O que é filosofia? Ela serve para algo?

Natri (Fabio Natrieli)
MIND o>er matter
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17 min readMay 31, 2022

O que é filosofia? A filosofia tem utilidade? O que faz um filósofo?

Quem gosta de filosofia certamente já escutou que filosofia não serve para nada; que a filosofia não é nada mais do que pessoas dando a sua opinião sobre todos assuntos. Mas será que é isso mesmo?

Afinal, o que é filosofia? Para quê serve a filosofia? Por que estudar filosofia?

No vídeo abaixo, vamos falar sobre o conceito de filosofia, apresentar algumas perspectivas interessantes sobre para que serve a filosofia, inclusive uma perspectiva que sugere que a filosofia não tem que servir para nenhum outro fim mesmo (e porque isso é algo positivo).

Caso prefira ler… segue abaixo

O que é Filosofia? Para que serve esta tal filosofia? Se é que serve para alguma coisa… porque pode muito bem não servir para nada e isso

Você sabia que praticamente 99% do DNA humano é compartilhado com os chimpanzés e 98% com os porcos?

Com toda esta semelhança genética, o que torna os seres humanos tão diferentes de macacos e porcos?

Por exemplo, o ser humano é capaz de fazer uma sonda pousar em um cometa, algo completamente impensável para um chimpanzé.

Mas o que isso tem a ver com filosofia?

A gente já chega lá. Veja só: o que será que nos diferencia dos demais animais na face da terra? Se você tivesse de falar uma propriedade, o que você falaria?

A resposta mais comum que as pessoas dão para esta pergunta é o uso da razão. Ou seja, raciocinar.

Mas, se a gente analisar direito, o simples hábito de pensar, por si só, não é exclusivo da espécie humana. O que diferencia mesmo o homem dos outros animais é o fato da gente pensar sobre os nossos pensamentos. O nome técnico disso é metacognição. Sem esta autoconsciência, a educação, a literatura e outros empreendimentos humanos não seriam possíveis.

Por conta dessa nossa incrível habilidade de pensar sobre o que pensamos, a distância entre o homem e o macaco é incomensuravelmente maior do que entre o macaco e a ameba.

E qual é a atividade humana que melhor expressa esta nossa capacidade de pensar sobre o que a gente pensa?

A mãe de todas as ciências: a filosofia!

Por isso a filosofia é tão apaixonante e importante.

Mas aí, quando eu falo isso, geralmente acontece uma coisa curiosa: é muito comum eu ouvir as pessoas dizendo que a filosofia até foi importante, mas que hoje em dia não tem mais tanta relevância.

Outros dizem que a Filosofia não tem valor prático. Que é um bando de gente maluca emitindo opiniões sobre vários assuntos.

Ou então, dizem que a filosofia não gera valor para a sociedade porque não cria nada, não gera riqueza como a economia e nem constrói nada como a engenharia; ou ainda que não é útil como a medicina e por aí vai.

Quando você ouvir uma opinião assim, saiba que você está diante daquele tipo de ignorância que o filósofo Sócrates mais reprovava: aquela em que a pessoa pretende saber o que não sabe. Porque, quando alguém fala este tipo de coisa, emite um belo atestado de ignorância sobre o que é Filosofia e para quê serve a filosofia.

Então, o que é filosofia? Para que serve essa tal filosofia?

Vamos começar pela primeira pergunta. O que é filosofia?

A filosofia é a busca pela sabedoria em todas as coisas. O filósofo busca adquirir o conhecimento da verdade. O filósofo é amigo da sabedoria. Ele tem uma vontade dentro de si que direciona a sua vida, que é descobrir a verdade acima de todas as coisas.

Não à toa, isso tem bem a ver com a etimologia da palavra Filosofia. Filosofia significa literalmente amor pela sabedoria; ser amigo da sabedoria. Quem ama a sabedoria, um filósofo nato, não troca a filosofia por nada e não deixa de filosofar independente da situação.

Existem três exemplos que me vêm à cabeça para exemplificar esta relação de amor entre o homem e a sabedoria.

O primeiro exemplo vem de uma das obras filosóficas mais bonitas que eu já li, que se chama “A Consolação da Filosofia”. Este livro foi escrito por um filósofo chamado Boécio, que viveu por volta de 500 d.C.

O Boécio talvez seja uma versão medieval do Jó. A sua história é daquelas que facilmente virariam tema de filme.

Ele escreveu este livro enquanto estava prisão, usando placas de argila para gravar as suas ideias, e fazia isso entre sessões de tortura enquanto aguardava a sua execução. E isso aconteceu depois dele ter perdido tudo na vida. Antes de ser preso, ele era um político admirado, rico e influente em Roma. Tanto que foi senador de Roma, depois Cônsul e depois Chefe de Governo. Aí, foi acusado de traição e condenado. E foi na prisão que escreve esta obra prima da filosofia. Da onde ele tirou forças eu não sei, mas isso é amor pela sabedoria.

Outro grande filósofo, considerado por muitos o grande filósofo contemporâneo do século XX, Ludwig Wittgenstein, não deixou de estudar ou de escrever sobre filosofia mesmo estando no front da primeira guerra mundial, em 1916.

E não dá para falar sobre amor à filosofia sem citar Sócrates. Lá na Grécia Antiga, lhe foi oferecida duas opções: deixar de filosofar e viver ou insistir em filosofar e morrer. Escolheu morrer sem titubear.

Eis aí três belos exemplos que sintetizam bem o que é filosofia: amor à sabedoria.

Agora, repara uma coisa: quando você ama algo, você não ama este algo por causa de, para ter alguma coisa de volta. Você não ama algo ou alguém para ganhar algo com isso. Você até ponde fingir amar alguém para ganhar alguma coisa em troca, mas amar de verdade você ama pelo simples fato de amar.

Por exemplo, você não ama o seu filho para receber alguma coisa de volta. Você o ama simplesmente por ele ser quem ele é. Pelo simples fato dele existir. Isso é amor. Então, se a filosofia é amor pela sabedoria, significa que você ama a sabedoria simplesmente por se relacionar com ela, por admirá-la. Você não ama a sabedoria para ter de volta algum benefício além dela mesma. Se você pretende amar a sabedoria visando ganhar algo em troca por isso, você não é filósofo, você é um sofista.

Agora, posto isto, eu posso responder àquela segunda pergunta do começo do vídeo: para que serve esta tal filosofia?

Talvez, esta seja a pergunta que um estudante de filosofia ou filósofo mais ouça. Para que serve a filosofia?

De tanto esta pergunta se repetir, os estudantes de filosofia bolaram uma resposta irônica para esta questão: “a filosofia é uma ciência com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”.

E, de certo modo, as pessoas que falam que a filosofia é inútil não estão completamente erradas. Elas têm razão, mas pelos motivos errados. Porque elas dizem isso com base em uma visão de mundo que foi moldada pelo pragmatismo da sociedade capitalista, na qual uma coisa só tem valor quando leva a um determinado fim, que tem utilidade de acordo com uma concepção materialista de mundo, que resulte em negócios, lucro, status social ou poder político. Só isso tem valor para tais pessoas. Logo, a filosofia, para elas, realmente não têm valor.

Neste sentido, se o mundo se restringe a isso, muitos filósofos, como é o caso do francês Gile Deluze, afirmam que a filosofia não serve para nada mesmo.

Assim, todas as pessoas que têm uma visão de mundo materialista, pragmática e puramente econômica estão certas. A filosofia não vai tem qualquer utilidade para elas. Ela não serve para estes propósitos. Ela não se submete a tais interesses.

A Filosofia deve ser completamente autônoma e crítica, emancipada das amarras de qualquer norma que determine o que deve ou não ser feito, o que pode ou não ser dito.

Mas, é claro que a filosofia tem utilidade quando se olha a coisa de uma perspectiva maior. Ela é inútil para fins pequeninos. Mas ouso dizer que ela não é só importante, como foi — e ainda é — o motor que impulsiona a evolução do conhecimento humano.

Todas as ciências nasceram da filosofia. Todas as ciências usam ferramentas da filosofia. Ao mesmo tempo, é esta mesma filosofia que está em melhor posição para questionar a validade das próprias teorias científicas.

Na verdade, lá no começo, não havia qualquer distinção entre o ato de estudar e fazer filosofia. Estudar era fazer filosofia. Os primeiros filósofos faziam questões sobre tudo. As questões que hoje são subdivididas em biologia, química, física, matemática, geometria, medicina, ética, economia, política e tudo mais, eram questões intrinsecamente filosóficas.

Além disso, é a filosofia que oferece as bases conceituais e subsídios teóricos para a própria política. Ao mesmo tempo, é ela também que questiona as ações políticas.

A filosofia estrutura a ética social, ela estabelece as bases conceituais de como o ser humano deve agir. E nós vamos ver isso já já, como isso se dá em termos práticos.

Podemos colocar a coisa assim: a filosofia é importante porque é a maior ferramenta que temos à disposição para derrotar a ignorância.

Aliás, tem uma frase que gosto muito que diz exatamente isso: que a função da filosofia é fazer da tolice algo de vergonhoso.

Esta é uma frase do filósofo francês, Gilles Deluze, que diz exatamente isso que vou dizer agora, abre aspas: “a filosofia serve para prejudicar a tolice, fazer da tolice algo de vergonhoso. Que a filosofia não tem outra serventia a não ser a seguinte: denunciar a baixeza do pensamento sob todas as suas formas.”

Então, quando alguém disser que a filosofia não tem função ou utilidade, isso diz mais sobre a visão curta que a própria pessoa tem sobre o tema do que sobre a suposta irrelevância da filosofia. Porque é óbvio que a filosofia tem a sua utilidade e importância para a humanidade.

O que nos leva à mais uma importante atribuição da filosofia, que é ajudar as pessoas a pensar e, mais do que isso, a pensar melhor, com critério.

Quer ver uma coisa? Vamos fazer um exercício simples e rápido. É bem simples.

Imagine que nós temos aqui uma bola de baseball e um taco de baseball.

Você sabe que o taco custa um real a mais que a bola. Você também sabe que juntos, ao total, eles custam R$1,10 centavos. Então, quanto custa a bola?

Se você respondeu dez centavos, você está muito bem acompanhado. Esta é a resposta que mais de 50% dos estudantes de algumas das mais prestigiadas instituições de ensino do mundo dão para este problema, estudantes de Harvard, MIT e Princeton.

É assim que a maioria das pessoas raciocina sobre as coisas. De forma rápida e intuitiva. Acontece que a resposta que a maioria das pessoas dá para este problema está errada. A bola não custa R$0,10 como a maioria das pessoas responde de bate pronto. Quer ver?

Se a bola custa 0,10 centavos, que é a resposta que a maioria das pessoas dá, e se o taco custa R$ 1 a mais do que a bola, então isso significa dizer que o taco custa R$ 1,10 centavos, certo? Isso significa que juntos, o taco e bola custam R$ 1,20 e não R$1,10. Mas sabemos que o taco e bola custam R$ 1,10 juntos. Então, vemos que esta resposta está errada.

Nós podemos tirar duas lições deste exemplo:

A primeira coisa é: geralmente, a primeira resposta que damos quando respondemos rapidamente quase sempre está errada.

E a segunda coisa é que é fácil pensar melhor se você organizar bem as suas ideias.

Neste caso particular, tudo o que precisaria ser feito seria considerar os dados de trás para frente. Se a bola e o taco juntos custam R$ 1,10 e o taco custa R$1,00 a mais que a bola, a reposta correta é que a bola custa R$ 0,05 e o taco R$ 1,05, de modo que a soma de ambos resulte no valor dado inicialmente na questão que é R$1,10.

Agora que você sabe a resposta, parece fácil, não é? E de certa forma é fácil.

As pessoas não erram a resposta porque é uma questão difíci ou porque não sabem fazer o cálculo; elas erram porque dão uma resposta impulsiva e não checam o resultado. Como dissemos há pouco, a ciência sugere que as respostas impulsivas geralmente estão erradas.

E é esta é justamente mais uma das funções que a filosofia pode ter: ajudar a pensar, mas mais do que isso, ajudar a pensar melhor.

Este experimento da bola e do taco de baseball é um estudo feito pelo professor de Marketing de Yale, Shane Frederick. O estudo foi inspirado sobre as ideias do psicólogo americano Daniel Kahneman, eminente acadêmico que inclusive recebeu o prêmio nobel de economia em 2002.

O que Kahneman nos sugere é que existem dois tipos principais de pensamentos.

O primeiro tipo é rápido e intuitivo. Provavelmente, a gente só está aqui hoje porque os nossos antepassados usaram muito este tipo de pensamento, por exemplo, quando caçavam por aí e se deparavam com um predador. Graças a um tipo de pensamento primitivo, instintivo, eles foram capazes de se adaptar e sobreviver a ambientes hostis e hoje estamos aqui. Este tipo de pensamento ainda é útil nos dias atuais. Quando precisamos desviar de um carro que faz uma barberagem na estrada por exemplo.

O problema é quando usamos este tipo de pensamento para questões mais complexas, como vimos no caso do experimento da bola de baseball. De modo geral, quando nós saltamos direto da pergunta para a conclusão, é isso que acontece: nós erramos as respostas.

Já a segunda forma de pensar é mais lenta, crítica e sistemática. Através dela, você considera a sua resposta com mais rigor antes de emitir opiniões por aí a torto e a direito. Você checa se as suas ideias têm realmente sentido.

A lógica, uma disciplina da filosofia, tem estrutura formal até para isso: ela nos ajuda a organizar melhor os argumentos e pensar bem sobre os mais variados assuntos.

Então, o que a gente quer aqui neste canal é mostrar toda esta beleza da filosofia e destes conhecimentos, que vai na contramão de um fenômeno social que o Isaac Asimov descreve assim: “o culto à ignorância; uma onda de anti-intelectualismo alimentada por uma falsa noção de que a democracia significa que a ‘minha ignorância é tão boa quanto o seu conhecimento”.

Mas então, como podemos definir o que é ignorância e o que é conhecimento? Aliás, como podemos ter conhecimento sobre as coisas? E mais: como podemos saber se o nosso conhecimento é verdadeiro? Será que ele corresponde à verdade?

Mas aí temos de nos perguntar também: o que é verdade?

Então, o que é verdade? De forma bem resumida, para a filosofia, o conceito de “verdade” diz respeito às coisas como são. A verdade é uma relação entre uma proposição e os fatos. A verdade é aquilo que melhor corresponde à realidade.

Isso nos leva a mais uma pergunta: o que é a realidade? Como podemos ter conhecimento da realidade?

Eis uma outra questão central da filosofia. Esta questão está lá no filme Matrix. Quando Neo diz que aquela coisa de Matrix não pode ser real, Morfeus pergunrta para o Neo: “Mas o que é real? Como você define o ‘real’? Se você está falando sobre o que você pode sentir, o que você pode cheirar, o que você pode saborear e ver, o real são simplesmente sinais elétricos interpretados pelo seu cérebro.”

Então, como podemos saber o que é verdade, se a verdade é aquilo que corresponde à realidade, mas a própria noção de realidade é subjetiva para muitas pessoas?

Em filosofia, esta ideia é chamada de relativismo individual. Funciona mais ou menos assim: imagine que temos duas pessoas prestando vestibular: João e Maria.

Para o João, não há problema algum colar na prova porque ele pensa é moralmente aceitável fazer isso.

Já a Maria considera inaceitável que qualquer pessoa cole na prova independente do motivo.

Para alguém que defende o relativismo individual, a diferença não é que o João pensa que é certo colar e Maria não; não! Para quem acredita que toda verdade é sempre relativa ao indivídio, o fato de alguém colar na prova É errado para Maria mas não é errado para João. Não tem um certo ou um errado.

Neste caso, quem determina o que é verdade, quais são as obrigações morais das pessoas é somente a própria pessoa, e não a cultura de uma determinada sociedade.

Quer ver mais algumas implicações práticas de conceitos filosóficos?

No oriente médio, existem grupos terroristas de radicais islâmicos que jogam homosexuais do alto de prédios porque eles interpretam que é isso que a religião deles diz que deve ser feito.

Se você acredita que verdades morais são relativas, você acredita que toda ética é cultural e que deve ser sempre respeitada.

Afinal, se toda verdade moral é relativa, não podemos julgar uma outra sociedade com base em nossos próprios valores, porque ao fazer isso, estamos assumindo uma posição etnocêntrica, ou seja, fundada nos valores da nossa cultura, que também é relativa.

Assim, de acordo com esta perspectiva, não há uma razão objetiva possível para condenar que homossexuais sejam arremessados do alto de prédios. Não existem verdades morais absolutas. É tudo construção social.

Mas, pensa comigo: será realmente que o fato dos terroristas não aceitarem moralmente a homossexualidade torna moralmente certo que eles joguem estas pessoas do alto de prédios?

Então, veja bem: quando você concorda que isso é errado, você admite que existem valores morais universais. Que isso é errado e ponto final.

Ora, baseado em quê você admite isso? Em uma noção de verdade que não seja relativa, ou seja, absoluta.

A pergunta então é: será que existe uma verdade absoluta? Será que existem valores morais objetivos em oposição à filosofia relativista?

Esta é uma questão filosófica que tem implicações práticas na vida das pessoas.

Muitas questões políticas, como por exemplo, pena de morte, aborto, liberação de drogas, obrigatoriedade de vacinas, se é lícito ou não banir os véus da religião mulçumana nas escolas, como ocorreu na França em meados dos anos 2000, são todas questões filosóficas, sobre ética.

Se não há uma verdade que sirva como norte moral para a sociedade, que norteie a própria ideia de justiça, se de fato todas as verdades morais são relativas, neste caso, algumas culturas podem considerar errrado jogar pessoas do alto de prédios por sua orientação sexual e outras podem considerar práticas legítimas.

Isso é o que se chama de relativismo cultural.

Quer ver um mais exemplo sobre isso?

Existem tribos na África em que meninas têm as suas genitálias mutiladas sem anestesia aos nove anos de idade porque aquele grupo acredita que isso deve ser feito.

O fato de que a tribo considera moralmente aceitável mutilar meninas com base na sua cultura não torna isso moralmente certo. Não importa quantas pessoas acreditem nisso.

Questões assim, que envolvem discussões sobre verdades morais absolutas e verdades morais relativas são difíceis de lidar porque estão intrinsecamente associadoas com o conceito de tolerância. E tolerância, por sua vez, na cabeça de muitas pessoas, é um princípio que é objetivamente bom, é sempre positivo.

O pensamento é mais ou menos assim: Nós não podemos julgar os outros por sua cultura porque estamos julgando de acordo com os nossos valores morais, que são subjetivos.

Em nome da tolerância, fica cada macaco no seu galho.

Mas em casos mais extremos? Por exemplo, imagine que exista uma sociedade na qual a escravidão de pessoas negras ainda seja permitida, porque isso faz parte da cultura deles. Devemos ser tolerantes? É moralmente certo não fazer nada?

Então, a filosofia é útil para todas estas questões. Ela é útil para a ciência. Ela é útil para quem deseja refletir sobre a vida. Ela é útil para a humanidade.

A filosofia estabelece as bases, os conceitos e os limites do próprio saber humano. A filosofia nos ajuda a pensar melhor, com clareza.

E quando falamos sobre pensar melhor, estamos falando sobre a incrível capacidade humana de identificar PADRÕES e do uso da LÓGICA.

Sim, porque nós, seres humanos, procuramos por padrões em todas as coisas.

Quer ver um exemplo? Imagine que você acabou de colocar o lixo para fora de casa e logo em seguida percebe que não está encontrando a chave do carro que estava na sua mão há poucos minutos.

O que você faz? Se você for como a maioria das pessoas, você considera de bate pronto a possibilidade de que você tenha jogado a sua chave fora junto com o lixo.

Por quê? Porque você faz uma associação entre dois eventos que estão acontecendo juntos: jogar o lixo fora e não achar a chave. Logo, concluo que devo ter jogado a chave fora com o lixo sem querer.

Existe uma grande chance desta associação só existir na sua cabeça. Em muitos casos, a chave só está em outro lugar.

A ciência nos diz que a gente faz isso o tempo todo e que, normalmente, erramos bastante sobre isso.

Este exemplo da chave que eu dei agora é um exemplo de falácia lógica, uma falácia conhecida como correlação coincidente. Basicamente, ela consiste nesta ideia de que dois eventos que ocorrem em sequência cronológica estão necessariamente interligados através de uma relação de causa e efeito.

A filosofia ajuda a gente a questionar estes nossos vieses e analisar melhor os contextos em que as coisas acontecem, as nossas crenças. Você passa a ver a própria realidade de uma outra perspectiva. Você começa a identificar padrões e entender como a coisa toda funciona.

Quer ver mais uma coisa interessante?

Responda rapidamente para mim: “Quantos pares de cada animal Moisés levou para a sua arca?”

Eu não sei qual foi sua resposta, mas eu sei é que Moisés não levou animal nenhum para a arca. A arca era de Noé e não Moisés.

Talvez você tenha percebido a pegadinha. Mas, de modo geral, a maioria das pessoas não capta este detalhe. Não é que elas não conhecem a história da arca de Noé. Elas são influenciadas pelo contexto.

O primeiro ponto é que o nome de Moisés não é a informação mais relevante na pergunta e sim a arca e os animais, que são imagens muito mais fortes em nosso imaginário e roubam a nossa atenção.

Também tem o fato de que Noé e Moisés são nomes meio parecidos. E além disso, os dois são nomes que estão dentro de um mesmo contexto, a bíblia e, mais especificamente, o velho testamento.

Então, o nosso cérebro considera o contexto geral e ignora detalhes deste tipo.

No dia a dia, nós somos muito influenciados por este tipo de coisa: por vieses, por padrões e por contextos.

Os profissionais de marketing exploram muito tudo isso.

Por exemplo, por que no varejo é normal usar uma comunicação que diz assim: “compre 4 bombos por R$2,00” ao invés de simplesmente escrever: “compre cada bombom por R$0,50”?

Teoricamente, é a mesma coisa. Teoricamente… praticamente a coisa muda de figura.

Na prática, apenas a sugestão contida na comunicação de comprar 4 ao invés de 1, o simples fato disso estar escrito, faz com que mais pessoas comprem 4 e não somente 1.

Este é um estudo real, feito em 86 lojas de doces nos Estados Unidos. Os pesquisadores acompanharam as compras nas lojas. Os dados mostraram que o anúncio com venda sugerida de 4 unidades vendeu 32% a mais do que os que tinham anúncio de 0,50 a unidade.

Viés, padrões e contextos. Muitas de nossas decisões não são racionais como imaginamos e somos muito mais influenciáveis do que imaginamos.

Então, hoje eu dei só uma leve introdução ao tema. Só para desmistificar esta ideia de que a filosofia é um bando de gente discutindo o sexo dos anjos. Ela é útil para várias coisas, sobretudo, para pensar melhor.

Aliás, já que estamos falando de filosofia, nada melhor que acabar falando sobre um dos maiores mestres da filosofia. Possivelmente o maior de todos quando o assunto é demonstrar as inconsistências e incoerências entre o que as pessoas diziam saber e o que de fato sabiam. Ele andava pelas ruas de Atenas e sempre que alguém estava cheio de certeza sobre um assunto, de pergunta em pergunta, ao longo do diálogo com a pessoa, ele a fazia reconhecer a sua ignorância. Ele mostrava que ela não sabia o tanto que imaginava.

E que utilidade tem isso! Reconhecer a nossa própria ignorância é o primeiro passo para a sabedoria. Afinal, como escreveu Epíteto, “é impossível para um homem aprender aquilo que ele pensa que sabe”.

Bom, caros e caras, isso é tudo o que eu tinha para falar por hoje. Se você gostou deste conteúdo, curte o vídeo, compartilha com outras pessoas para assim, cada vez mais, a gente usar bem a tecnologia, dar utilidade às redes sociais, compartilhar conhecimento, conectar ideias e engajar mentes, honrando a sua atenção e respeitando o seu tempo. Por hoje é só, pessoal. Até a próxima.

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