bomba-relógio

Cesar Maccedo
Minas Não Há Mais
1 min readJan 31, 2020

bomba-relógio

não há de ser hoje
ainda:
a explosão
o infarto
a dose a mais
o escapamento
o gás
a parada cardíaca
o incêndio
o carro
o atropelamento
a paz

não é necessário isso
agora
pensa bem:
o vício
o excesso
o álcool
o tiro de misericórdia
o precipício
o trem
o corte na veia
a corda
a janela
o risco nem pressa tem

não houve o desfecho
ainda
preserva o ardor original
a pulsão
guarda essa faca
empunha o escudo
tampa o veneno
desarma essa bomba-relógio
corta os fios
interrompa a dor
a angústia
o ar contido
o estupor

não sangre agora
não agora
veja o brilho no fundo
do olhar do seu filho
desperta
a manhã está toda lá
cintila e irradia a luz
no desterro
inunda o deserto
umedece a boca seca
refresca o aperto
tira, do peito, a flecha

não desista
tampouco
de desistir pra sempre
renove seu estoque
de mortes diárias
roletas-russas
pactos de sangue
o alto-mar
o salto sem pára-quedas:
uma hora podemos precisar

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Cesar Maccedo
Minas Não Há Mais

jornalista, professor, poeta, contista, editor do coletivo literário Minas Não Há Mais