Boteco
sábado tem chouriço
cozido em cima do túnel
que dá para uma ladeira
íngreme feito o diabo
pode haver também pé de porco
filé com fritas
tropeiro ou torresmo
rabanada fumegando na cara dos bebuns
mortos de fome
cumpre um ritual vulgar
e meticuloso
três stents no peito
e uma ponte de safena para segurar
ali é onde o pudor vai para morrer
abraço caloroso do balcão enrugado
travessas ovais de alumínio
singrando a imaginação faminta
a cerveja está sempre gelada
com a sabedoria centenária de levá-la
ao limite
espalhada à boca pequena entre montanhas
e vagões
a rotina sagrada dos dias
embebida em sal e gordura
curtida nas maquinações sussurradas
nas tramas ébrias, concretas e inventadas
quando se define o destino do mundo