Banda curitibana Mulamba busca disseminar a independência e a valorização das mulheres | Imagem: Divulgação/Hai Studio

Quem é essa mulher na tela?

Sete videoclipes que demonstram o empoderamento feminino

Equipe Mídium
Mídium - Comunicação em Movimento
7 min readSep 11, 2018

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Nos fones de ouvidos, nos estéreos, na rádio ou na televisão, a música faz parte do cotidiano das pessoas. Ela tem o papel primordial de entretenimento, servindo entre outras coisas como uma fuga da realidade. Porém, também pode ocupar uma posição de formadora de opiniões, especialmente quando apresentada em produtos audiovisuais.

Algumas faixas, juntamente com seus videoclipes, trazem percepções e opiniões que estão diretamente ligadas às vivências dos artistas que desenvolveram esses trabalhos. Hoje, muitas obras problematizam realidades que são pouco ou nada debatidas na grande mídia, mostrando que a ligação entre a arte e a contestação deve existir e ser presente.

Na indústria fonográfica, é recorrente uma hiperssexualização da figura feminina, principalmente, mas não exclusivamente, em videoclipes de artistas do gênero masculino. O corpo feminino é objetificado e a mulher é reduzida à “função” de atender aos prazeres sexuais do homem. Essa imagem é construída a partir da forma como os clipes são produzidos, daquelas que aparecem em cena, dos figurinos que estas utilizam e da forma como protagonizam as personagens.

Segundo estudos do pesquisador Thiago Soares, baseados na análise do clipe I’m a Slave 4 You da norte-americana Britney Spears, o campo da mídia se utiliza de um corpo feminino exorbitante e glorioso como forma de ganhar visibilidade e, consequentemente, lucro. Dessa forma, as indústrias fonográfica e midiática constroem uma ideia na sociedade de que é necessário estar no padrão de corpo sarado e esculpido para conquistar a aceitação das pessoas.

Por outro lado, têm surgido artistas que dedicam seus trabalhos à construção de produtos que priorizam as mulheres, proporcionando a abordagem de temas como sororidade, expressão sexual e empoderamento coletivo em suas letras e clipes. Dessa forma, buscamos dar voz a esses artistas em nossa lista. Abaixo, você confere 7 videoclipes que controvertem os desafios enfrentados pelas mulheres numa sociedade patriarcal e a superação destes obstáculos, bem como possibilitam uma visão de união e sororidade.

A revolução será crespa doa a quem doer

Tássia Reis — Ouça-me

A história de vida de Tássia Reis é a mesma de muitas mulheres que não conseguem se encaixar no padrão estético dominante no Brasil. Cercada por angústia e choros, foi por meio da música, em especial Ouça-me, e da dança, que a artista encontrou uma maneira de desabafar e extravasar toda a repressão que sentia.

Tanto no vídeo quanto na letra, Tássia busca enaltecer as singularidades — que não são defeitos — da cultura negra e libertar-se da história racista que ainda existe. A composição se constrói como um pontapé de uma revolução, a qual tem como lema “Não toleramos mais o seu xiu”.

Mc Soffia — Menina Pretinha

Ainda nessa temática, a pequena Mc Soffia discute a grave distorção social causada pela padronização de um ser ideal nas crianças negras. Em seu clipe Menina Pretinha, Soffia declara “Barbie é legal, mas eu prefiro a Makena africana” como forma de mostrar a importância da representatividade para o processo de autoaceitação.

Repleto de dançarinos infantis e gravado na Pedra do Sal, região carioca conhecida pela histórica ligação com a população negra, o videoclipe tem o intuito de rebater a frequente diminuição da autoestima das meninas. Quando Soffia fala “Exótica não é linda, você não é bonitinha, você é uma rainha” e protagoniza uma cena de desfile com os outros participantes, cada garota consegue compreender que é preciso sentir-se bonita como é e que é possível estar em espaços antes protagonizados por modelos padrões.

Mulher, a culpa que tu carrega não é tua

Ekena — Todxs Putxs

Em Todxs Putxs, Ekena convida mulheres a se unir e batalhar juntas contra as diversas problemáticas enfrentadas pelo simples fato de serem mulheres. O receio de ir à rua, a pressão por não seguir determinado padrão de beleza e os estereótipos negativos “que o homem criou pra te controlar” estão entre os tópicos pautados na canção.

No vídeo, a cantora dança e interpreta angústias. A obra apresenta também atrizes com manchas roxas pelo corpo que representam agressões físicas, e cenas de violência são simuladas. Mãos tentam tocar e agarrar seus corpos enquanto elas lutam contra as agressões. A seguir, Ekena e as outras mulheres se despem de roupas, acessórios e trejeitos, mostram quem são, humanas que precisam de respeito, de liberdade e de direitos iguais. Ao fim do vídeo, há uma sensação de liberdade conquistada, com um grande sorriso de Ekena na última cena.

Mulamba — P.U.T.A

Dentro do mesmo assunto, o vídeo de P.U.T.A é protagonizado apenas pelas artistas da banda, que performam a canção com tenacidade, buscando passar a ideia de sofrimento por meio dos vocais e dos movimentos corporais. Apesar de ser uma produção simples, o vídeo em preto e branco emana revolta e perturbação, sensações costumeiras nas vidas de mulheres.

A canção não segue uma estrutura pré-definida e mais parece um fluxo de denúncias das incertezas e violências do dia a dia de ser uma mulher, incluindo letras “vingativas” como forma de revogar estas adversidades. “Eu às vezes mudo o meu caminho / quando vejo que um homem vem em minha direção / Não sei se vem de rosa ou espinho / Se é um tapa ou é carinho / O bendito ou agressão”. Um ponto alto da faixa é o uso de violoncelo para criar um som similar ao das sirenes de viaturas policiais.

Curvem-se, encostem os lábios na flor

Karol Conká — Lalá

Produzido por uma equipe composta por mulheres, o videoclipe de Lalá, de Karol Conká, se utiliza de vários elementos visuais para referir-se ao sexo oral feminino. Karol explicou em uma publicação no Facebook que escreveu a música “na intenção de informar as pessoas da necessidade da prática e da técnica do sexo oral na mulher”.

Nas letras, a cantora pleiteia a falta de técnica de alguns homens no sexo oral e a arbitrariedade de, na maioria dos casos, apenas o homem receber prazer durante o ato sexual. “Ele disse por aí que era o tal / Pega geral e apavora / Seduzi pra conferir / E percebi que era da boca pra fora”, canta. Ainda, ela pauta os fatores que podem ser mais prazerosos para as mulheres durante o sexo oral. Descortinando o sexo oral, muitas vezes considerado um tabu, Karol transmite uma mensagem importante e válida de maneira criativa, chamativa e empoderada. “Direitos de prazer iguais, mais compreensão”.

Vou encontrar a saída porque eu sou dona da minha vida

Rouge — Dona da Minha Vida

Separadas desde 2006, as integrantes do grupo Rouge voltaram ao cenário musical no fim de 2017. Dona da Minha Vida, faixa que recebeu um videoclipe em agosto de 2018, pauta a superação após um período de grandes impasses sofridos por mulheres. No vídeo, Aline Wirley, Fanthine Thó, Karin Hils, Li Martins e Lu Andrade se juntam a várias outras mulheres para cantar e mostrar que juntas são mais fortes.

Pregando o empoderamento e a independência feminina perante aos homens, o grupo compõe um clipe que enaltece o poder da mulher como se falassem para cada uma delas. Em algumas partes, usam branco; em outras, estão no topo de um prédio, com as mãos dadas, demonstrando força e união.

Francisco, el Hombre — Triste, Louca ou Má

Triste, Louca ou Má faz parte do primeiro álbum da banda brasileira Francisco, el Hombre e ganhou um videoclipe em outubro de 2016. Gravado em Cuba durante a turnê #VaiPraCuba, o vídeo contém a participação de mulheres que fazem parte do grupo de dança contemporânea Danza Voluminosa. Nas cenas, as dançarinas executam a coreografia em uma mansão.

A faixa tem em sua composição a rejeição da “receita cultural do marido, da família” e uma inquietação frente aos padrões sociais submetidos às mulheres. Juliana Strassacapa, membro da banda e vocalista principal da faixa, afirma que o título da faixa deriva do termo “sad, mad or bad”, utilizado nos Estados Unidos para rotular mulheres que vivem sozinhas, culpando-as por serem “tristes, loucas ou más” a ponto de afastar as pessoas. Juliana reitera que a canção é sobre mulheres que se libertam de enquadramentos e lidam com comentários depreciativos. Em entrevista para o portal Catarinas, a cantora comenta:

“Pensei em algo para empoderar, para dizer ‘não preciso me enquadrar em tudo isso, posso fazer o que quiser da minha vida, não dependo do outro para ser’”

Bônus track

MC Tha — Bonde da Pantera

A música de MC Tha pode criar ou até mesmo se encaixar na categoria indie funk. Misturando a potência das batidas do funk e uma melodia mais lenta, acompanhando o cantar da letra, a paulistana fala sobre liberdade. O vídeo tem uma estética forte e delicada e aborda a sensualidade feminina, frequentemente deixada de lado em virtude do prazer do homem.

Além disso, a cantora é uma das principais revelações do novo funk brasileiro, o qual tem se misturado cada vez mais com o pop e ritmos nacionais. Em entrevista para a revista ELLE, Thais conta que teve influência de diversos estilos nacionais, como a música brega, o sertanejo e o rap. A faixa, que foi composta juntamente com Jaloo, é um exemplo dessa diversidade e renovação musical do funk.

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Um movimento de experiências em comunicação, integrado por estudantes de Jornalismo da UFC. Assine nossa newsletter: http://tinyletter.com/midium