Buchenwald é Capitalismo

Sarah Carmesim
Miséria da Razão
Published in
4 min readOct 25, 2020
Campo de concentração de imigrantes ditos ilegais na fronteira EUA-México. Foto tirada em 2018. (U.S. Customs and Border Protection’s Rio Grande Valley Sector via AP) (Sem crédito)

O crescimento de crimes racistas e violência antissemita, a epidemia de Suásticas e outros símbolos, são vistos de maneira bem conveniente para restaurar a cor e prestígio das virtudes da democracia progressista, para justificar o apelo: a ameaça do Nazismo voltou, junto à ela os horrores dos campos de concentração e a violência brutal contra os fracos! Que nós nos unamos juntos para salvar a pureza intocada do antifascismo! E por que não, reconstruir uma frente popular para defender os direitos humanos!

Então, deveria a democracia ser o baluarte contra o retorno da besta triunfante? Não existem, portanto, nenhum Buchenwalds ou Mauthausens escondidos no dia em que a pureza da democracia seria protegida da ameaça dos fascistas portando suásticas?

Confortavelmente, é claro; mas não desse jeito. Buchenwald não precisa ressurgir para o retorno das “regurgitações fascistas”, Buchenwald já está aqui, queridos cavaleiros da democracia universal. Esteve aqui desde o dia que o Fascismo foi derrotado nas armas e foi herdado pelos democrats vitoriosos.

O que foram os últimos 15 anos de dominação perfeita de democracia em escala mundial, senão quinze anos de fascismo agravado? Vocês têm medo da ressurgência do genocídio, intelectuais dos blocos democratas? Então, o que foi o massacre de quarenta mil argelinos em 1945, sob a bandeira da frente universal do antifascismo burguês pelas mãos do grande líder da resistência De Gaulle e seu vice-presidente Thorez, se não um exemplo clássico de genocídio ao estilo da cruz de ferro? O que foram as guerras localizadas na Coreia, Argélia, Indochina, Hungria, Egito, etc., se não uma repetição — sem as suásticas, claro! — da melodia hitlerista?

A ultra racista, principalmente em seu estatuto racial — certamente não diferente do modelo Hitlerista — África do Sul, é parte das ultra democráticas Nações Unidas, mas ninguém pensou em condená-la sob o veredito da “consciência universal”. A “linha vermelha” é tradicionalmente parte das políticas da democracia universal: Grã-Bretanha, a França colonialista e a Bélgica têm suas mãos sujas de sangue negro e semita, mas a primeira sempre será um dos pilares nos encontros de “paz”.

A Cruz Vermelha Internacional lançou um grito que foi ignorado acerca da tortura praticada na Argélia mesmo antes de De Gaulle, ainda durante o governo do pro cônsul “socialista” Lacoste e continuado com muita boa vontade por seus sucessores. Estas não são métodos de tortura com a marca de Hitler, mas ainda sim são torturas. Apenas alguns reclamam, todos elogiam os torturadores em nome da “liberdade”, nos Estados Unidos as legislações racistas diminuem, mas o Negro continua a ser um cidadão de segunda categoria. Enquanto aos “genocídios”, o Kremlin — na sua longa história de contrarrevolução e diplomacia, antes pró Hitlerista, agora pró Ocidental e sempre reacionária — tem muito a ensinar.

Não, o Fascismo não morreu, pois o Capitalismo não morreu!

No seio de uma sociedade que diz ter estabelecido as quatro liberdades e educado as novas gerações para venerá-las, o mais recente fenômeno de jeans azuis se destaca marcando as paredes com Suásticas, o que esta sociedade pode se gabar de ter “ensinado” a seus jovens se não o que foi mencionado acima? Ou talvez a sociedade democrática esteja escandalizada pois os jovens ousam tomar seu sinistro monopólio do terror e perseguição racial? O que acontece é o sinal da podridão que a sociedade mercantil, a sociedade de lojistas, vendedores de produtos, “serviços” e carne humana emana de si: e essa podridão não é um fenômeno patológico em que a democracia deveria se livrar; pois faz parte da mesma, podre e apodrecedora.

O método de “procura pelos culpados” é algo endêmico do capitalismo: se as coisas não vão bem, o Judeu e culpado, e ao mesmo tempo a insatisfação das massas exploradas é encaminhada aos braços do anti Judeu.

Apenas uma sociedade organizada por proletários sob uma base outra da que um homem e seu trabalho são considerados mercadorias para serem vendidas e compradas no mercado, e trabalho humano é valorizado como meios de preservar e reproduzir a espécie, não reproduzir capital infinitamente, será capaz de remover da face da terra não apenas as Suásticas nas paredes, mas a violência brutal praticada sob milhares de bandeiras e símbolos diferentes, e embaixo do escudo da hipocrisia dos moralistas. Apenas a luta do proletariado mundial de todas as “raças” e estados pode enterrar o monstro chauvinista.

A fétida onda racista desperta os proletários à consciência de que o capitalismo, em qualquer forma, é opressão, brutalidade e morte.

“ll Programma Comunista” n° 1, 1960.

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