A dor da maternidade: um retrato visto e pouco falado

Jaqueline Rodrigues
Moderna Parahyba
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3 min readMar 13, 2021
Foto: Daniel Rech por Pixabay

Em uma das poucas vivências que tive em uma maternidade, fiquei surpresa com a quantidade de absurdos que uma mulher, ao tornar-se mãe, é obrigada a passar. Nesta experiência pude acompanhar o cuidado mas também o descuido, além da negligência do corpo médico com mulheres que necessitam de uma atenção redobrada.

Por isso gostaria de começar relatando que, na maior parte das vezes, a violência obstétrica é passada “batida”, porque as vítimas enxergam a situação como normal. Afinal, a mulher é condicionada a essas situações o tempo todo. Esse tipo de violência é considerada também como uma violência de gênero por estar diretamente ligada à dominação masculina. No qual, as mulheres são submetidas a uma relação de submissão ao homem, variando desde as questões do próprio corpo quanto a sua posição na sociedade.

Em um dos momentos que presenciei, fiquei em dúvida se a situação se encaixaria como violência obstétrica e para a minha surpresa, a descoberta não obteve saldo positivo. Foi daí o interesse maior em pesquisar o andamento desse tema no nosso estado e país. E, a partir disso, notei que a violência obstétrica é um tema relevante, que deve ser comentado, mas verdade seja dita, na realidade pouca atenção se tem. Várias mães sofrem todos os dias com os abusos psicológicos e físicos que são obrigadas a passar, pelo fato do corpo clínico anunciar que é certo, por muitas sequer perceberem a situação em que estão ou nem saberem o que é este tipo de violência.

A violência obstétrica, portanto, trata-se de quando uma mulher que está grávida, ou até no pós-parto, passa por situações desagradáveis ocasionadas pelo corpo clínico de determinado local. Vale ressaltar que este termo ganhou força há pouco tempo, graças a busca pelo parto humanizado e tratamento digno para essas mulheres. Algumas das práticas que caracterizam este tipo de ato violento são a peregrinação — ocorrida quando a gestante vaga de hospital em hospital e é negligenciada — , as agressões verbais e físicas — que são os mais relatados pelas mães -, além de cirurgias cesáreas desnecessárias e a falta de informação que percorre muitos locais.

Pode-se falar também, nos episódios de episiotomia — procedimento em que a mulher sofre um corte na vagina para forçar a saída do bebê — que chega a comprometer a sua vida por tempo indeterminado. Além disso, o uso da medicação ocitocina é cruel, porque muitos profissionais utilizam-no para aumentar as contrações. Em muitos casos, a gestante sequer possui noção do que é essa medicação e para que serve. Por fim, os exames de toques desnecessários e realizados por vários profissionais.

É válido ressaltar que as mulheres negras são comumente vítimas, por terem mais chances de ter o atendimento negado, não receber anestesia durante o parto e até mesmo o impedimento de ter um acompanhante, são exemplos de atos contra essas mulheres.

Por curiosidade, nossa capital possui a Lei Municipal de João Pessoa nº 13.061/2015 que possui o intuito de dar total apoio a essas mulheres, mas, apesar disso, na prática não se confirma. O governo da Paraíba em uma ação com a Secretaria de Estado da Mulher e da Diversidade Humana, lançou no ano passado uma cartilha de orientações sobre a violência obstétrica e como denunciá-la. Neste material contém explicações de como denunciar, quais os tipos de violência e uma breve explicação do plano de parto, assim como orientações para os profissionais da saúde estarem atentos com o atendimento.

Diante de tantas situações em que a dor é ofuscada, nota-se a importância deste tema que é tão pouco falado, mas que todos os dias as mulheres o enfrentam. É importante estar atenta a todos os seus direitos e garantir que eles não sejam desrespeitados. Não façam parte do grupo que duvida e fica de mãos atadas, só de ver a situação. São os nossos direitos que todos os dias são colocados à prova pela sociedade.

Revisão: Aléssia Guedes

Cartilha do Governo da Paraíba, está disponível em: https://cutt.ly/Bf8CDjq

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Jaqueline Rodrigues
Moderna Parahyba

Em constante evolução, amante de histórias e estudante de jornalismo.