moela ao molho
acreditei clichê
de moela ao molho, esmurrada
salgada em curtume manco
como se os lugares pudessem ter membros
e tem
vi, como quem espia esperando ser pego
com as mãos molhadas de cloro
sufocando a oportunidade no fundo da piscina
limpando o limo com o dedão
tropecei rude
na empáfia das catracas apertadas
girando excessivamente
candidamente
como quem expurga o próprio peso com a mão
rasguei a superfície com um estilete amarelo
de fita dupla face cheia de cola
capeta
para a menina sentada no meio fio
da agência dos correios
na melodia cega dos pedais
fui intransigente com os vendedores
neguei esmolas pela preguiça de abrir a carteira
expeli uma gosma escura, por dias a fio
sem entornar o caldo dos açougueiros
quebrei
espelhos por conveniência
quadros de verões passados
taças encorpadas de conhaque
de sujeira espessa que a bucha não alcança
tateando pateticamente o impossível
lavei as bordas do vaso
com um líquido azul bebê
enquanto a água escorria em profusão
e os pelos da face entupiam
o ralo insuspeito do desdém
ouvimos — entre pedras e latidos
- estampidos secos, balidos
e rugidos
- mormaço quente na nuca
de um apartamento planejado na Glória