A autoridade que se dá nas relações

Quando a comunhão é instrumento de poder.

Emblemático ou insignificante?

A narrativa de um acordo comum presente na constituição da criação do homem, dita por Deus: (FAÇAMOS) , evidencia a presença de uma relação harmoniosa igualmente responsável no processo construtivo humano. O Deus Soberano juntamente com o Filho e o Espírito, sinaliza a natureza relacional do homem desde o processo criativo, transformando sua consciência para o poder que as relações ocupam.

As relações são pilares fundamentais para a existência de poder. Por exemplo, nenhum governo, por mais ditatorial ou totalitário que possa ser, tem a presença de autoridade marcada sem que haja submissão e serviço de um povo. Todo autoritarismo, ou poder ditatorial,não consegue se sustentar sem o apoio de gente ou das grandes instituições, também formado por elas. É sobre essa autoridade evidenciada que Jesus ensina, sobre como nas relações o poder ganha legitimidade.

O caminho do homem em Cristo, se destina (eleição), em ser a imagem de Jesus, que é primogênito de muitos IRMÃOS , logo, a missão dos Filhos de Deus está em reconciliar o outro para com seu Pai, afim de que nas relações o conhecimento de Deus se revele, e através disso o outro se torne um próximo-semelhante.

Enfase

Pensar a respeito dessa harmonização entre comunhão e autoridade implica assumir nosso desmerecimento diante da busca por essa fraternidade. Colocar o poder em detrimento das relações é acreditar que Deus pode ser abusado em nossa vontade. Foi por isso que Paulo disse aos corintos que suas reuniões faziam mal e não bem,pois, o comer apressadamente era o sinal de que as reuniões só aconteciam para o benefício próprio.

Da mesma forma em efésios, Paulo frisa a importância da comunhão para a espiritualidade da Igreja. Diferente do que é dito hoje nos púlpitos, o objetivo de Paulo no texto ao falar do uso exagerado do vinho não era dar foco na questão da embriaguez (apesar do texto poder ser usado sim para o combate a mesma), mas em como ela é um sinal sintomático de uma igreja doente de egocentrismo. Bebiam e comiam para encherem seus próprios ventres, assim como hoje oramos e pedimos apenas por nós mesmos. A sugestão de Paulo é para que troquemos o vinho pela mesa, para que nosso tempo de oração seja gasto também em favor do outro.

‘’falando entre vós com salmos, hinos e cânticos espirituais…’’

Ruptura

Esse déficit relacional ocupa cadeiras doutrinárias, em nossa compreensão, em nossa teologia confessional, em toda nossa cosmovisão. Egoístas em nossa busca pelo que a comunhão oferece, nos condicionamos a trabalhar a fé, a salvação e a santidade como virtudes exclusivas.

O indivíduo que não entende a autoridade que as relações detêm, ocupa-se em beneficiar de sua posição ministerial, ocupa-se em ser chamado por sua nomenclatura eclesiástica, afim de que suas expectativas sejam preenchidas. Ele é alguém que ainda não entende que sem relação não há significado em seu chamado, sem que haja quem se submeta a autoridade, não há presença de poder. Deus é honrado no dois ou três , porque ali existe expressividade familiar.

Por outro lado, há também os que perdem a mão, esquecendo-se de que a autoridade é inerente a comunhão. Onde existe família existe também hierarquia, existe responsabilidade de papéis, existe liderança. Onde houver paternidade a autoridade estará lá e será preciso lidar com ela. É por isso que o chamado de Jesus aos seus discípulos não é um chamado ao desconstrutivismo ou a subversividade. Jesus é Mestre, Deus e Rei Soberano, mesmo para os seus discípulos mais íntimos.

O chamado de Jesus a sua Igreja é por uma vida que vale a pena ser vivida. Experimentada na comunhão, fundada no respeito. Cristo quer uma Igreja que antes de sentar a mesa espera uns aos outros, que divide o pão e as preocupações, compartilha bençãos e aflições. Assim seremos fortes.

É o que Deus quer. Comunhão e autoridade como instrumento de poder. Sem que se abra mão do afeto.

Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. Jo 13:35