Por que e como começar a ter governança corporativa na empresa?

Felipe Oliveira
Mindset Ágil
Published in
7 min readMay 12, 2023

Governança corporativa parece ser uma coisa grande demais, não é? Para alguns, pode significar burocracia e processos excessivos. Para outros, algo apenas para empresas grandes, de capital aberto. Mesmo com esses vieses — incorretos -, há centenas de empresas que aplicam e tiram proveito das suas práticas. No entanto, há milhares de outras que mal conhecem o assunto ou pior: pensam que aplicam. E agora?

O que é governança mesmo?

Existem diversas definições para governança corporativa. Segundo o IBGC:

Governança corporativa é o sistema pelo qual as empresas e demais organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo os relacionamentos entre sócios, conselho de administração, diretoria, órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas.

A governança corporativa é uma área da administração que ajuda a organização em âmbito estratégico, garantindo mecanismos sólidos para a boa gestão do negócio. De forma simples, o IBGC estabelece para a governança 4 princípios essenciais:

1. Transparência

Consiste no desejo de disponibilizar para as partes interessadas as informações que sejam de seu interesse e não apenas aquelas impostas por disposições de leis ou regulamentos. Não deve restringir-se ao desempenho econômico-financeiro, contemplando também os demais fatores (inclusive intangíveis) que norteiam a ação gerencial e que conduzem à preservação e à otimização do valor da organização.

2. Equidade

Caracteriza-se pelo tratamento justo e isonômico de todos os sócios e demais partes interessadas (stakeholders), levando em consideração seus direitos, deveres, necessidades, interesses e expectativas.

3. Prestação de contas

Os agentes de governança devem prestar contas de sua atuação de modo claro, conciso, compreensível e tempestivo, assumindo integralmente as consequências de seus atos e omissões e atuando com diligência e responsabilidade no âmbito dos seus papéis.

4. Responsabilidade corporativa

Os agentes de governança devem zelar pela viabilidade econômico-financeira das organizações, reduzir as externalidades negativas de seus negócios e suas operações e aumentar as positivas, levando em consideração, no seu modelo de negócios, os diversos capitais (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, social, ambiental, reputacional etc.) no curto, médio e longo prazos.

Na prática, esses princípios são essenciais para manter a boa relação com os stakeholders, porém, é importante que a empresa também crie seus próprios princípios para atender às necessidades do negócio e estruturar melhores processos.

Com o passar dos anos, a governança corporativa se difundiu nas mais diversas organizações, criando melhores práticas para a gestão estratégica de projetos e produtos, melhoria de fluxos de equipes e áreas, liderança e outros temas. Na essência, segundo Alexandre Di Miceli da Silveira, a governança possui 4 objetivos centrais:

  1. Aprimorar continuamente o processo decisório para que as decisões sejam sempre tomadas visando ao melhor interesse de longo prazo da organização, fazendo referência aos conselhos, comitês, órgãos de governança, seu funcionamento, estruturas e políticas decisórias;
  2. Reduzir a probabilidade de surpresas negativas decorrentes de ações intencionais ou voluntárias por acionistas, executivos ou colaboradores, contemplando a gestão de riscos, princípios, valores, cultura organizacional, compliance e outros aspectos envolvendo conflitos de interesse e ações internas;
  3. Proporcionar elevada transparência para os públicos internos e externos, conectando-se com as questões de transparência financeira e não-financeira, sustentabilidade, questões sociais, e aspectos de comunicação interna e externa;
  4. Incentivar e assegurar equidade de tratamento e o exercício efetivo dos direitos de todos os sócios, envolvendo todos os aspectos e procedimentos sobre o relacionamento com acionistas e investidores, assembleias, resolução de conflitos e disputas societárias, etc.

Por que ter governança na empresa?

Sabe-se que a governança corporativa é um pilar importante nas organizações, pois ajuda na definição, construção e manutenção de políticas e mecanismos que aprimoram a qualidade das decisões e otimiza o processo decisório, mantém a transparência organizacional para os stakeholders, direcionam, monitoram e mitigam riscos de mercado e de cunho estratégico, além estabelecerem controles adequados para leis e regulamentos relacionados ao negócio da empresa e suas parcerias. Através da governança, as empresas passam a obter mais controle e alinhamento com a empresa, aumentando a confiança dos seus principais stakeholders.

Mesmo sendo um tema amplo e com diversos elementos que aparentam ser burocráticos, a governança corporativa é um elemento chave para o crescimento e sustentabilidade da organizacional, seja em olhar ambiental, fiscal, financeiro ou social. Através da governança, a sua empresa garante que possui e controla os devidos indicadores do negócio e sua estabilidade, provendo ações rápidas e de alto para a gestão de riscos, conformidade com leis e normas do segmento, além de fornecer aos colaboradores as devidas políticas para a gestão da empresa, como princípios e valores, políticas de remuneração, diversidade e sustentabilidade.

Por onde começo ao falar de governança?

Ainda está por aí? Que bom!! Parece complicado tudo isso aí, não? Bom, se a sua empresa não possui os devidos controles, de fato, pode ser um desafio e tanto começar a governança do zero. No entanto, é possível dar esse pontapé sem muita dor de cabeça, considerando os benefícios que ela possui.

  • Estruture o seu conselho

Conselheiros na organização são usados para apoiar o CEO, acionistas, fundadores e outros membros executivos da organização no processo decisório, contribuindo na resolução de dores estratégicas e uma visão de alto nível para apoiar no atingimento de seus objetivos. O conselheiro atua como um diretor independente, podendo ser um conselheiro de administração ou consultivo. Aconselhamos iniciar com um ou mais conselheiros consultivos, principalmente em temas mais específicos, como ESG (este serviço é fornecido pela Mindset Ágil).

  • Entenda a sua estrutura atual

Para traçar uma rota para um nível superior de governança, é preciso entender a realidade da sua organização, analisando os controles atuais, riscos orçamentários e legais, e estrutura hierárquica da empresa. Através desse “assessment”, você irá conhecer os verdadeiros gaps presentes na sua gestão. Existem diversas maneiras para construir essa avaliação, por isso, sugerimos começar pelos temas que considerarem mais críticos ou que podem conter os maiores gargalos / deficiências.

  • Conecte-se com o código de ética da empresa

Governança corporativa também tem a ver com cultura e comportamentos comuns na empresa. Se é comum decidirmos positivamente sobre algo, mesmo com conflitos de interesse, então a sua cultura será moldada em volta deste comportamento. Por isso, desenvolva e adote um código de ética que reflitam os valores da empresa e de justiça, considerando políticas, procedimentos e condutas adequadas para cada situação.

  • Colete e controle os principais indicadores (KPIs) da organização

A sua empresa funciona a partir do bom funcionamento de diversos indicadores diferentes que informam, quer sejam monitorados ou não, se a empresa está seguindo o caminho certo e próspero ou se está rumo à danação. Procure saber quais são os principais indicadores e entenda seu momento, riscos, processos de monitoramento e a confiabilidade das informações.

  • Conheça a saúde financeira e legal da empresa

Mesmo que algum dos indicadores da sua empresa sejam relacionados a custos, dê uma atenção especial para suas finanças. Entenda se há algum tipo de acompanhamento rotineiro, se todas as notas, boletos e pagamentos está em conformidade, se há alguma discrepância fiscal, seja sobre impostos, leis, normas ou quaisquer relações com parceiros e clientes que possa estar em desacordo com o correto e ético. Existem diversas nuances que podem prejudicar sua empresa, então garanta tudo está sob controle.

  • Delegue temas específicos

Apesar do conselho consultivo ser uma ótima abordagem para apoiar a liderança e governança da empresa, há temas específicos que podem precisar de uma atenção dedicada. Um exemplo é a alta demanda para que empresas deem foco em metas ESG, principalmente empresas do ramo industrial e energia. Por isso, ter um comitê ESG ou comitês temáticos sobre sustentabilidade, diversidade e inclusão, ou acessibilidade, pode ser uma escolha sábia.

  • Abra espaço para ferramentas e inovação

Governança tem uma conexão vital com visibilidade estratégica. Para que isso se torne possível, é preciso ter as ferramentas adequadas que suportem esse nível de visibilidade, ajudando na comunicação, transparência e controle. Tais ferramentas podem estar relacionadas a exposição de dados e relatórios, como Power BI e Tableau, controle de documentos, e à governança de projetos, portfolios e produtos, como o Kanbanize. Não tenha receio de buscar tais ferramentas para inovar os mecanismos de gestão e governança.

  • Evite vieses cognitivos

Trabalhar próximo à diretoria pode trazer, como consequência, diversos vieses inconscientes. O viés da confirmação, por exemplo, é a tendência de confiarmos mais em opiniões e informações que confirmem as nossas ideias e convicções e resistir àquelas contrárias. Com isso, as empresas perdem a oportunidade de trazer mais diversidade e inovação para o âmbito estratégico, executando as mesmas ideias e projetos. Por isso que empresas como Nubank e Banco PAN apostaram em trazer para seus conselhos artistas que não estavam diretamente ligados aos seus segmentos.

O que a governança tem a ver com ESG?

A governança corporativa é um pilar crítico para o estabelecimento, controle e atingimento das metas criadas para a agenda ESG. Sem ela, a empresa constrói para si mesma um grande obstáculo para cumprir com essas metas, impedindo os ganhos relacionados ao tema.

Segundo matéria publicada no Estadão, as pequenas e grandes empresas precisam compreender a profundidade e benefícios da governança, seja para questões ambientais, organizacionais ou sociais, através e mecanismos simples e práticos de controle. É um tema que, apesar de parecer ter sido “esquecido” em alguns círculos, é uma peça-chave para a maturidade que a organização precisa ter, seja para trabalhar com ESG ou para desbloquear o próximo “nível” de resultados que a empresa busca.

Governança é tema crítico e já de conhecimento de muitos executivos. Não obstante, tivemos vários casos referentes a escândalos de governança, corrupção e até de trabalho análogo à escravidão que poderiam ter sido rapidamente detectados através de uma boa governança. Por isso, aqui na Mindset Ágil, buscamos levar aos nossos clientes as ferramentas, abordagens e controles adequados para que possam ter uma visão estratégica e evoluir a maturidade da sua gestão.

Até a próxima!

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Referências:

Princípios da Governança Corporativa

https://www.ibgc.org.br/blog/principios-de-governanca-corporativa

Entendendo governança

https://www.raizen.com.br/blog/governanca-significado

ESG sem o G: governança corporativa é o pilar menos valorizado, diz pesquisa

https://www.estadao.com.br/economia/governanca/esg-sem-g-governanca-menos-valorizada-pesquisa/

Governança corporativa: o essencial para líderes

https://www.amazon.com.br/dp/B08JQKNXWN/ref=tsm_1_fb_lk

O que é um conselho consultivo?

https://abc3.org.br/o-que-e-um-conselho-consultivo/

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