Um espaço para além de curtidas, comentários e seguidores

A plataforma do Instagram seduz com narrativas de felicidade, beleza e consumo. Precisamos mesmo de tudo isso?

Equipe Mídium
Mídium - Comunicação em Movimento

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Por Gabriela Feitosa, Guilherme Gomes e Lucas Freire Falconery

Stories, hashtags, curtidas, comentários e seguidores. Por que isso importa tanto? A geração que nasceu mergulhada em um mundo com informações cada vez mais aceleradas é também a geração que percebeu nas redes sociais a possibilidade de construir e manifestar sua identidade.

Novas formas de sociabilização se estabeleceram favorecendo questões sobre o tempo ideal de uso das redes sociais, o material que pode ser publicado e como o conteúdo encontrado nessas plataformas afeta a vida dos usuários. No Brasil, o Instagram, aplicativo que permite o compartilhamento de fotos, é utilizado por cerca de 50 milhões de pessoas por mês, sendo a segunda maior base de usuários da plataforma no mundo.

A rapidez e o fluxo de novos materiais atraem os usuários do Instagram em diversos momentos do dia. | Fotos: Equipe Mídium — Guilherme Gomes

O aplicativo cresceu exponencialmente desde seu lançamento em outubro de 2010, principalmente após sua compra pelo Facebook em 2012 e adição do Instagram Stories em 2016. Conseguindo 100 milhões de usuários entre abril de 2012 e março de 2014, a rede social já contabilizava cerca de 700 milhões de usuários até abril de 2017.

A ideia de um espaço onde se possa construir uma narrativa totalmente personalizada sobre sua vida é atraente. Você elabora um perfil e, a partir dele, se torna apto para interagir com pessoas diversas, de lugares diversos, mostrando somente o que acha relevante para que as pessoas conheçam você, sob seu ângulo favorito.

Dentre as vantagens apresentadas pelo aplicativo, está a oportunidade de pertencer a um espaço virtual onde ideias, gostos e opiniões se cruzam. A possibilidade de dividir momentos com amigos, familiares ou pessoas que fazem parte do mesmo círculo social, retrata a já sabida necessidade humana de agregar contatos.

Cada intervalo é um deslizar de tela

Estudante de Farmácia na Universidade Federal do Ceará (UFC), Davi Mesquita, 24 anos, pertence ao grupo de usuários assíduos do aplicativo. Apesar de afirmar que não tem muita preocupação quanto à exposição, admite que às vezes percebe uma sensação negativa após o uso quando constata que perdeu boa parte de seu tempo conectado. Davi calcula passar cerca de 6 horas por dia na rede social e reconhece que houve sérias mudanças no seu comportamento desde que começou a utilizá-la. “Quando não tem nada de interessante para postar, coloco alguma besteira mesmo”, conta.

No que se refere ao consumo, afirma perceber a influência da exposição à publicidade na sua forma de vestir, demonstrando assim a força do aplicativo em lançar tendências e comportamentos. Seguidores e likes têm bastante importância para ele, de forma que fica preocupado quando não é seguido de volta por outro usuário.

O aplicativo permite que o usuário se sinta confortável em expressar-se das mais variadas formas: fotos bem produzidas ou espontâneas, textos, vídeos engraçados, memes ou até mesmo utilizar a rede social para fins comerciais — a lista é imensa.

Igor Alves, 23 anos, é categórico ao dizer que utiliza o aplicativo com bastante frequência. Entretanto, seu uso está mais voltado para um caráter empreendedor do que pessoal, já que o estudante de Administração na Universidade de Fortaleza (Unifor) mantém um perfil comercial da sua editora de livros. É por lá que se comunica de forma mais eficiente com seus clientes.

O jovem afirma que no seu perfil pessoal, configurado como conta privada, costuma seguir somente amigos mais próximos e família, não acrescenta fotos ou stories com frequência, mas, quando o faz, tem bastante cuidado para não expor nada tão íntimo. Sobre likes e número de seguidores, o universitário foi incisivo: “essas coisas não me importam em nada”. Contudo, no perfil profissional, disse que costuma seguir bastante pessoas. Dessa forma, tem um bom número de visualizações, o que é ótimo para seu trabalho.

Existem perfis especializados nos mais diversos assuntos. Os seguidores tornam-se engajados com a temática de seu interesse, o que pode gerar lucro ou mobilização, por exemplo. Fonte: Reprodução

Modo silêncio ativado

Há também pessoas que não sentem tanta necessidade de se manterem conectadas, como Laura Queiroz, 21 anos, estudante de Direito na UFC, e Robéria Maria, de 39 anos.

Laura, abordada durante um momento de estudo e sem nenhum celular por perto, relatou que utiliza o Instagram com pouca frequência, atentando-se apenas às eventuais notificações. Disse que seu critério para decidir quem segue na rede social é simples: pessoas que conhece ou já viu pessoalmente, portais de notícias e contas que disponibilizam conteúdos referente ao seu curso.

Ela também discutiu sobre os cuidados que tem para não se expor a desconhecidos, como o de postar fotos com a localização apenas momentos depois de deixar no local, e o de não expor crianças ou filhos de amigos para não comprometer a sua privacidade. O hábito que desenvolveu com o uso da rede social, segundo ela, foi o de buscar por promoções de produtos.

Robéria estava com sua família no momento da entrevista. Bem-humorada, respondeu que o uso da rede social dificilmente afetava algo em seu dia-a-dia; comentou, inclusive, que chegava a se esquecer de checá-la. A utilização de sua conta no Instagram restringe-se exclusivamente a registros familiares, sem se preocupar em procurar por algo além disso.

Ela também se protege contra a exposição excessiva: seu perfil é privado, e apenas conhecidos conseguem ter acesso. Acredita que a ferramenta é interessante, e até que gostaria de ter um pouco mais de paciência para usufruí-la melhor. Quando o assunto é sobre a importância das curtidas e do número de seguidores: “Não significam nada. Normal”, respondeu Robéria.

Há quem diga que não fazer parte desse ambiente é perder importantes momentos de interação online. Essa assertiva reforça o entendimento de que práticas virtuais afetam ou mesmo definem as experiências do “mundo real”.

No Instagram se estabelece uma teia densa de fatores e circunstâncias

O aplicativo é caracterizado pelas diversas apropriações que indivíduos fazem dele. Desde perfis voltados para compartilhamento de conteúdo fitness, passando por perfis políticos de movimentos sociais, até o uso dos stories por grandes canais jornalísticos, o Instagram é uma ferramenta que permite estreitar relações e facilitar a comunicação. Fonte: Reprodução

Refletindo sobre a popularidade do Instagram, a psicóloga Idilva Germano, Doutora em Sociologia — UFC , destaca a rapidez em comunicar e a relevância dada ao visual em nossa sociedade, sendo a plataforma uma ferramenta para ver e ser visto. Idilva cita também outras práticas nas redes sociais, além da sociabilização, como os propósitos econômicos e políticos. O consumo e o ativismo social, para ela, ganham força através da união de pessoas que compartilham de vivências comuns.

Idilva fala, ainda, sobre os impactos negativos que podem surgir com uso de redes sociais digitais, entre eles a percepção e atenção pulverizadas em função dos estímulos rápidos da navegação nas plataformas. Há também prejuízos para o bem estar com a exposição a padrões normativos, comumente disseminados, como o narcisismo, a felicidade compulsória ou competitividade e inveja.

Em contraponto, a especialista fala de aspectos positivos das plataformas como o ganho de maior democratização e horizontalidade de informações e de mobilização social, ressaltando que, o uso das redes sociais, assim como qualquer fenômeno psicossocial, é complexo e cheio de tensões.

Quando questionada sobre como é a utilização de forma saudável, Idilva enfatiza a importância de entender o contexto em que se estabelece a prática e afirma:

“A regra geral me parece ser respeitar o limite em que a pessoa consegue realizar, com liberdade, responsabilidade e bem-estar, suas atividades normais. Ou seja, se me sinto obrigada a verificar meu Instagram ao ponto de perder o sono, ou de atrasar uma tarefa ou coisa similar, é hora de rever o modo de usar a rede.”

O que talvez você não saiba

De acordo com pesquisa realizada no Reino Unido, o Instagram foi considerada a pior rede social para a saúde mental dos jovens. Visto que a sua utilização pode ser relacionada com sentimentos de ansiedade, vulnerabilidade e de baixa auto-estima. A necessidade de se encaixar em “padrões” também traz prejuízos ao bem-estar.

Rochelly Holanda, psicóloga e mestranda, diz que o uso do Instagram está ligado ao ato de idealizar a vida através de imagens. Fala, ainda, que na plataforma o visual se destaca deixando o texto em segundo plano e os perfis passam a segmentar os assuntos abordados. Ao ser questionada sobre o acesso a informações, afirma:

“A gente precisa de filtro para saber o que interessa e não necessariamente isso é respeitado pelo feed de uma rede social. Então, essa quantidade de informações chega de uma maneira muito atropelada.”

Para reavaliar seu tempo gasto não só no Instagram como nas redes sociais digitais em geral, segue uma lista de aplicativos que ajudam a organizar e reduzir o seu uso dessas plataformas:

Fonte: Reprodução

Menthal
Disponível para Android
O app consegue medir o tempo gasto usando o celular e quanto desse tempo vai para cada aplicativo ou função. Depois disso, ele mostra estatísticas para informar se o uso está sendo exagerado. Também mede o progresso de adaptação com o passar do tempo.

Fonte: Reprodução

Forest
Disponível para Android e iOS
O aplicativo tem uma proposta interessante: uma árvore virtual é plantada, mas para ela crescer é necessário ficar sem usar o celular por 30 minutos. Se o celular for desbloqueado e usado para checar as redes sociais, a planta acaba murchando e o desafio é perdido.

Fonte: Reprodução

Moment
Disponível para iOS
Ele monitora o tempo de uso e quantas vezes o smartphone foi desbloqueado. É possível definir um limite caso o usuário queira. Ele também avisa se o smartphone está sendo usado por um grande período de tempo.

Fonte: Reprodução

Freedom
Disponível para Android, iOS e Windows
Com esse app o usuário obtém o controle de todos os seus dispositivos: celular, tablet e computador. É possível bloquear o uso de determinados aplicativos para quando estiver trabalhando ou estudando, por exemplo.

Fonte: Reprodução

Focus Lock

Disponível para Android

Este app permite o bloqueio de aplicativos durante um determinado período e não deixa que o usuário acesse esses apps até que o tempo termine.

Fonte: Reprodução

StepLock
Disponível para Android
Ideal para quem quer se desconectar um pouco e ainda fazer atividades físicas. Após bloquear o aplicativo, o usuário precisa determinar quantos passos dará para poder usar o app de novo.

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