Ungaretti, 2014)

Dirigido por Helena Ungaretti, o curta de 19 minutos não possui o tom questionador e político presente nos outros nomes dessa lista. Entretanto, ele apresenta, de um modo singular, o drama do jovem Felipe, que vive a insegurança de um primeiro amor, e os obstáculos de Guta, oriundos da velhice.

Com um cuidado admirável na escolha da paleta de cores e do cenário, é possível acompanhar o desenvolvimento da relação de Felipe tanto com a garota de sua escola, quanto com sua tia-avó Guta. O curta, leve e divertido, inesperadamente arranca risadas pela timidez de Felipe e pela teimosia da senhora, que, recorrentemente, recusa a ajuda do sobrinho e as tentativas da família em lhe colocar em um asilo. “De Castigo” é cativante ao ponto de, ao término dos 19 minutos, fazê-la desejar um outro curta com a mesma qualidade e harmonia.

  • Antonieta (Flávia Person, 2016)

As mulheres, por muito tempo, possuíram um papel marginalizado dentro da sociedade patriarcal. O esquecimento dos feitos e conquistas femininas é apenas um dos vários efeitos colaterais da discriminação de gênero. Por isso, o resgate da história de Antonieta de Barros, por Flávia Person, faz-se essencial como uma forma de resistência a essas correntes de esquecimento.

Nascida em Florianópolis, Santa Catarina, no ano de 1901, Antonieta cresceu para tornar-se professora, cronista, militante, feminista, escritora e jornalista, morrendo aos 51 anos, em 1952. Conquistou, durante vida, a honra de ser a primeira deputada estadual negra no país, assim como a primeira deputada mulher do estado de Santa Catarina. Os quinze minutos de duração do curta são o suficiente para lhe apresentar um pouco sobre Antonieta, que se fez resistência no começo da década de 90, assim como para lhe emocionar pela determinação que possui ao lutar pelo que acredita.

3. Codegirl (Lesley Chilcott, 2015)

Apenas 4 em 100 mulheres desenvolvem apps para celulares e apenas 7% das startups de tecnologia são lideradas por mulheres. Esses são exemplos de dados que fazem compreender a importância do Technovation Challenge, uma competição global de empreendedorismo tecnológico para garotas, na qual as equipes inscritas têm três meses para criar um aplicativo para celular que ajude a solucionar um problema em suas comunidades.

O foco de “Codegirl” é mostrar o processo de criação e produção dos aplicativos por essas garotas, mas a produção acaba retratando também o cenário enfrentado por muitas das mulheres: estudar ciências da computação ainda é visto socialmente como algo “para menino” e as oportunidades dadas para as mulheres na área da tecnologia ainda são bem limitadas, associando-as a papéis sociais e profissões outras ligadas a uma concepção pré-estabelecida de feminino. Por acompanhar uma competição global, o documentário disponível na Netflix aborda como as realidades são diferentes nos países e como os desafios em cada comunidade podem estar ligados a problemáticas sociais e necessidades básicas, como a economia de água e a produção de lixo. Uma das equipes finalistas da competição, inclusive, é de Recife!

4. Que bom te ver viva (Lucia Murat, 1989)

Em 1971, Lucia Murat foi presa e torturada por três anos por conta de seu envolvimento com o movimento estudantil. A experiência acabou convergindo para o semi-documentário “Que bom te ver viva”, com relatos de oito mulheres torturadas durante a ditadura militar intercalados por cenas gravadas com Irene Ravache.

O filme é filiado a uma tradição de documentários engajados produzidos no Brasil nas décadas de 1960 e 1970. Foi um dos primeiros a trazer para a tela de cinema a luta armada, a tortura e os assassinatos através de depoimentos reais, de mulheres que atuaram na luta armada em organizações de esquerda durante o período da ditadura civil-militar no país. Além de ser uma das raras obras centradas na perspectiva feminina da tortura, “Que bom te ver viva” vem para nos falar de testemunho e memória, entre esquecer para afastar a dor e lembrar para alcançar a justiça. Um filme que termina e permanece, fazendo pensar sobre nossos caminhos de recuperar, cada uma à sua própria maneira, os vários sentidos de viver.

5. Embrace (Taryn Brumfitt, 2016)

Taryn Brumfitt (diretora e produtora do documentário disponível na Netflix) é fotógrafa, mãe, mulher. Como qualquer mulher do mundo, ela enfrentou as mudanças corporais de estar grávida e tudo o que vem depois de dar à luz três crianças saudáveis. Seu corpo mudou completamente, de maneira que ela passou a se sentir repugnante e presa a um corpo que não parecia lhe pertencer. Vivendo o conflito entre aceitá-lo e entendê-lo ou sujeitá-lo a cirurgias, Taryn optou pela aceitação. O momento que ela fez isso foi quando postou uma foto antes e depois, da época em que ela entrou em uma competição de fisiculturismo e uma fotografia dela, nua, sem retocar nenhuma estria ou editar nenhuma gordura que ganhou depois de ter seus filhos. A imagem viralizou e, com isso, Taryn passou a receber vários e-mails de mulheres e homens que sofriam por conta da aparência de seus corpos.

É aqui que “Embrace” começa. Taryn parte em uma viagem de 6 semanas para ouvir mulheres com diferentes histórias sobre seus corpos. Suas angústias, suas vivências e, principalmente, a maneira que elas encontraram para se aceitarem. “Embrace” nos oferece uma das perspectivas mais honestas, sentimentais e ainda assim mais positivas que podemos encontrar sobre a aceitação corporal. Falar do corpo, de como nos vemos e como nos sentimos não é fácil, mas Taryn nos mostra que não somos as únicas, e que o problema nunca fomos nós, mas sim como querem que sejamos. Ela nos faz sentir envolvidas por amor e encorajamento, e nos dá uma luz a mais para nos mostrar o que deveria ser óbvio: nós somos lindas do nosso próprio jeito.

6. Vestidas de noiva (Fabia Fuzeti e Gabi Torrezani, 2015)

“Amor!”

“Oi.”

“Ah, eu tava pensando. Já que você veio morar comigo e agora a gente pode, você não acha que seria uma boa ideia a gente casar?”

Fabia e Gabi se casaram em 2014 e, além da cerimônia, decidiram fazer um filme sobre o histórico do casamento homoafetivo no Brasil. A narrativa entrelaça a própria história de amor com a de outros casais e depoimentos de ativistas dos movimentos LGBT, personalidades políticas e outras figuras engajadas nessa luta. “Vestidas de Noiva” é um filme que mais do documenta a situação da união que hoje é garantida judicialmente na prática, mas não é assegurada em lei, como é um instrumento de visibilidade que celebra as conquistas já alcançadas e aponta o que ainda precisa ser feito. No canal no Youtube, estão disponíveis, além da versão original do documentário, uma versão acessível em libras e as entrevistas completas.As diretoras também mantém a página no Facebook frequentemente atualizada com questões LGBT pelo mundo.

7. Tão longe é aqui (Eliza Capai, 2013)

Eliza Capai é jornalista formada pela ECA/USP e, como correspondente internacional, já produziu em mais de 25 países. Desde 2001, dirige documentários com temáticas sociais e de gênero. Em 2013, Eliza lançou seu primeiro longa, “Tão Longe é Aqui”, no Festival do Rio com prêmio de Melhor Filme na Mostra Novos Rumos. O documentário, aliás — como não poderia deixar de ser -, foi premiado em todos os festivais nacionais e internacionais dos quais participou. Atualmente, é exibido pelo Canal Curta e está disponível no Vimeo.

O documentário, como consta no site da jornalista, “é uma reflexão sobre o que é ser mulher hoje a partir de uma viagem pela África”. “Tão longe” foi realizado entre vários caminhos e mãos, produzido graças a um financiamento coletivo e narra os caminhos que Eliza percorre em uma jornada que levou quase sete meses pelo continente africano, em 2010. Ela conta suas memórias da longa viagem em uma carta para a filha, falando sobre os encontros que teve com mulheres do Marrocos, Cabo Verde, Mali, Etiópia e África do Sul. Entre sonhos e realidades, a jovem mulher prestes a fazer 30 anos, tão corajosa de andar sozinha com duas grandes mochilas por lugares, vivências e línguas, aos poucos vê seu ideal romântico de encontrar raízes próximas se desvanecer quando é sempre comparada com os brancos colonizadores. Na viagem de descobertas internas, Eliza também nos traz importantes reflexões sobre a situação das mulheres pelo mundo, e esses são apenas os primeiros traços de um filme que você com certeza precisa assistir.

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