O rio Paraopeba está morto

Fotos e textos de Léo Otero para Mídia NINJA

Mídia NINJA
Missão NINJA em Brumadinho

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Quanto você cede?

Qual é a tua sede?

Tua ganância mata,

afoga, explora…

Dá medo!

Quanta vida se foi…

Em cidade pequena todo mundo se conhece, e em Brumadinho não é diferente.

Dos que sobreviveram, cada um perdeu pelo menos duzentas pessoas do círculo próximo de relacionamentos.

Conversando com moradores dali de toda a vida, as vidas humanas que se perderam com o rompimento da barragem de rejeitos químicos e metais pesados da mineradora Vale, gira entre 450 pessoas, são mais vidas do que as que estão sendo declaradas oficialmente.

O Rio Paraopeba morreu

Mataram o rio!!!

Não é um rio sujo, é um rio morto!

Eu nunca tinha visto um rio morto, e é algo aterrorizante.

Ao redor, centenas de urubus, no ar, um forte cheiro de carniça misturado com químicos que ataca agressivamente o organismo e se espalha por toda a cidade.

No leito morto, entre a massa de dejetos químicos, emergem desde carros, casas, objetos pessoais, todas as espécies de peixes que habitavam alí, inclusive o resistente Bagre Africano, também restos mortais de animais e cadáveres humanos.

O rio Paraopeba está morto.

Esta estação de Brumadinho foi construída em 1976,a Vale já foi estatal, FHC privatizou, e em 2001 a alemã Tüv Süd vendeu esta estação da mineradora a Vale e esta representa somente 2% da exploração de minérios da Vale.

É a segunda barragem que se rompe em 4 anos e existem mais aproximadamente outras 200 em risco. E nos dias que passei ali, presenciei centenas de caminhões e vagões de trem carregados de minério operando a todo vapor. A máquina não para.

O atual ministro do meio ambiente Ricardo Salles, já foi condenado em São Paulo por favorecer empresários do setor de mineração de maneira fraudulenta enquanto era secretário do Meio Ambiente por São Paulo, e agora como se não bastasse ele quer flexibilizar as regras para licenciamento e fiscalização ambiental e incluir a autodeclaração permitindo a falta de fiscalização por órgãos externos as empresas.

Estão nos matando e avançando, o que podemos fazer?

No meio de toda essa tragédia, também encontrei muita luz, força, amor e resistência entre as pessoas que estavam ali, sejam os moradores que tem tanta pureza, tanta verdade no olhar, ou as pessoas que estavam ali para resgatar, atender, conversar, apoiar e ser luz no meio de tanta escuridão, e também xs companheirxs de comunicação que se expuseram e arriscaram a estar alí passando essas informações tão difíceis em uma situação extrema.

Renasceremos!

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