Bianka: “Se os Jogos Olímpicos representam a união entre os povos, nada mais justo do que eu poder fazer parte da festa”.

Rede Nacional do Esporte
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3 min readMay 10, 2016

Por: Bianka Lins, condutora da Chama Olímpica em Curvelo/MG.

Foto: Arquivo Pessoal

Meu nome é Bianka, tenho 26 anos e sou travesti. Fui escolhida pela Nissan para ser condutora da tocha olímpica na minha cidade, Curvelo/MG, e estou muito feliz. Me sinto lisonjeada em participar de um evento de tamanha grandiosidade e de poder representar o meu município e tantas outras pessoas da comunidade LGBTTT.

Acredito que, além de uma vitória particular, é também uma vitória de uma comunidade que busca ser representada de forma digna. Afinal, se os Jogos Olímpicos representam a união entre os povos, nada mais justo do que eu poder fazer parte da festa.

Foto: Arquivo Pessoal

Minha história começa quando eu me aceitei homossexual. Este é o primeiro passo para um transgênero, travesti, gay, enfim, qualquer pessoa que se intitula “diferente” começar a viver, pois, até este momento acontecer, nós meio que “sobrevivemos” em um mundo paralelo onde queremos acreditar que não somos diferentes (e realmente não somos), apenas compactuamos de sentimentos e idéias que algumas pessoas de nossa sociedade acham anormais.

Hoje, aos 26 anos, posso dizer que sou uma pessoa totalmente indiferente a qualquer forma de preconceito.

Desde criança já conhecia a minha sexualidade, mas foi aos 18 anos que resolvi assumir para o mundo a minha identidade feminina. Até então eu vivia reclusa, era uma pessoa de pouco convívio social. Quando a minha “libertação” ocorreu foi impactante para as pessoas ao meu redor, mas como tenho uma família extraordinária, ímpar e muito unida, a aceitação se concretizou. Para mim, aquele deixou de ser o maior medo a enfrentar, pois o pior estaria por vir: a sociedade, o medo do preconceito, do padrão e de ser “diferente”.

Foto: Arquivo Pessoal

No quesito trabalho sempre foi difícil. Sempre que eu chegava em uma entrevista de emprego era mal vista. Até que um dia resolvi ser cabeleireira. Infelizmente quando se é travesti você é cabeleira ou prostituta, ou simplesmente não é nada. Enfim, trabalhei algum tempo na área. Daí veio a vontade de fazer algo para que as pessoas passassem a me enxergar como Bianka e me respeitassem pela pessoa que sou e não apenas pelo termo travesti.

Sempre fui uma pessoa muito aplicada e decidida, a ponto de me ingressar na faculdade de Letras. Foi quando pensei: vou ser professora. Quando comecei, alguns amigos e familiares me disseram: “jamais vão deixar você trabalhar em uma escola ou algo do tipo, pois os pais dos alunos não vão aceitar”. Disseram muitas coisas que me fariam desistir caso eu não tivesse um foco, que era deixar de ser rotulada.

Hoje estou a alguns meses da minha graduação e já tive o prazer de trabalhar como professora, que era um sonho desde criança. Posso dizer, portanto, que sou uma pessoa muito feliz. Meus alunos foram muito receptivos e os pais também.

Ainda sou rotulada de travesti, mas hoje sou Bianka, a professora travesti. Consigo mostrar o meu valor, passando a minha experiência de vida, a minha alegria de viver, minha amizade para quem gosta de mim, o meu respeito, a minha fé e o meu intelecto sem um estigma negativo para meus alunos, colegas de trabalho e todos ao meu redor. Sou verdadeira, sou direta e assim que é ser Bianka.

Todas as opiniões expressas no “Medium do Esporte” são pessoais e não representam a opinião do Ministério do Esporte.

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