A ausência de Anitta

Artista não foi indicada ao 18º Grammy Latino, mas é figura importante na música e com carreira em ascensão internacional

Marília Abreu
Mídium - Comunicação em Movimento
5 min readNov 16, 2017

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Premiação musical mundialmente reconhecida, o Grammy Awards acontece anualmente em duas versões. O Grammy Awards premia as produções artísticas em língua inglesa, enquanto o Latin Grammy Awards (Grammy Latino, em português), as obras em línguas espanhola e portuguesa. A 18ª edição da entrega dos prêmios referentes à música latina acontece hoje, 16, no Mandalay Bay Convention Center, em Las Vegas.

Quando divulgada a lista de indicados, no dia 26 de setembro, muitos notaram a ausência da cantora brasileira Anitta. Nas redes sociais, logo surgiu o questionamento do possível esquecimento de um nome de enorme destaque no cenário nacional. Como não lembrar de Anitta, tão marcante nos últimos anos?

Publicação de Anitta no Instagram sobre o Dia Internacional da Favela, em 2016. Fonte: Reprodução/ Instagram

Discussão similar já havia sido suscitada à época do Rock in Rio 2017, quando o empresário e criador do evento, Roberto Medina, em entrevista à Folha de S. Paulo, apontou que o estilo musical da cantora, o funk, “não se encaixava” no festival, a princípio. Mas o que realmente significa se encaixar em um festival que traz artistas de nichos tão diversificados?

No caso do Grammy Latino, porém, as circunstâncias são outras. Músicos de nicho próximo tiveram as obras lembradas pela Academia, como a cantora Ludmilla, com a indicação à categoria de melhor álbum de pop contemporâneo em Língua Portuguesa, e artistas que já colaboraram musicalmente com Anitta, como Maluma — que acumula sete indicações nesta edição do prêmio — e Simone & Simaria, dupla sertaneja que foi indicada a melhor álbum de música sertaneja. Além disso, a cantora já recebeu duas indicações, uma no ano de 2014, por Zen, em melhor canção brasileira, e outra por Pra Todas Elas, parceria com Tubarão e Maneirinho na categoria de melhor música urbana, em 2016.

A dupla sertaneja Simone & Simaria e Anitta, no videoclipe Loka. Fonte: Reprodução/ Youtube

Versátil, a produção musical da cantora não se restringe a estilos musicais específicos, embora tenha fortes raízes no funk. Ela figura em diferentes espaços musicais, com produções e colaborações que vão desde a música sertaneja, passando pelo pop e indo até a MPB, como a apresentação na abertura das Olimpíadas em 2016, no Maracanã, com Caetano Veloso e Gilberto Gil. Uma de suas parcerias, Loka, com Simone & Simaria, é um dos vídeos mais vistos do Youtube no Brasil, acumulando cerca de 486 milhões de visualizações na plataforma. Já em relação aos seus vídeos solo, esse número é variável, destacando-se videoclipes como o da música Paradinha, com 208 milhões, e o de Bang, com 325 milhões.

Tendo iniciado sua carreira há alguns anos, ela vem percorrendo longo caminho para se consolidar como artista e é responsável, atualmente, por empresariar a si mesma. No ano de 2013, emplacou Show das Poderosas, música e clipe que foram sucesso por todo o país. Desde então, lançou quatro álbuns, sendo o último em 2015, Bang. Investiu também em colaborações internacionais, como Switch, com a australiana Iggy Azalea, e dá prosseguimento ao projeto Checkmate, no qual o objetivo é lançar um clipe a cada mês, podendo ser a música em inglês, espanhol ou português.

Anitta divulgando o projeto Checkmate, no qual tem parceria com a loja de roupas C&A. Fonte: Reprodução/ Instagram

Nesse processo de consolidação artística, Anitta passou a figurar com bastante frequência no cenário musical nacional. Ela se mostra constantemente engajada na defesa de suas raízes, como quando se posicionou contra o projeto de lei que visava criminalizar o funk, no Twitter. Por outro lado, percorre o caminho para difundir a música brasileira em seus diversos aspectos e ritmos para o exterior — a música Will I See You, lançada no mês de setembro em parceria com PooBear e cantada em língua inglesa, lembra musicalmente o estilo da Bossa Nova, sucesso nos anos 60 no Brasil.

Ao ocupar diversas frentes artísticas, o fato de não ter sido indicada na 18ª edição do Grammy pode ter causado impacto nos fãs, mas não em igual proporção na consolidação da carreira da cantora.

Anitta continua a aparecer em paradas nacionais e internacionais e a ter a oportunidade de dar visibilidade ao que acredita, oferecendo espaços sem barreiras para qualquer um que queira trabalhar e seja talentoso, como representa sua equipe de ballet atual, que inclui um dançarino com Síndrome de Down e duas dançarinas com deficiências físicas.

Convém, também, lembrar que embora figura pública, ela é humana, estando suscetível a cometer equívocos e a aparecer em episódios controversos. O videoclipe de Is That For Me?, lançado no mês passado com o DJ sueco Alesso, foi alvo de questionamentos por muitos ao mostrar uma visão da Amazônia que pode ser associada ao colonialismo e à catequese dos indígenas no Brasil.

Em meio a todo esse cenário, Anitta não parece ter medo de experimentar, se arriscando a cantar em outros idiomas, produzir novos materiais a cada mês e até mesmo trazer a tona a possibilidade de criar um evento musical com espaços para todos os ritmos, incluindo os marginalizados, de acordo com o colunista Ancelmo Góis, do jornal O Globo.

Apesar de não ser sempre reconhecida em eventos como o Rock In Rio ou o Grammy, a artista não fica para trás, provando suas habilidades como administradora formada e manejando sua carreira com pulso firme e muita criatividade, ao mesmo tempo em que parece percorrer o caminho para se tornar uma artista completa, entre erros e acertos.

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Um agradecimento especial a Catalina Leite, pela ajuda na redação desse texto.

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