Um olhar sobre a Geração Z

Nastacha de Avila
mobicareofficial
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10 min readMay 14, 2020

Expectativas, sucessos e dores dos profissionais que têm impulsionado mudanças no mercado de trabalho

Como parte da geração de Millennials me arrisco a dizer “o tempo voa”: os jovens nascidos entre 1992 e 2010 , parte da chamada “Geração Z”, já ingressaram na faculdade e alguns até já estão no mercado de trabalho. Segundo estudo da BOX 1824, agência de pesquisa de tendências em consumo, comportamento e inovação, em parceria com a McKinsey, “eles não conhecem o mundo sem internet, não separam o online do off-line, vivem realidades múltiplas e simultâneas, têm um cérebro que faz milhões de conexões diferentes e são hipercognitivos”.

Fazendo um cruzamento entre essa nova geração que está entrando no mercado de trabalho e o segmento de tecnologia em franca ascensão — das 15 Profissões Emergentes em 2020 mapeadas pelo LinkedIn no Brasil, nove estão diretamente relacionadas à tecnologia da informação -, encontramos muitos jovens talentos sendo disputados entre as Techs. De estagiário(a) a nível Pleno em alguns meses? É uma realidade. E isso não se dá apenas por conta da demanda de mercado, essa geração tem “fome de crescimento” busca um retorno muito rápido, criando desafios para os seus gestores quando se trata do gerenciamento de expectativas.

A maioria dos jovens Gen Z não acredita mais em fazer uma só coisa para o resto da vida ou ter uma longa carreira profissional em apenas uma empresa. “Home office”, “autogestão”, “trabalhar por um propósito” não são apenas tendências (ou já realidade?), mas necessidades da Geração Z, que pode estar ditando essas e outras mudanças.

Para entender melhor como lidar com esses ritmos tão diferentes, convidei dois membros dos nossos times Mobicare e Akross para trazerem suas visões sobre o assunto:

Eduardo Câmara, Líder Técnico na Akross, 34 anos, com 12 anos de experiência, sendo 8 dedicados diretamente à liderança de times. Apaixonado por tecnologia e pelo aprendizado contínuo. Bacharel em Ciência da Computação e MBA em Gestão de Projetos pela UVA.

Pablo Manoel, Desenvolvedor Back-end, 22 anos. Começou como estagiário na Mobicare em 2019 e já no mesmo ano se tornou Desenvolvedor Junior. É um entusiasta de novas tecnologias, em suas palavras: “tenho a missão de ser um solucionador de problemas cada vez melhor, conciliando trabalho, saúde e bem estar”.

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Quais são os desafios de liderar colaboradores da Geração Z?

O maior desafio pode ser resumido em uma palavra: “expectativa”. A Geração Z tem como principal característica a ansiedade, seja por retornos e progressões rápidas em suas carreiras ou pelo fato de “se provar”. Tentam mostrar tudo que sabem em espaços curtos de tempo. Alinhar essas expectativas à realidade do mercado e das empresas, nem sempre é uma tarefa fácil, necessita de um trabalho de acompanhamento claro, aberto e colaborativo.

Lindas palavras, não é? Mas como fazer isso? Essa geração não tem medo de trabalho, se dedicam ao máximo, mas precisam do seu espaço de lazer e uma maior flexibilidade em seus horários. Precisam saber onde estão e onde podem chegar. Nada de planos de cargos e salários fechados: eles querem transparência, mesmo que isso seja difícil de alcançar. Sabem o quanto seus colegas recebem e se comparam entre si.

O ponto aqui é como prover um ambiente transparente o suficiente para que as expectativas não sejam frustradas. Deixar claro onde estão e o que precisam melhorar para alcançarem o que desejam, é uma direção a seguir. Esse acompanhamento de carreira, muitas vezes negligenciado pela liderança, é o principal causador de desmotivação, e esse substantivo “motivação”, é a mola que impulsiona esse profissional. É uma geração que precisa de um motivo e um propósito. Querem e precisam participar: necessitam entender o que estão fazendo.

O fato de trabalharmos no mercado de TI intensifica esse imediatismo?

Com certeza! Nossa área abre visão para um mercado muito maior que os delimitados por fronteiras de cidades, estados ou países. Essa geração nasceu em um período em que a informação é fácil de se obter e de se usar. Boa parte fala mais de um idioma, nem sempre por ter feito um grande curso, mas pelo aprendizado no dia a dia, lendo matérias na internet e principalmente jogando. Falar bem inglês, é um pré-requisito nessa área.

O mercado de TI está sempre aquecido, mesmo em tempos de crise tem vaga pra todo mundo. Muitas vagas e pouca mão de obra é uma realidade, o que acaba fazendo com que o mercado se adeque.

O Home Office é uma “cartada” das empresas para conseguirem um espaço no mercado, mas que acabou gerando várias oportunidades para esses profissionais. Hoje posso estar aqui na minha cidade, região serrana do Rio de Janeiro, trabalhando para uma empresa da capital do estado do RJ, ou para uma empresa em SP, Londres, Dinamarca ou em qualquer lugar do mundo. Esse cenário provê um ambiente em que o profissional de TI passa a ter muitas oportunidades de trabalho. Em contrapartida, as empresas passam a ter uma maior rotatividade.

Essa rotatividade não se dá simplesmente ao fato da gama de oportunidades. Existe também o fato das novas gerações entrarem no mercado, em boa parte das vezes, com pouca “bagagem” e solidez. Como a busca de progressão é algo latente, procuram em sua maioria oportunidades em outros locais.

É fato que no segmento de TI muitas “tendências” já são realidade, como home office, por exemplo. Entretanto, você acredita que nosso mercado já está adaptado para o formato de trabalho desejado pela Geração Z?

Não! Está em fase de adaptação ainda. Lembra que falei do alinhamento de expectativas anteriormente!? Então, as empresas ainda não sabem como atender às necessidades dessa geração.

Acredito que haverá uma equalização no futuro, em que as partes, empregador e empregado, terão de achar um meio termo, cada um fazendo suas concessões. As empresas terão de entender, e algumas já entendem, que essa geração dá 110% no trabalho, mas separa o seu tempo de lazer e seu tempo de trabalho, eles gostam e precisam trabalhar em time e que hierarquização é algo que deve ser compartilhado de forma mais horizontal.

Em contrapartida, a Geração Z vai precisar entender que nem sempre as progressões acontecerão na velocidade que eles desejam e que existirão hierarquias em alguns momentos.

Quais as vantagens na contratação de jovens dessa geração?

Trata-se da geração mais colaborativa e engajada atualmente. Quando motivados, da forma correta, são surpreendentes. Sabem trabalhar muito bem em times, não retém conhecimento, pelo contrário, compartilham.

Possuem a necessidade de entender o que estão fazendo, não “fazem por fazer”, querem um motivo e um propósito para o seu trabalho. Essa necessidade de entender o propósito faz com que essa geração seja mais participativa e ativa nos projetos, gerando várias ideias e construíndo as coisas de forma conjunta.

Que dicas você daria para gestores técnicos para liderarem com desenvolvedores(as) da Geração Z?

A principal dica é conhecer bem o seu time e os seus motivadores. Acredito que a palavra chave aqui seja “motivação”. Mas como motivar essa geração? Trabalhei há algum tempo em uma equipe com aproximadamente 90 integrantes (entre Devs e QAs), dividida em 8 times, cada um com suas particularidades, necessidades e tamanhos distintos. Em média, de 60% a 70% dos integrantes, eram da Geração Z, dos mais diversos níveis técnicos, com os mais diversos perfis.

Nesse cenário entender a motivação e a necessidade de cada integrante dos times é uma tarefa complexa, mas não impossível quando utilizadas as ferramentas corretas. A geração em questão necessita entender o que está fazendo, necessita participar, colaborar, fazer parte de uma construção e de um objetivo.

Foi-se a época em que uma “fábrica de software” poderia ser comparada com uma “fábrica de chão”, onde várias pessoas executam pequenas partes, sem compreender o todo. O gestor que ascendeu em sua carreira impondo ao time o que deve ser feito, ao invés de envolver e consultar, não tem muita aceitação por essa geração.

Fiz um curso, determinada vez, chamado Management 3.0, foi um excelente aprendizado e uma grande quebra de paradigma. Confesso que demorei algum tempo para digerir aquilo tudo. O curso não era voltado para como trabalhar com os profissionais dessa geração, mas juro que parecia que era. Na verdade, o objetivo era preparar o gestor para uma nova forma de liderar, buscando incentivar e engajar o time, delegando e não decidindo, confiando e não impondo, trabalhando a inteligência coletiva ao invés da individual.

Nesse curso, aprendi algumas técnicas e ferramentas que me auxiliaram a entender os motivadores e as necessidades dos times e de seus integrantes. Uma técnica que destaco é o Moving Motivators, um jogo rápido em que o objetivo é o autoconhecimento de seus motivadores, e que ajuda o gestor a compreendê-los também.

Algumas sessões de one-on-one, conversas individuais com entre o(a) gestor(a) e seus liderados, ajudam também a fazer esse mapeamento de clima. Entendendo bem esses motivadores os gestores conseguem fazer um trabalho mais direcionado.

Tendo a análise desse contexto, é possível trabalhar melhor com os times, sabendo como e quando motivá-los da forma correta. Muitas vezes, um integrante de um time não performa bem, pois os motivadores dele não se enquadram naquele time, talvez alguns ajustes simples ou uma forma de abordagem e definição de propósito, podem fazer a diferença entre um desempenho “bom” e um desempenho “ruim”.

Temos de ter em mente que cada um tem seu motivador, e cabe a um bom líder entender e propiciar um ambiente em que isso seja estimulado.

E para desenvolvedores(as) da Geração Z?

As empresas ainda não estão adaptadas às novas necessidades do mercado, isso é fato. A Geração Z vai precisar entender um pouco esse momento e gerenciar suas expectativas.

Uma dica que posso dar é que entendam sempre o contexto e a situação de cada empresa. Muitas vezes criticamos ou sugerimos grandes mudanças sem antes entender todo o contexto. Por ter um ritmo mais acelerado, os integrantes da Geração Z querem mostrar todo o seu potencial e revolucionar o mundo em curto espaço de tempo. Sempre faço uma pergunta para meus colegas de time “isso é melhor para você ou para a empresa?”.

Busquem uma base sólida. Um nível superior não nos prepara para o mercado, mas nos provê uma base que não é fornecida em cursos de especialização. Muitas vezes nos especializamos em um framework ou linguagem sem entender o seu funcionamento ou padrões de projetos envolvidos. Ter essa visão de engenharia de software e designer pattern faz com que a adoção de uma linguagem ou framework seja melhor entendida e aproveitada.

No mais continuem se dedicando. Vocês tem todo o potencial para serem espetaculares, basta entenderem que nem sempre as coisas acontecerão no tempo e formato que desejam.

O que torna uma empresa “ideal” para se trabalhar?

Uma empresa ideal é a que me oferece oportunidade de crescimento profissional, liberdade naquilo que faço e, claro, salário é um ponto essencial, tanto por questão de sobrevivência, como por ser um dos parâmetros diretos de avaliação sobre meu valor como profissional.

A oportunidade de crescimento profissional se refere tanto ao conhecimento técnico que conquisto como também às Soft Skills que desenvolvo. Já a liberdade está mais relacionada à confiança da equipe naquilo que penso, faço e questiono. Quanto maior meu repertório de conflitos resolvidos e desafios superados, mais próximo eu fico da senioridade naquilo que faço. Isso me torna mais atrativo ao mercado e, ao mesmo tempo, me traz uma sensação de bem estar por saber que estou evoluindo.

Qual o seu plano de carreira para o futuro?

Tendo em vista o cenário atual que estamos, meu plano para o futuro é evoluir cada vez mais nas minhas competências técnicas e investir no meu inglês para então conseguir entrar no mercado de trabalho do exterior. Conhecimentos em tecnologia podem te permitir trabalhar em qualquer lugar do mundo, esse é um dos privilégios da nossa área.

Que características você valoriza em um gestor?

Um gestor precisa saber as dores que sua equipe passa para conciliar os esforços do projeto com a vontade do cliente. Ao meu ver, isso só é possível com um gestor que já esteve no lugar dos desenvolvedores que agora ele lidera.

O que motiva você a entregar bons resultados?

Constantemente, na equipe em que trabalho, nós dizemos que “todo código que encostamos vira nosso”. Considero essencial estar de consciência limpa em saber que o que faço é de qualidade, tanto pra mim como para os outros que no futuro trabalharão em cima do que eu desenvolvi. Precisamos buscar a excelência em tudo que fazemos, com a consciência que sempre há algo para melhorar.

Quais desafios você enfrentou até hoje no mercado de trabalho?

Primeiramente, a busca do primeiro emprego, que é uma dor para muitos, pois é difícil se qualificar para uma vaga que exige diversas competências quando não se tem experiência alguma. Minhas primeiras comunicações com cliente também foram desafiadoras, bem como ajudar na arquitetura de novas soluções e superar a curva de aprendizado de novas tecnologias que me deparo no dia a dia de trabalho.

O que você considera mais importante para o mercado de tecnologia hoje: formação acadêmica x cursos técnicos?

O mercado de trabalho exige basicamente que eu seja um solucionador de problemas. Mais importante que uma graduação ou um curso técnico é a minha capacidade de responder aos problemas que surgem. Um diploma ajuda a abrir diversas portas no início, mas a longo prazo minha reputação se fará por aquilo que fiz e pelas situações que fui exposto e consegui resolver.

Hey! Meu nome é Nastacha de Avila, sou responsável pela área de Marketing nas empresas Mobicare e Akross, com foco em Branding Awareness para recrutamento de talentos em TI. O que mais amo em trabalhar no mercado de tecnologia é poder estar sempre próxima à inovação.

A Mobicare e a Akross combinam os Melhores Talentos, Tecnologias de Ponta, Práticas Agile e DevOps com Capacidades Operacionais avançadas para ajudar Operadoras Telecom e grandes empresas a gerarem novas receitas e a melhorarem a experiência dos seus próprios clientes.

Se você gosta de inovar, trabalhar com tecnologia de ponta e está sempre buscando conhecimento, somos um match perfeito!

Faça parte do nosso time. 😉

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Nastacha de Avila
mobicareofficial

Responsável pela área de Marketing nas empresas Mobicare e Akross, com foco em Branding Awareness para recrutamento de talentos em TI. 😉