A felicidade em representar meu país em uma Paralimpíada

Rede Nacional do Esporte
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5 min readAug 23, 2016

Por Phelipe Rodrigues, atleta paralímpico de natação

Foto: Comitê Paralímpico Brasileiro — CPB

Meu nome é Phelipe Rodrigues, tenho 26 anos. Nasci com pé torto congênito e, ainda bebê, fiz duas cirurgias no meu pé direito. No pós-operatório da primeira cirurgia, realizada para colocar o pé na posição correta, acabei tendo uma infecção hospitalar e por pouco eu não perdi o meu pé.

Comecei a nadar quando jovem, meus pais sempre me incentivaram a fazer a prática de esporte, mesmo assim, na infância, isso não foi o bastante por causa da minha deficiência eu tinha muita vergonha de expor o pé e a panturrilha. Também tinha muita vergonha de andar de sandália e de bermuda… mesmo assim, morando no Nordeste era quase impossível ficar de calça comprida e tênis o tempo todo, então quando estava com as minhas pernas de fora, acabava ficando muito tímido.

Foto: Comitê Paralímpico Brasileiro — CPB

A natação veio por indicação médica como um trabalho fisioterapêutico. Tetei fazer vários tipos de esporte, mas ironicamente o favorito sempre foi a natação, esporte no qual eu tinha que ficar apenas de sunga e expor meu corpo inteiro — tornando impossível esconder a minha deficiência.

Minha família nunca me tratou como uma pessoa com deficiência e isso foi fundamental para o meu amadurecimento. Com o passar do tempo, a natação foi fazendo parte da minha vida. Sempre treinei com pessoas sem deficiência e sempre tentava superar não só eles, mas a mim mesmo. Participei de várias competições onde só havia participantes sem deficiências e ainda participo até hoje, ganhei dezenas de medalhas em campeonatos no Norte e no Nordeste, incluindo competições nacionais.

Só conheci o paradesporto em 2008, e de cara participei de uma competição com pessoas com deficiência… me dei conta do tempo que perdi me lamentando por algo tão pequeno. Todos aqueles atletas com alguma limitação física juntos despertaram em mim um sentimento de orgulho e de que para todos os problemas temos uma solução. Mesmo faltando membros ou em cadeiras de rodas ou cegos, eles estavam ali fazendo o que gostavam e felizes com a vida. Para minha surpresa, neste mesmo ano, consegui participar da minha primeira Paralímpiada, em Pequim, onde calouro de competições internacionais e ainda vislumbrado com a mudança que tinha ocorrido na minha vida, conquistando duas medalhas de prata — uma nos 50m livre e outra nos 100m livre.

Foto: Comitê Paralímpico Brasileiro — CPB

Depois da China, participei de todos os campeonatos mundiais até então, somando 14 medalhas. Em parapan-americanos, são nove. Bom, não é?! Mas não pensem que tudo são flores. Em 2012, em Londres eu tive uma surpresa grande na final da minha principal prova, os 50m livre. Eu estava bastante confiante naquele dia, tinha nadado a eliminatória e tinha feito o primeiro tempo. Estava com a cabeça na medalha antes mesmo de nadar, mas o que não esperava era errar a saída e a chegada. Resultado?! Não deu nem para o pódio, fiquei em quarto lugar. Quando vi o placar, não acreditei e insistia em não acreditar, inconformado saí com raiva da prova sem falar com ninguém. Lembro-me que passei horas chorando (olhe que eu não sou de chorar), fui dormir por volta das três da manhã ainda inconformado e pensando “se essa foi a minha primeira prova como eu vou nadar as outras?!”.

Acordei no dia seguinte às 6h30 da manhã — tendo dormido apenas três horas e meia — e fui para o parque aquático nadar uma prova na qual eu não tinha [não achava que tinha] chance nenhuma de pegar final. Muitas pessoas ainda vinham falar comigo pelo ocorrido no dia anterior e a única coisa que eu queria era ir nadar logo os 100m borboleta. A única coisa que pensava antes de entrar para nadar aquela prova era “tenho que voltar para a competição”.

Foto: Comitê Paralímpico Brasileiro — CPB

Após me concentrar bastante e nadar a eliminatória, acabei fazendo a minha melhor marca pessoal e fui para a final com o sétimo tempo.

Depois da prova eu pensei, “voltei, foco na final agora”. Tinha recuperado o sono perdido e tinha dado um basta na ‘tragédia’ do dia anterior. Nadei a final dos 100m borboleta e baixei mais ainda a minha melhor marca, terminado em quinto lugar.

Com este resultado, estava definitivamente em outra página na competição. Dois dias depois nadei os 100m livre e ganhei a medalha de prata, que eu esperava.

Foto: Comitê Paralímpico Brasileiro — CPB

A natação me ensinou muitas coisas e uma delas é nunca desistir independente do que aconteça. Fez com que eu amadurecesse não só como atleta, mas muito mais como pessoa fazendo com que eu passasse a estabelecer objetivos pessoais e profissionais. Fez com que eu me aproximasse de crianças e me dedicasse a passar ao próximo a coisa boa que é o esporte, dividindo minhas experiências como atleta.

Hoje eu agradeço muito a minha família por sempre ter me incentivado a fazer esporte. Se não fosse por eles, não sei o que eu estaria fazendo hoje. Provavelmente não estaria dividindo minha história com vocês. Posso dizer que o esporte é meu hobby e meu trabalho e quando juntamos o prazer com a obrigação aí sim podemos dizer que estamos dando a alma e a vida por aquilo que gostamos.

Foto: Comitê Paralímpico Brasileiro — CPB

Agora, às vésperas dos Jogos Paralímpicos Rio 2016, tenho a convicção de que neste ano não só eu, mas o Brasil inteiro vai viver um momento único e fico muito feliz em fazer parte disso representando o país junto com a nossa família brasileira, a delegação paralímpica com 278 atletas.

A torcida ajuda, mas a responsabilidade também é maior!

Foto: Comitê Paralímpico Brasileiro — CPB

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