O Homem Como Medida da Verdade

Natri (Fabio Natrieli)
MIND o>er matter
Published in
3 min readSep 6, 2022

“Então, ó Protágoras, também nós expressamos a opinião de um homem, ou melhor, de todos os homens, e afirmamos que não há ninguém que não pense umas vezes ser mais sábio que os outros, outras, que são os outros mais sábios que ele. E, em situações de perigo, como expedições militares, em caso de doença, ou no meio do mar agitado, em cada uma destas circunstâncias encaram os comandantes como deuses, esperando serem salvos por eles, quando estes apenas diferem no saber. E possivelmente toda a humanidade está cheia daqueles que procuram mestres e comandantes para si próprios e para os outros animais, nas tarefas que desempenham. E também cheia do oposto, isto é, dos que pensam que têm capacidade para ensinar e para comandar. Em todos estes casos, que outra coisa diremos, a não ser que os próprios homens pensam que existem em si mesmos a sabedoria e a ignorância.” — Platão, em Teeteto.

O que podemos extrair deste trecho?

Platão está se contrapondo ao famoso argumento sofista que cito no vídeo, de que o homem é a medida de todas as coisas, que é o mesmo que dizer que todo saber é relativo ao indivíduo.

Se o homem fosse a medida de todas as coisas, se para ter conhecimento basta perceber as coisas, vendo e ouvindo, o que há é o mais completo nivelamento do saber: todos os seres humanos seriam sábios e, ao mesmo tempo, ninguém seria de fato.

O que Platão está sugerindo neste trecho é que não acreditamos que isto é verdade quando nos vemos diante de um desafio real.

Quando a coisa aperta de verdade, nós buscamos voluntariamente o conselho de quem reconhecemos ter um saber efetivo sobre aquele assunto; um saber que, obviamente, não encontramos em nós mesmos.

Mais do que isso, o que é ironicamente genial na explanação de Platão, que o Sócrates do diálogo expõe, é o seguinte: se é de fato verdade que cada homem individualmente é a medida de todas as coisas, logo o que se segue é que todo homem pode conduzir-se pela vida apenas contando com o seu próprio saber.

Isto, por sua vez, torna completamente dispensável o papel dos mestres e professores, que vivem a orientar os outros.

Logo, se a proposta sofista de que o homem é a medida de todas as coisas é verdadeira, qual seria a função do próprio filósofo sofista Protágoras, que sugeriu tal coisa, na sociedade?

Nenhuma.

Quando afirma que o homem é a medida de todas as coisas Protágoras sugere que não existem verdades absolutas, apenas relativas.

Se é assim, por que devemos dar-lhe crédito? O que torna a sua afirmação verdade? Ele está contradizendo a si mesmo.

Platão demonstra tal contradição. Ele mostra como a proposta sofista de Protágoras refuta a si mesmo, faz crer que a filosofia não serve para nada, que, em sua forma contraditória, significa que ela serve para tudo.

ps. o trecho do post é um vídeo sobre a consciência que você pode encontrar no link da bio ou em meu canal do Youtube. (Não é o último vídeo, é um video mais antigo chamado “A consciência e a inteligência artificial).

Para seguir meu canal no Youtube, Acesse o Link Abaixo:

--

--