Conexão com o mar, a mente e o espaço

Saímos pela orla de Fortaleza em busca de histórias do surf e encontramos Larissa Mesquita, jovem gaúcha apaixonada pelo esporte e pela cidade

Equipe Mídium
Mídium - Comunicação em Movimento
5 min readMar 20, 2018

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Por Lucas Freire Falconery e Zeca Lemos

Entre as diversas formas de se apropriar da orla alencarina está o surf, prática cotidiana na cidade | Foto: Lucas Freire Falconery/Equipe Mídium

A orla de Fortaleza reúne pessoas de toda a cidade com os propósitos mais variados. Enquanto algumas optam por fazer uma caminhada, frequentar bares e passear pela feira de artesanato da região, outras preferem mergulhar nas águas e desfrutar da imensidão do mar. E são nessas ondas que muita gente encontra a matéria-prima para uma prática cotidiana na cidade: o surf. Qual seria então, a relação dos surfistas com esse espaço e como a cidade colabora para essa experiência?

Fortaleza possui diversos locais para a prática de surf e iniciativas como as presentes no Titãzinho, por exemplo, já revelaram vários nomes de destaque do surf, como Tita Tavares, Lucinho Lima, André Silva e o bicampeão mundial Pablo Paulino. Há ainda, escolinhas especializadas para quem tem o interesse de iniciar no esporte e muitos pontos para quem só quer pegar uma onda.

Entre as praias da orla de Fortaleza, as preferidas para o surf são: Mucuripe, Titãnzinho, Futuro e Sabiaguaba | Imagem: Reprodução/Ceará Cultural

Na Praia do Mucuripe, localizada na direção leste do calçadão da Avenida Beira Mar, concentram-se muitos surfistas; é lá onde Larissa Mesquita, 18, encontra a sua conexão com a natureza. Praticante do esporte desde seus oito anos, ela conta sua relação com o esporte, os benefícios da prática e como essa atividade influencia sua visão sobre a vida e sobre a cidade.

O interesse de Larissa pelo mar despertou-se cedo e, ao ganhar uma prancha do pai, ainda criança, começou a se aventurar no surf. Vendo surfistas profissionais, seu desejo foi crescendo e passou a adotar a prancha de quilha, para garantir maior estabilidade de sustentação. A surfista dedicou-se ao aprendizado, na maior parte do tempo, sem ajuda de professor e, até hoje, prefere entrar no mar sozinha. Ao falar sobre o motivo, Larissa diz:

“O surf para mim é como se fosse uma terapia; no momento que estou ali, sou eu e o mar. É um momento de crescimento, de conexão, é especial. Não tem palavra que diga o quanto é especial.”

Aloha é um estado de espírito baseado em compartilhar boas energias. É assim que Larissa Mesquita se sente quando entra no mar | Foto: Zeca Lemos/Equipe Mídium

Sobre os benefícios do esporte, Larissa diz que eles vão além do físico. Comparando ondas grandes às situações cotidianas difíceis de lidar ela fala sobre as transformações em sua vida quando começou a evoluir no esporte. “Eu vi que eu sou mais capaz, eu sou capaz de fazer uma coisa se eu me dedico muito. Então… Isso é transformador, sabe? Essa capacidade de poder experimentar desafios.”, relata.

Larissa, que é gaúcha, comenta que não consegue surfar em Porto Alegre como na capital cearense por não conhecer bem a região, pelos cuidados com a reprodução de animais ou mesmo pela presença de tubarões. Afirma que possui uma relação única com Fortaleza, e a vê como uma cidade inspiradora, de beleza única. Porém, pontua: “Se a cidade fosse mais conservada, eu seria apaixonada por completo. Infelizmente não é, né?”.

A gaúcha vê o acúmulo de lixo nas adjacências do mar como um grave problema não apenas para os surfistas, mas para toda a comunidade que frequenta as praias. Triste, relata que, muitas vezes, o mar sujo faz a sua experiência de surfar ser ruim. Para ela, respeitar o ambiente frequentado faz parte da filosofia de essência do surfista. Mesquita atenta que ser surfista não é apenas praticar o surf, mas ter sentimento de respeito pelo espaço do mar e da praia.

“Surfista não é aquele que apenas surfa, é aquele que valoriza o lugar que frequenta. Tem que haver respeito pelo mar. Eu chego lá, deixo minhas pegadas e ainda vou sujar? Isso é muito triste!”, afirma.

O surf enche os olhos e a alma das pessoas que o praticam, fazendo com que elas sintam-se parte do espaço | Foto: Lucas Falconery/Equipe Mídium

Ainda sobre o problema do lixo nas praias, ela reconhece que o Poder Público também tem sua parcela de culpa na situação. O principal fator que gera o acúmulo de resíduos é a ausência de lixeiras, conforme a entrevistada. Isso faz com que pessoas sem respeito pelo ambiente descartem o lixo de forma indevida. “Se não tem lixeiras perto, pessoas que não têm empatia pelo mar não querem levar seu lixo e vão jogar no chão”, atenta Larissa.

Hoje, em Fortaleza, o surf é um esporte bastante popular. Pessoas de várias origens e profissões aderem à prática. Não existe restrição para surfar. “Basta querer mudar espiritualmente, porque mexe muito com o corpo e com a alma”, diz Larissa. Entretanto, existem dificuldades para se aprender a surfar, uma vez que escolas de surf possuem custos altos. Segundo o site SurfCore, referência em informações a respeito do esporte, os preços dessas instituições em Fortaleza passam dos 100 reais por mês, sem contar as taxas de matrícula. Isso dificulta que pessoas de menores condições desenvolvam seu sentimento pelo esporte. “As escolinhas de surf têm um preço muito alto, isso impede os pequenos surfistas de aprenderem e crescerem”.

Surfar está ligado à força física e de espírito. Quando se mergulha com coragem tudo vira possível. Cada onda forte representa uma dificuldade vivida e superada por quem faz parte daquilo. Quem surfa em Fortaleza não apenas pratica um esporte, vive, sente e se apropria de espaços eternos em seus olhares e visuais. O espaço da cidade, das praias e, sobretudo, da imensidão do mar. Surf é superação e transformação. E enquanto existir, vai encher os olhos e a alma de quem pratica.

Um pouco sobre a história do surf

Embora muitos não saibam, o surf é um esporte pré-histórico, praticado há milhares de anos. No ano de 1778, o capitão inglês James Cook, se deparou com as tribos indígenas polinésias e suas pranchas de madeira, sobre as quais guerreiros deslizavam sobre ondas. Aí nascia o esporte que trazia adrenalina e fascínio pelo mar.

No Brasil, o esporte começou a ser praticado nos anos 40, mas foi principalmente nos anos 70 que teve sua prática alavancada e se tornou popular. Com o tempo, começaram a surgir campeonatos e escolas de surf para a comunidade que queria adentrar e conhecer o esporte.

Em Fortaleza, a atividade começou a ser praticada na mesma época. A capital alencarina sempre foi uma cidade de destaque no esporte em âmbito nacional, uma vez que seu litoral é conhecido e apreciado por surfistas de todo o país. As águas da orla de Fortaleza são um prato cheio para quem está procurando pegar ondas fortes. A imensidão verde fortalezense continua a fascinar e a trazer cada vez mais adeptos ao surf, fazendo a cidade estar nas listas de melhores lugares para a prática.

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