O dinheiro como mini-resistência

Como o #DiadeDoar contribui para reduzir desigualdades e fomentar uma sociedade civil mais forte

Ricardo Borges Martins
Blog da Minha Sampa
4 min readNov 28, 2017

--

Toda vez que você gasta dinheiro, está dando um voto ao tipo de mundo que deseja ver — Anna Lappé

Soa estranho associar dinheiro a ação social. Assim como parece suspeito vincular dinheiro a política. Essa ideia de que as iniciativas sociais deveriam se dar na base do voluntarismo, de que a política deveria ser um sacerdócio é generalizada e está incrustada nas nossas mentes. Mas isso é bobagem!

Ações sociais e políticas relevantes requerem dinheiro para vingar. E você tem um papel direto sobre isso. E nadar contra a corrente, exige empenho deliberado.

A gente vive tentando ignorar os efeitos da maneira como nós gastamos nosso dinheiro. Em tempos de #BlackFriday, nossos esforços estão em reafirmar o consumidor maximizador que habita em nós. Fechamos constantemente os olhos para os efeitos que nosso dinheiro tem no mundo.

E em um cenário como esse, quase todas as iniciativas sociais, ambientais e políticas (não-partidárias) ficam condenadas a impactos marginais sobre o todo.

Em algum lugar, ainda existe luz. Pode não ser muita luz, mas ela vence a escuridão — Charles Bukowski

Pequenas resistências

Um historiador jesuíta francês, chamado Michel De Certeau, desconfiava que as ciências sociais, muito adeptas às macro teorizações, deixavam escapar grandes acontecimentos que se passavam no microcosmo. Por sua suspeita, De Certeau se tornou um grande observador das micro-práticas, dos pequenos gestos do cotidiano que costumam fugir do escopo de outros cientistas. E foi nessa procura que o jesuíta francês descobriu aquilo que ele chamava de pequenas resistências.

Não importa quão opressor fosse o macro universo, os indivíduos encontravam saídas. Em seus espaços mais íntimos — nem sempre privados — as pessoas vivem em constante reapropriação e resignificação do sistema. Segundo o historiador, nesses gestos encontra-se uma abundância de oportunidades para pessoas comuns subverterem os rituais e representações que as instituições buscam impor sobre eles.

O dinheiro, como todo símbolo, é também sujeito a reapropriações. É possível no uso do dinheiro resistir à lógica de consumo nele embutida.

Essa resistência tem nome: doação.

É possível reduzir desigualdades e fomentar uma sociedade civil mais forte re-utilizando o sistema, re-utilizando o dinheiro. Há quem acredite que a solução para o setor social dependa da criação de uma cultura de pedir; já eu, eu acredito que essa mudança deva ser fruto de uma cultura de doação.

Eu acredito que você — você mesmo — que está lendo isso agora precisa doar da mesma forma que você comprou seu último par de calças jeans. Não chegou alguém te implorando para comprá-lo, ninguém te ligou e falou que a indústria estava desesperadamente precisando desse dinheiro, que a empresa precisava pagar os seus funcionários. Você foi lá, procurou, encontrou, experimentou, gostou e comprou. É isso, você deveria aplicar essa mesma lógica às suas doações.

A sociedade será sempre capaz de influenciar significativamente as empresas que lucram e as empresas que não, assim como é capaz de sustentar os projetos, as organizações e os movimentos que vingam e os que não. O dinheiro é uma cédula, gaste como se estivesse depositando-o em uma urna.

Dia de Doar

Foi nesse espírito que nasceu o Dia de Doar, um movimento global para promover a solidariedade e a cultura de doação. A ideia surgiu nos EUA como resposta ao consumismo da #BlackFriday e hoje a campanha já ocorre em mais de 80 países.

As doações são uma forma de mini-resistência, de subversão do sistema. Você não precisa ser um franciscano nem aderir a um voto de pobreza, mas se você se incomoda com o mundo e quer fazer algo a respeito, você terá que sacrificar parte do que você tem em benefício do coletivo. Você não terá que largar tudo e ir trabalhar no setor social, você pode produzir impacto exatamente de onde está.

E eu queria aqui te fazer uma sugestão…

Na Minha Sampa a gente trabalha todos os dias por uma política mais participativa. Cobramos e pressionamos o poder público por uma SP mais inclusiva, democrática e sustentável. Somos independentes e apartidários. Não aceitamos dinheiro de governos, partidos, empresas públicas ou privadas.

Nosso compromisso é com os sonhos de milhares de paulistanas e paulistanos que querem viver em uma cidade melhor. Esse trabalho é o típico trabalho insubstituível. Ninguém mais pode fazer, só a sociedade civil mesmo.

Mas para que a gente possa continuá-lo, precisamos do seu apoio. Só assim nossa equipe vai poder continuar pressionando e fiscalizando os políticos da cidade, reagindo com urgência para defender o interesse e a participação dos cidadãos nas decisões públicas que afetam as nossas vidas.

Não precisamos de muito, precisamos de muitos!

Neste #DiaDeDoar, assumimos o desafio de conseguir 50 novos doadores em 24 horas. Com 12 reais por mês, você pode nos ajudar a fiscalizar o poder público, gerar conteúdos e produzir campanhas para transformar SP.

Topa ajudar? www.diadedoar.minhasampa.org.br

PS. Este texto é quase um auto-plagio de minha coluna no Papo de Homem: https://papodehomem.com.br/o-dinheiro-como-mini-resistencia/

--

--