Amor com amor se paga — a importância do amor corporativo

Marta Parreira
MindPartner
Published in
6 min readJun 19, 2024

Amor Corporativo — a cola que une a empresa e colaboradores

No mundo das empresas, utilizar um termo como “amor” pode ser um conceito abstrato, exagerado, descontextualizado e parece remeter para a ideia de que “nas empresas temos de ser todos uma família”. Não é o caso. O amor corporativo não se refere a um sentimento romântico, mas a uma cultura empresarial onde o respeito, empatia, confiança e apoio mútuo são valorizados e incentivados. Diria que, em termos simples, é o ingrediente secreto que transforma um grupo de pessoas numa verdadeira equipa.

No ambiente corporativo, o “amor” pelo projeto e pelos colegas pode ser comparado a matar dois coelhos com uma cajadada só: quando os funcionários se sentem valorizados e motivados, não apenas melhoram o seu desempenho individual, como também contribuem para o sucesso coletivo da empresa.

Falta de amor corporativo — uma receita para o fracasso

Como qualquer relacionamento, o amor corporativo pode ser frágil e estar suscetível a várias ameaças. Para compreender o que é e como o promover, é essencial perceber os fatores que podem miná-lo.

  • Não é com vinagre que se apanham moscas

Comecemos pela falta de reconhecimento: quando os colaboradores sentem que os seus esforços não são valorizados, começam a sentir que, por mais que se esforcem, parece que nunca é suficiente. Isto pode, por vezes, conduzir a sentimentos de desmotivação e ressentimento, onde o entusiasmo e a dedicação gradualmente se começam a dissipar. A verdade é que os colaboradores que se sentem subestimados tendem a reduzir o seu nível de comprometimento e estão mais abertos à possibilidade de encontrarem oportunidades noutros lugares em que o seu contributo seja mais valorizado.

  • O que não é dito, fica subentendido

A comunicação é a base de qualquer relacionamento, incluindo os relacionamentos no ambiente corporativo. Assim, a falta de comunicação eficaz é outro sinal de desamor. A ausência de uma comunicação aberta e clara pode conduzir a desconfiança e mal-entendidos, abrindo espaço a um terreno fértil para problemas. Desta forma, um ambiente onde a comunicação falha, pode ser comparado a uma torre de Babel — cada pessoa fala “uma língua diferente”, sem entendimento mútuo, o que inevitavelmente gera conflitos e confusões. A ausência de clareza nas instruções, feedbacks vagos e falta de transparência sobre os objetivos da empresa são alguns exemplos de como a má comunicação pode manifestar-se.

  • Onde há fumo, há fogo

No ambiente corporativo, a transparência é fundamental para manter a confiança e coesão dos colaboradores. Segredos, comunicação misteriosa, falta de clareza nas decisões… tudo isto pode criar desconfiança. Se os colaboradores sentem que não têm todas as informações importantes e falta clareza nas decisões, está criado o combustível que alimenta a desconfiança e mina o amor corporativo.

  • Manda quem pode, obedece quem tem juízo

Um estilo de gestão autoritária, rígida e controladora pode sufocar a criatividade, felicidade e motivação que, obviamente, não fomentam um ambiente de amor corporativo. Este estilo de liderança coloca ênfase no controlo rígido e na obediência estrita às ordens dos superiores, onde a tomada de decisões é centralizada, esperando-se que os colaboradores sigam as instruções sem questionar.

  • Cada um por si e Deus por todos

Em muitas empresas, a competitividade é vista como uma forma de impulsionar a produtividade e alcançar metas ambiciosas. No entanto, quando levada ao extremo, essa cultura pode transformar-se num ambiente onde cada funcionário luta para se destacar a qualquer custo. Mentalidades associadas a individualismo extremo, usualmente alimentadas por culturas de competitividade excessiva, impactam, obviamente, no amor corporativo. São abordagens em que se promove a rivalidade e isolamento, em vez da colaboração e trabalho em equipa.

  • Lobos em pele de cordeiro

Em alguns locais de trabalho, o ambiente pode tornar-se tóxico devido à presença de comportamentos prejudiciais e disfuncionais. O assédio, bullying e favoritismo são sintomas desse desamor corporativo, onde a confiança e o respeito mútuo são corroídos, deixando os colaboradores vulneráveis e desprotegidos.

Do desamor… ao amor

Promover o amor corporativo exige intencionalidade e esforço constantes. Para criar uma cultura baseada no amor corporativo, podem ser implementadas várias estratégias.

  • Quem tem boca vai a Roma

A comunicação aberta e clara é fundamental para nutrir o amor corporativo. Quando os líderes comunicam de forma transparente e os colaboradores partilham informações de maneira aberta, cria-se um ambiente de trabalho positivo e colaborativo. A comunicação eficaz envolve mais do que apenas falar — trata-se também de ouvir ativamente. Esta reciprocidade na comunicação fortalece o amor corporativo e promove um ambiente onde todos trabalham para alcançar objetivos comuns. Esta comunicação aberta pode ser fomentada através de reuniões regulares que permitam discutir progressos, desafios e ideias e dar e receber feedback constante de forma construtiva.

  • A união faz a força

Quando os colaboradores estão unidos por um propósito comum, a empresa resiste mais e melhor às adversidades e é mais capaz de enfrentar desafios. Assim, em momentos de crise ou mudança, a união dos colaboradores pode ser a diferença entre o sucesso e o fracasso. Além de fortalecer o espírito de equipa, a colaboração entre os colaboradores traz uma série de benefícios tangíveis para a empresa. A colaboração promove a inovação, ao reunir diferentes perspetivas e experiências, gerando novas ideias e soluções criativas. Além disso, a colaboração aumenta a eficiência e a produtividade, ao permitir que os colaboradores partilhem tarefas e trabalhem de forma mais integrada.

Adotar práticas de gestão participativa, onde os colaboradores têm voz e influência nas decisões que afetam seu trabalho, pode ajudar a cultivar um ambiente de amor corporativo. Reconhecer e valorizar as contribuições individuais e proporcionar oportunidades de crescimento e desenvolvimento são passos importantes para construir um ambiente de trabalho positivo e motivador.

  • Quem (não) semeia (não) colhe tempestades

Uma forma de promover o amor corporativo é reconhecer e valorizar o trabalho através de sistemas de reconhecimento e apreciação. Para combater os ambientes tóxicos é de suma importância adotar uma abordagem de tolerância zero para o assédio, bullying e favoritismo. Isto requer políticas claras e eficazes de prevenção e resposta, treino dos líderes e colaboradores sobre o respeito mútuo e a dignidade no local de trabalho, e uma cultura de abertura e transparência onde os colaboradores se sintam seguros para relatar comportamentos prejudiciais sem medo de retaliação.

Também é importante desenvolver uma liderança com empatia e criação de um ambiente de trabalho saudável através da promoção de práticas de bem-estar, com pausas regulares, espaços confortáveis e um ambiente onde os colaboradores se sentem apreciados e conectados.

  • A verdade vem sempre ao de cima

Ser claro nas metas da empresa, decisões importantes e mudanças que têm potencial de afetar a equipa. É importante “abrir o jogo” com os colaboradores, partilhar informações importantes e explicar as razões por trás das decisões. Quando os líderes são honestos, mesmo sobre as dificuldades e desafios que a empresa enfrenta, os colaboradores sentem-me mais incluídos e confiantes. Assim, as bases da transparência conduzem a um ambiente onde a criatividade prospera e em que os colaboradores se sentem livres para expressar as suas ideias e experimentar novas abordagens, visto que a felicidade do trabalho estará indubitavelmente ligada ao sentimento de autonomia e realização pessoal.

Benefícios do amor [corporativo]

Investir numa cultura de amor corporativo traz inúmeros benefícios, incluindo:

  • Aumento da produtividade, visto que colaboradores que se sentem valorizados e respeitados tendem as ser mais produtivos;
  • Maior retenção de talento, o que reduz a rotatividade e atrai talento;
  • Melhoria na saúde mental, reduzindo o stress e melhorando o bem-estar emocional dos colaboradores;
  • Fomento da criatividade e inovação, impulsionando a expressão de ideias e opiniões que conduzem a soluções inovadoras.

Assim, ao cultivar um ambiente de trabalho baseado no respeito, apoio e compaixão, as empresas podem criar uma equipa mais envolvida, feliz e produtiva. Porque, afinal… “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”, e um futuro corporativo bem-sucedido é, e deve ser, construído sobre os alicerces do amor.

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