moela ao molho

Maurício Angelo
Minas Não Há Mais
1 min readJul 20, 2018

acreditei clichê
de moela ao molho, esmurrada
salgada em curtume manco
como se os lugares pudessem ter membros
e tem

vi, como quem espia esperando ser pego
com as mãos molhadas de cloro
sufocando a oportunidade no fundo da piscina
limpando o limo com o dedão

tropecei rude
na empáfia das catracas apertadas
girando excessivamente
candidamente
como quem expurga o próprio peso com a mão

rasguei a superfície com um estilete amarelo
de fita dupla face cheia de cola
capeta
para a menina sentada no meio fio
da agência dos correios

na melodia cega dos pedais
fui intransigente com os vendedores
neguei esmolas pela preguiça de abrir a carteira
expeli uma gosma escura, por dias a fio
sem entornar o caldo dos açougueiros

quebrei
espelhos por conveniência
quadros de verões passados
taças encorpadas de conhaque
de sujeira espessa que a bucha não alcança
tateando pateticamente o impossível

lavei as bordas do vaso
com um líquido azul bebê
enquanto a água escorria em profusão
e os pelos da face entupiam
o ralo insuspeito do desdém

ouvimos — entre pedras e latidos
- estampidos secos, balidos
e rugidos
- mormaço quente na nuca
de um apartamento planejado na Glória

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Maurício Angelo
Minas Não Há Mais

Jornalista e escritor. Autor de “Meu Mundo é Hoje” e “11 Rounds”, de contos e “Latitude 19 & Outros Hematomas”, de crônicas e poemas.