FODMAP

Junho de 2016

Miliuma
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3 min readMay 30, 2019

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CONTEXTO

Não estou certa se já referi isto no blog, mas creio que sim: sou alérgica a uma data de coisas mais um par de botas. Desde quase todas as frutas aos pólens e animais, tenho todo um espectro de alergias e rinites e conjuntivites alérgicas para completar o pacote. Se a minha mãe me lavou demasiado as mãos quando era pequena? Duvido, todas as minhas semanais visitas a castelo de paiva eram regadas a mãos pretas de terra e a bocas de cenouras por lavar. O meu irmão ficava fechado em casa e está rijo, vá perceber-se. Por volta dos dezanove anos, comecei a ter manifestações que ultrapassavam as habituais comichões na língua quando comia ananás e passei aos sintomas graves, os que me proibiram de continuar a ingerir toda uma lista de alimentos. Estou habituada e, quem sabe, à minha boleia ainda se descobrirá uma vacina qualquer de dessensibilização a estes alergéneos. Até lá, confesso as saudades de beber um sumo laranja natural e vivo a minha vidinha, aproveitando este presente em que ainda posso comer frutos silvestres. A alergia aos alimentos pode sempre crescer, portanto, em vez de chorar pela laranja, delicio-me com a amora.

Bacalhau à Brás do Chef Bertílio Gomes — Restaurante Chapitô à Mesa

FODMAP

Não tarda faz um ano — foi lá para o fim do verão do ano passado — que eu comecei a sentir-me inchada constantemente. Quando cheguei ao Inverno já era uma coisa diária, incompreensível. Casa de ferreiro, espeto de pau, dizem. Um pai médico e só hoje fui fazer as análises ao sangue mais completas. Entretanto, depois de meses a chorar o inchaço que tão mal combinava com o meu aumento de peso, eu, o meu pai e o meu alergologista fomos descobrindo umas coisas aqui e ali que o meu organismo não tolerava. Como o centeio, por exemplo.

Eventualmente, deparámo-nos com a tabela FODMAP. E essa simples tabela, pendurada por ímans no frigorífico e na agenda para quando vou às compras, tem-me ajudado a prevenir o inchaço, a sentir-me mais leve e a desfrutar da comida sem o receio que a refeição me caia mal mais uma vez.

É uma tabela que, na generalidade, é útil a todos nós. No campo das alergias alimentares e das intolerâncias, é uma tarefa altamente difícil descobrir os limites de cada uma. Por isso, o método que aconselham é:

1 — cortar com quase a totalidade das coisas que nos podem inflamar o intestino e, depois de tudo estar regularizado e nos sentirmos a 100% outra vez,

2 — introduzir um alimento de cada vez a cada duas semanas e ver como o nosso corpo reage.

Tenho muito poucas coisas contra a medicina tradicional (talvez nenhuma, só mesmo um certo desprazer relativamente à indústria farmacêutica), contudo, acredito que há situações em que a nossa leitura atenta aos sintomas do nosso corpo pode ser quase suficiente para um diagnóstico correcto. Claro que há excepções nesta tabela, e eu sou uma delas. Como alérgica a fruta que sou, há alimentos que me permitem ingerir, mas que não posso senão é pior a emenda que o soneto. Não falecer de um choque anafilático continua a ser mais importante do que ter uma alimentação equilibrada para o meu organismo.

Então, o que é o FODMAP?

É um acrónimo para Fermentable Oligo-Di-Monosaccharides And Polyols.

Por outras palavras, uma série de coisas fermentáveis que podem ser mal digeridas e cuja a fermentação intestinal possa ser anormal, causando sintomas como inchaço, dor e outras coisas desagradáveis de referir aqui no Miliuma. Resumindo, se consumirmos alimentos ricos nestes fermentáveis oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis, estamos provavelmente a sobrecarregar o intestino, que tem de ser um campeão de bactérias boas que digerem este mundo e o outro. Não é o meu caso nem o de muitos de vocês, pelo que vos dou aqui umas tabelas catitas para que possam experimentar comer apenas os alimentos com baixo teor de FODMAP durante umas semanas e depois dizer-me como é que correu!!

Uma coisa é certa: mal não faz.

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Editor for

Helena Canhoto — Performer — Aspiring Writer