Da gestão de projetos de hardware à gestão de projetos de software

Thaiza Oliveira
mobicareofficial
Published in
8 min readFeb 2, 2022

Flexibilizando a aplicação de frameworks ágeis.

Trabalhar com projetos de hardware e projetos de software em empresas distintas, me fez refletir sobre a importância de organizar um projeto baseado em frameworks, mas mais ainda sobre a urgência de flexibilizar a aplicação de alguns conceitos, quando expostos a determinadas demandas, escopos ou times. Neste artigo, além de trazer minha experiência lidando com esses dois universos, falo também sobre os principais pontos de encontro e de divergência entre a gestão de projetos de hardware e de software — o que pode e deve ser aproveitado e o que deve ser reestruturado.

Cronograma

De acordo com a 6ª edição do PMBOK (Project Management Body of Knowledge), o processo de gerenciamento do cronograma do projeto pode ser dividido em seis etapas. São elas:

  • Planejar o gerenciamento do cronograma;
  • Definir as atividades;
  • Sequenciar as atividades;
  • Estimar a duração das atividades;
  • Desenvolver o cronograma;
  • Controlar o cronograma.

Ter um cronograma bem estruturado é premissa básica para projetos que vão além dos corporativos. Listar as atividades que precisam ser feitas e determinar um período para concluí-las é primordial para definir o tamanho do seu projeto. Além disso, esse planejamento permite avaliar até mesmo sua viabilidade — uma vez que, se o projeto demora mais do que o esperado pela sua empresa ou pelo cliente para ser entregue, ele precisa ser reavaliado.

Quando falamos de projetos de hardware, pensamos em ações e processos que não necessariamente precisam de foco quando se trata apenas de software. Importação de peças; processo logístico; estoque; homologação de produtos em agência reguladora brasileira; e muitos outros. Entretanto, alguns processos dividem a mesma importância para ambos os cenário — até porque estamos falando de hardwares que, na média, possuem uma arquitetura de software e/ou firmware embarcada. Quais processos se aplicam para cada tipo de projeto e o que deve ser considerado na elaboração de um cronograma, é o que veremos abaixo.

Etapas do Projeto de Hardware x Etapas do Projeto de Software

Antes de tudo, precisamos concordar que as seis etapas propostas no PMBOK que mencionamos acima são base para elaborar o cronograma de qualquer projeto, quaisquer que sejam suas especificidades. Ou seja, o que veremos agora é o que cada tipo de projeto requer, no que diz respeito a sua estrutura e considerando seu escopo. Vamos lá!

Com base no artigo Afinal, o que é preciso para criar o seu projeto de software?, publicado pela Equipe Monitora em abril de 2021, poderíamos resumir as etapas para implantação de um projeto de software da seguinte forma:

  • Alinhamento estratégico;
  • Definição de objetivos;
  • Levantamento de requisitos de software;
  • Especificação de requisitos de software;
  • Cronograma de execução;
  • Documentação das tarefas;
  • Testagem de funcionalidades;
  • Testagem da usabilidade e aceitação;
  • Implantação por etapas.

Analisando as etapas acima e considerando projetos de desenvolvimento de hardware que contam com software e/ou firmware embarcado, podemos afirmar que temos parte do caminho — até aqui, não há diferença na estrutura dos dois tipos de projeto. Mas então, o que falta? Para uma visão de projeto satisfatória e completa, incluímos, então, processos voltados para a arquitetura física do produto. Desta forma, adicionaríamos:

  • Levantamento de requisitos de hardware;
  • Especificação de requisitos de hardware;
  • Importação de componentes eletrônicos;
  • Prospecção de fornecedores de matéria-prima;
  • Logística (de produção, reversa, suprimentos e distribuição);
  • Controle de estoque;
  • Homologação do produto em agência reguladora nacional.

Com as etapas que resumem a estrutura do projeto e do produto definidas, agora é possível planejar, definir, sequenciar, estimar, desenvolver e controlar o cronograma do seu projeto — seja ele de desenvolvimento de software ou de hardware, como sugere o PMBOK. Neste caso, no que se refere à estrutura de projetos, planejar o desenvolvimento de software é o ponto de encontro para ambos, enquanto definir as etapas para garantir o produto físico, é o plus que deve ser considerado e gerido, quando falamos de projetos de hardware.

Frameworks

Considerando a definição literal, framework significa estrutura. No mundo de desenvolvimento, um framework pode ser definido como a união de códigos e conceitos de projetos de software distintos que resultam em uma feature genérica. Já no mundo de gerenciamento de projetos, definimos como um agrupamento de instruções e técnicas de gestão responsáveis por auxiliar na implantação de projetos de TI.

Metodologia Ágil

A metodologia ágil trata-se de um conjunto de boas práticas de gerenciamento de projetos com foco em entregas com qualidade e agilidade. Scrum, Kanban e Lean são os métodos mais conhecidos e utilizados no mercado de tecnologia.

Flexibilizando os conceitos

Para um projeto de desenvolvimento de software, normalmente veremos empresas optando por trabalhar com um quadro de atividades — seguindo os princípios do Kanban ou Scrum, em alguma plataforma de gestão de projetos. Teremos POs convertendo demandas funcionais do projeto em histórias de usuário a serem desenvolvidas, orquestração de backlog e priorização de histórias nas sprints, até que o produto tenha sido desenvolvido.

Já para um projeto de hardware, contamos com etapas que vão além da escrita de histórias para o time de desenvolvimento. Teremos demandas para o time de compras, para o time de logística, time de qualidade, entre outros. Nesse caso, é possível manter os conceitos do framework escolhido, entretanto, é importante garantir que todos os times envolvidos na concepção do produto estejam esclarecidos com relação aos métodos utilizados e, principalmente, engajados no objetivo de concluir as tarefas dentro do período determinado ou dentro de cada sprint — se estivermos utilizando o Scrum.

Para a pessoa responsável pela gestão do projeto, cabe o desafio de lidar com um quadro de atividades técnicas e não técnicas, que vão desde “desenvolver uma API” até “comprar placas eletrônicas”. A dica é não engessar os métodos e entender que os conceitos nem sempre serão aplicáveis para todos os cenários e personas. Por exemplo, temos uma sprint com demandas majoritariamente voltadas para o time de desenvolvimento, mas há uma tarefa de outro setor: “Importar 500 placas eletrônicas de circuito impresso”. Faria sentido parar o setor de compras para que participassem de uma cerimônia de encerramento da sprint? Decerto seria mais eficaz se fizéssemos um follow-up com a área para entender o último status da demanda, enquanto usamos a reunião de encerramento para validar as entregas técnicas — uma vez que estão em maioria.

Os conceitos a serem aplicados para ambos os tipos de projeto são os mesmos, a diferença está na importância de identificar quando readequá-los e como fazer isso. Garanta que a aplicação dos frameworks não seja engessada a ponto de não conseguir acompanhar tarefas além das técnicas, e nem tão flexível a ponto de não conseguir acompanhar nada.

Ferramentas de Gestão de Projeto: Usando-as a favor do seu projeto

Ao falarmos de ferramentas de gestão de projetos, imagino que você tenha pensado em pelo menos cinco delas. Isso porque o mercado oferece uma infinidade e com as mais variadas visões — de micro a macro. Definir a ferramenta que melhor se adequa para o seu tipo de projeto é uma tarefa muito importante. Estude as ferramentas e suas funcionalidades, faça simulações para entender na prática as limitações da plataforma e, principalmente, converse com o seu time para avaliar as sugestões e as ferramentas com as quais eles já estão familiarizados. Quanto menos novidades, mais o seu time consegue focar na execução de tarefas.

JIRA

Uso o JIRA para gestão de projetos desde que comecei na área e, como a fã assumida que sou, aconselho você a pesquisar sobre, caso não o conheça. Em suma, o JIRA é uma ferramenta de gestão de projetos que segue o framework ágil e que vai te ajudar a organizar seus projetos, principalmente as tarefas do dia a dia. Inicialmente idealizado para projetos de desenvolvimento de software, o JIRA conta com visões que variam entre roadmap, backlog e sprint. Além disso, também é possível acompanhar a evolução do seu projeto e até gerar relatórios para acompanhar o desempenho do time.

Ferramentas mal utilizadas atrapalham mais do que ajudam

Trabalhando com gestão de projetos de hardware, senti uma grande dificuldade no começo para entender como gerir tarefas técnicas e não técnicas no mesmo quadro — até perceber que isso não precisava ser uma regra. É complexo pensar em como usar a mesma régua para medir tarefas de natureza tão distintas, mas é possível. Como? Pensando além das ferramentas; entendendo a plataforma como suporte e não como lei.

No JIRA, por exemplo, você pode utilizar o recurso de Epics para separar histórias técnicas das não técnicas ou, se preferir, trabalhar com um board para cada squad ou área. Mas não esqueça de atrelar as tarefas predecessoras e/ou sucessoras para garantir controle do sequenciamento e entender, com facilidade, os pontos críticos do projeto. Pode também optar por categorizar tarefas de acordo com as etapas que falamos no começo ou aplicar filtros rápidos para a mesma finalidade. O céu é o limite! Hehe.

A transição

Dediquei alguns anos à gestão de projetos de desenvolvimento de hardware até escolher migrar para projetos exclusivamente de software. Apesar da rotina e algumas demandas semelhantes, lidar com um contexto, agora quase cem por cento técnico, não é a tarefa mais fácil do mundo. O que antes era apenas uma parcela de todo o projeto, agora é o trabalho inteiro — e com detalhes antes não explorados.

Nesse início de transição, precisei separar bastante tempo para observar e aprender os novos processos com os quais eu lidaria e para conseguir perceber as diferenças e semelhanças, em comparação aos fluxos que me eram comuns até então. Dessa forma, ficou mais fácil entender quais conceitos eu precisaria reformular na minha cabeça, frente ao novo desafio, e quais seguiriam intocáveis. É importante lembrar que nossa experiência profissional se dá com o acúmulo de aprendizados adquiridos ao longo do caminho, sendo assim, ser capaz de filtrar o que é pertinente e o que não é, retendo o máximo de conhecimento saudável possível, é indispensável.

Feita essa primeira análise, investi tempo na minha organização pessoal. Hora de separar os blocos: como sei fazer, como fazem aqui [na nova empresa] e como quero passar a fazer. Essa última etapa é a que dita como gerir meu projeto. Organizar o “como quero passar a fazer” é a nota mental para descartar, flexibilizar ou acatar processos.

Se você está passando ou pretende passar por uma transição parecida, observe o novo cenário. Comunique-se com o seu time para entender os pontos fracos e fortes dos processos que já existem e garanta que quaisquer adequações que sejam feitas estejam bem alinhadas com todos os envolvidos. Por fim, encare os conceitos e ferramentas como seus principais aliados e, claro, não tenha medo de explorar os recursos além de suas funções óbvias.

Hello! Meu nome é Thaiza Oliveira, sou graduanda em Engenharia de Produção e atualmente assumo a posição de Analista de Projetos & Produtos na Akross. Sou apaixonada por gestão de projetos e uma grande entusiasta de novos aprendizados e desafios (:

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