Na Semana de Recepção (SDR) dos/as calouros/as dos Cursos de Comunicação Social — Jornalismo e Publicidade e Propaganda da UFC, o Mídium ministrou uma oficina, pela manhã, seguida da apresentação geral do projeto, pela tarde. Os espaços ocorreram no Benfica, Centro de Humanidades II / Fotos: Equipe Mídium/Reprodução

Especial Mídium pratica

Equipe Mídium
Mídium - Comunicação em Movimento
10 min readMar 24, 2019

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Durante a Oficina de Escrita Afetiva no Webjornalismo, a primeira ministrada pela Equipe Mídium, em 21 de fevereiro de 2019, na DESCOM—evento promovido pelo Programa de Educação Tutorial dos Cursos de Comunicação Social (PETCom) da Universidade Federal do Ceará (UFC)—os ingressantes do curso de Comunicação Social realizaram entrevistas e produziram perfis especiais para o Mídium!

Confira, a seguir, as produções dos participantes da oficina.

A importância de ser inclusivo

Como a vivência e a aprendizagem de Libras mudam a visão de mundo.

Por Livia Levinsk, Stella de Almeida e Laila Nobre

Todos temos noção de que conviver com deficiência auditiva é um desafio e que pessoas portadoras precisam de empatia, voz, respeito e acessibilidade. É nosso dever fazer com que elas se sintam confortáveis e inseridas na sociedade do melhor modo possível.

Bruno Rodrigues é graduando de Letras — Português/Francês na Universidade Federal de Fortaleza e compartilhou sobre sua experiência ao antecipar a disciplina de Libras. Perguntamos à ele o que tinha achado da cadeira e o que mudou na visão dele desde o começo ao fim do semestre.

“Me sensibilizou bastante pra questão da acessibilidade, tem um mundo de pessoas que ficam marginalizadas (…) uma parcela inteira da sociedade que não acessa a universidade, que não acessa serviços públicos, que não tem ciência dos direitos”

Bruno Rodrigues, 31 anos.

Bruno relatou também que teve uma amiga surda na infância, mas nunca havia parado para pensar no quão difícil era para ela. Apenas na faculdade, após ser confrontado com o tema, refletiu e pensou melhor. Ele disse que o professor da disciplina era surdo, e foi uma experiência que o fez sair da zona de conforto, pois a turma tinha que aprender a se comunicar com o professor.

“A questão de Libras é muito mais profunda do que só um marketing pra você fazer no dia da posse presidencial”

Bruno disse, assim, conseguiu entender melhor a importância da inclusão e da acessibilidade.

Amor de quatro patas

Por Vitória Hellen Sales, Catarina Varela Lima e Ana Beatriz Ribeiro

Gabrielle, estudante de Letras da Universidade Federal do Ceará (UFC), conta como foi encontrar o amor em um ser de quatro patas, mais especificamente na sua gatinha, Lena, animal de rua encontrada no Campus do Benfica da UFC. A entrevistada afirma que sempre gostou de animais, devido a sua experiência com um cachorro na infância. A pesar de não recordar muito bem dos momentos com o bichinho, o sentimento de afeto permaneceu gravado em sua memória, influenciando-a a adotar outro animal.

A sortuda foi Lena, uma gatinha que vivia perto do prédio de Jornalismo da UFC. Resgatada por Gabrielle e seus amigos, ela teve a oportunidade de ganhar um lar, afeto e cuidados de seus dedicados tutores. Apesar dessa felicidade, a gatinha ainda não se adaptou por completo ao seu novo lar, masjá demonstra amor pelos seus tutores.

“Apesar de ela ser um pouco afastada, eu ainda gosto muito dela, ainda a amo do mesmo jeito. Algumas vezes ela chega e deita perto de mim com uma expressão de ‘não me toque, eu só quero ficar deitada aqui’, mas é muito legal porque eu penso ‘ai meu Deus, ela tá deitada perto de mim, ela me ama!”

Quando questionada sobre suas ideias quanto a adotar ou comprar animais, Gabrielle afirma com convicção que o amor vindo de qualquer um, seja de raça ou não, é o mesmo.

Além disso, a estudante pede para os que estiver pensando em ter um animal em casa optarem pela adoção. Já que muitos abrigos estão lotados de bichinhos ansiosos por um lar e não têm recursos suficientes para cuidar de todos eles.

A história de amor entre a Gabrielle e Lena exemplifica as vantagens da adoção e os porquês dessa ação ser tão necessária para ajudar os animais e as organizações que cuidam deles, como a Animais UFC e o Abrigo Animais Aumigos. O adotante também se beneficia, visto que ter um animal em casa eleva a autoestima, aumentando a produção do hormônio da felicidade e ajudando a evitar o isolamento — uma das causas de depressão.

Em suma, o amor incondicional entre animais e tutores é um sentimento que todos os indivíduos deveriam sentir e levar como aprendizado. Concebendo a mesma ideia de afeto que os animais demonstram a qualquer ser, sem olhar a cor, o gênero ou a sexualidade, pois esse é o amor na sua forma mais pura.

Ofícios que cativam

Por Rogério Bié, Bergson Araujo e Ely Eulle

“Trabalho como vendedor ambulante na UFC há 15 anos e sabe o que me motiva a não sair daqui? Já tenho 10 placas em minha homenagem feitas pelos alunos e alguns até me chamam de pai.”

Aos 46 anos, Sr. Rui mais uma vez vendia café, doces e salgados no Centro de Humanidades I, da Universidade Federal do Ceará. Há 15 anos como vendedor ambulante, esse trabalho foi herdado de seu pai, que aprendeu a amar como parte de sua identidade.

“De início, o reitor da universidade pediu que o meu pai montasse uma banquinha aqui e eu, como não gostava de ficar sem o que fazer, comecei a ajudar também. Com o tempo, tomei de conta e hoje até meus filhos já trabalharam aqui também. Não troco isso por nada.” conta Sr. Rui, antes de vender uma carteira de cigarro para um de seus clientes fiéis.

Sr. Rui trabalha, de segunda a sexta, numa jornada diária de 12 horas.

Quando perguntado sobre sua relação com os estudantes e com a universidade, a resposta é simples e direta: “Uma das melhores coisas que vou levar daqui com certeza é amizade. Eu guardo mochila, arrumo dinheiro para o R.U, se alguém esquece o celular, alguém vem e me comunica; e até já troquei pneu de carro.” relata com uma gargalhada.

Ele também relata que a maior dificuldade é no período de férias, quando tenta procurar algo a mais para trabalhar.

Ao ser questionado se ainda existe algum sonho que ele gostaria de realizar, ele responde sem hesitar: “Hoje posso abrir a boca e dizer que consegui tudo o que eu queria. Tenho 2 filhos gêmeos que hoje já estão no ensino superior. Eu nunca quis fazer faculdade e uma coisa que me marca é que na rua ninguém tem amigo, mas que aqui na universidade eu tenho certeza que tenho.” encerra.

“Eu tive uma livraria por 16 anos mas infelizmente tive que fechar. Hoje eu mostro meus livros aqui e estar cercada por esse ambiente cheio de conhecimento é o que me mantém viva.”

Dona Elisa Mariana, de 59 anos, conta um pouco de sua história de vida enquanto arruma os livros atrás de sua banca improvisada.

Elisa Mariana trabalha no Centro de Humanidades da UFC algumas vezes ao ano.

Trabalhando periodicamente como vendedora ambulante na UFC, ela conta que isso não é algo que ela faz fixamente. “Às vezes venho porque eles me chamam, quando tem um evento…às vezes por necessidade mesmo”, diz.

Ao ser indagada sobre uma grande aspiração que ela ainda tem, rapidamente responde:

“Ter minha livraria de novo, com certeza. É o que eu gosto de fazer e é o que eu vou continuar fazendo, não importa onde eu esteja.”, conta.

O uso excessivo do plástico pelos brasileiros

Por Raquel Aquino, Suianny do Amaral e Marcelo Henrique da Silva

Cada vez mais a temática ambiental e a problemática do lixo conquistam visibilidade na mídia, devido à sua produção gradativamente maior nos meios urbanos e seus prejuízos consecutivos. Entre os materiais mais descartados está o plástico, que é muito difícil de ser degradado na natureza e é encontrado no dia a dia de qualquer pessoa .

Segundo uma pesquisa realizada e publicada pela Science Advances, em 2017, durante a década de 1950, estima-se que 2 milhões de toneladas de plástico eram descartadas por ano no mundo, mas, em 2015, novas pesquisas indicaram que essa quantidade ultrapassa 400 milhões e apenas 9% desse resíduo é destinado à coleta seletiva, sendo 12% incinerado e quase 80% acumulado em aterros sanitários.

Paula Larisa Mesquita Freitas cursa Psicologia na Universidade Federal do Ceará (UFC) e costuma ter acesso a informações sobre o plástico e seus impactos através da Internet. Com isso, ela tenta usar o material de forma mais consciente, por exemplo, reutilizando a garrafinha de água mineral que ela costuma comprar com frequência.

Ela não possui o costume de utilizar canudos, ação que atribuiu à publicidade ultimamente feita de preservação da vida de animais, especialmente aquáticos, que estão sendo prejudicados devido ao lixo que chega até os oceanos.

Mesmo se policiando, ela reconhece que ainda descarta sacolas plásticas na rua.

A indústria alimentícia, muitas vezes, como proteção para seus alimentos, produz embalagens que são total ou parcialmente feitas de plástico, fazendo com que o consumidor não tenha “opção” quanto ao consumo do produto.

Paula mencionou que as embalagens de comida são os materiais com o qual ela tem mais contato com o plástico, além das garrafinhas PET. Por vezes, ela acaba esquecendo ou perdendo garrafas d’água e precisa substituí-las. Levando em conta que essa troca possui uma certa frequência, acaba que não é uma vantagem financeira e ambiental adquirir uma garrafa de outro material.

Muitas pessoas, incluindo Paula, buscam digitalmente postagens a respeito do plástico, pela vasta gama de conteúdo e informações que várias plataformas disponibilizam.

“Eu diria que eu tenho mais contato na internet, principalmente com essa ‘vibe’ dos animais que são encontrados com vários plásticos dentro deles…”

Assim como Paula, algumas pessoas acreditam que uma maior disponibilidade de lixeiras de coleta seletiva espalhadas em áreas públicas iriam, de certa forma, contribuir para que as pessoas realizassem o descarte correto. Dessa forma, os resíduos não chegariam em locais inadequados, não prejudicando, assim, os animais e o meio ambiente como um todo.

Autoconhecimento e identidade

Por Guilherme Sampaio

A discussão de questões sociais que envolvem raça, gênero,sexualidade, por exemplo, não é costumeira no ambiente familiar, principalmente em núcleos familiares tradicionais. A falta desses debates pode inibir o desenvolvimento de uma consciência social e atrapalhar processos de autoconhecimento. Felizmente, alguns espaços podem suprir essa falta

Gabriel é estudante de Psicologia, curso que integra o Centro de Humanidades 2 da Universidade Federal do Ceará, UFC, e atualmente cursa o sexto semestre. É membro do Centro Acadêmico Fátima Sena, entidade de representação estudantil do seu curso, e participa do Centro de Orientação Sobre a Morte e O Ser (COSMOS).

Gabriel teve acesso à Universidade por meio do sistema de cotas, apresenta vulnerabilidade socioeconômica e ressalta a luta diária que é permanecer na Universidade:

“Eu sou do sexto semestre, e cada semestre que eu passo aqui é uma vitória, pois eu não sei se eu vou ter dinheiro pra estar aqui no próximo”.

Gabriel relata as nuances de seu processo identitário e de sua permanência na Universidade.

Nesse contexto, o jovem comenta sobre a importância da Universidade no seu processo identitário, onde passou a entender a sua negritude e sua homossexualidade. Gabriel explica que a falta de representatividade negra sempre foi uma constante em sua vida. Mesmo com pai negro em casa, a figura paterna nunca foi uma referência em negritude para o rapaz. Reflexões sobre o que é ser negro e o aprendizado sobre a cultura negra vieram em decorrência:

“Meu cabelo não era cacheado, ele era cortado muito curto pois eu nunca tinha experimentado deixar ele crescer, eu achava que ia ficar muito feio. Eu só resolvi assumir meus cabelos enquanto cacheados quando eu entrei aqui, foi quando eu aprendi sobre essas questões e assumi minha identidade negra”.

O estudante desabafa sobre o desafio de ser LGBT e negro, aumentando as opressões que precisa enfrentar. Ele relata a existência de uma forte cultura de valorização dos corpos padrão, o estereótipo branco, belo e másculo dentro da comunidade LGBT, o que influencia em como as relações afetivas são construídas:

“Corpos negros não são priorizados em relacionamentos, são sempre ou estereotipados, por questões como as genitálias, ou então eles não são opções para estar em um relacionamento”

O racismo praticado diretamente ao estudante nunca foi uma realidade. Gabriel conta que sofre pela maneira como a sociedade está organizada, sendo permeada pelo racismo estrutural, o que o atinge por ser um fator que gera sofrimento a pessoas próximas ao jovem:

“Se a gente for pegar a lógica do colorismo, o meu tom de pele é muito mais claro do que os negros que tem a coloração mais forte, e as pessoas que tem a coloração mais escura vão sofrer mais preconceito, por conta do racismo estrutural”

Gabriel também comenta sobre outro tipo de preconceito, relatando, agora, suas vivências como pessoa gorda, como se declara. O acadêmico em psicologia explica que apesar de ser um assunto complicado para ele, tenta não se deixar afetar tanto, afirmando também que o seu peso nunca foi um fator que o levou a ser excluído em seu círculo social.

“Eu tento muito consumir coisas que me motivem a me ver como uma pessoa melhor, como uma pessoa também bela, como um corpo belo”

Em sua primeira oficina realizada, o Mídium proporcionou uma forte troca de experiências com os graduandos dos primeiros semestres do curso de Jornalismo da UFC.

Esse é um aspecto a ser desenvolvido no projeto ao longo dos próximos semestres. Acompanhem!

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Equipe Mídium
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Um movimento de experiências em comunicação, integrado por estudantes de Jornalismo da UFC. Assine nossa newsletter: http://tinyletter.com/midium