#MídiumFérias
A arte que você ainda não viu
Projeto revela o trabalho de artistas locais e discute novos métodos de produção artística
Por Débora Vieira, Vitória Queiroz e William Barros
Ar-te
Substantivo feminino
Atividade humana ligada a manifestações de ordem estética, produzida a partir de percepções, emoções e ideias
Re-ve-lar
Verbo transitivo
Mostrar, fazer conhecer, divulgar, propagar
Dentro da chamada indústria cultural, a divulgação de produções artísticas sempre esteve intrinsecamente ligada aos veículos de comunicação de massa — rádio, televisão, cinema e jornais. Até o início do século XXI, o filtro daquilo que devia ou não ser apresentado ao público estava restrito ao controle dos pequenos grupos que administravam os meios de comunicação. Com a popularização da internet, o filtro citado anteriormente se dissipa e abre-se espaço para novos artistas, para novos métodos de produção e para novos discursos. É justamente na tentativa de entender essas transformações que surge o projeto audiovisual Revelar-te.
Além de apresentar ao público o trabalho de artistas cearenses que atuam de forma independente, o programa pretende mostrar quais mecanismos têm sido utilizados para vencer as barreiras da invisibilidade midiática. Outro objetivo do projeto é descobrir como indivíduos que compõem minorias sociais — negros, mulheres e LGBTQ+ — expressam nos seus trabalhos as questões inerentes às suas existências.
Nos três episódios lançados no YouTube, a iniciativa revelou as artes do conjunto musical Projeto Noodles, do escritor Isaac Morais e da artista plástica Bia Soares. No Instagram, o público também pode conferir o material derivado dos vídeos.O significado de arte, a importância dessa atividade nas suas vidas, os processos de trabalho, as trajetórias e as expectativas para o futuro foram algumas das temáticas abordadas pelos entrevistados. Abaixo, confira mais informações sobre os episódios e conheça “a arte que você ainda não viu”.
Projeto Noodles e a arte que é resistência
“A gente não tem dinheiro, mas a gente tem força de vontade, criatividade e pessoas para nos ajudar”, reflete Natan Gomes, vocalista do Projeto Noodles. Surgido das rodas de violão ocorridas no Centro de Humanidades da Universidade Federal do Ceará (UFC), o conjunto musical já atua desde 2016. Suas canções misturam MPB, pop, rock, samba, reggae e batida eletrônica, com influências que vão de Linn da Quebrada a João Bosco.
No programa, o guitarrista Bruno Viana, a performer Caironi Ramos e o vocalista Natan Gomes explicam o significado do nome da banda e revelam detalhes do processo de compor em grupo. Além disso, refletem sobre as dificuldades enfrentadas durante suas produções e discutem a conexão com o público. O grupo também performa a canção Meu corpo. A trilha sonora do vídeo fica por conta de Presa, a faixa mais conhecida da banda.
Isaac Morais e a arte que ninguém vive sem
Para ele, “não tem como alguém viver sem arte”. Além de estudar Psicologia na UFC, Isaac Morais se destaca como escritor de microcontos. Influenciado por autores como Clarice Lispector e Machado de Assis, já escreve desde os 14 anos. Nos seus textos, os questionamentos pessoais, a temática LGBTQ+, a religiosidade e os relacionamentos familiares são abordagens presentes. Em 2017, ele alcançou por duas vezes a segunda colocação no Prêmio Escambau de Microcontos.
No episódio, o autor contou sobre seu processo de escrita durante as madrugadas de insônia, refletiu sobre o papel da subjetividade na arte e discutiu a importância da escrita em sua vida. Além disso, revelou a possibilidade de escrever um livro no futuro. Durante o programa, o microcontista também apresentou alguns de seus textos: Lavatório, Disputa, Resposta e Revoar pétalas.
Bia Soares e a arte que não tem interpretação certa
“Eu posso pintar um círculo e você achar que aquilo é um quadrado lindo. Isso que é o mais bacana: não tem interpretação certa na arte”, é o que ressalta a artista plástica Bia Soares. Ela tem se destacado na pintura desde os 14 anos de idade, quando passou a vender seus quadros informalmente. Em 2018, suas obras chegaram a exposições como Casa Cor e Cow Parade. Influenciada por Iris Apfel, Frida Kahlo e Tarsila do Amaral, retrata com frequência a figura feminina em seus trabalhos.
No episódio, a pintora refletiu acerca do momento que vive em sua carreira e destacou a importância do apoio familiar. Ela também elencou seus objetivos como artista, revelou as expectativas para o futuro e mostrou algumas de suas obras.
Descobrir o trabalho de jovens artistas é também deparar-se com questões relativas à representatividade, uma discussão extremamente necessária no momento político atual. Acima de tudo, revelar a arte desses indivíduos é entrar em contato com as suas vivências e com o seu mais íntimo desejo de comunicar. Conhecê-los e ouví-los pode conduzir à reflexão da importância e do significado que o fazer artístico recebe no atual contexto. E eles mesmos respondem: fazer arte é gritar, é fugir, é enfrentar barreiras, é questionar, é ressignificar e, claro, é resistir.