Antiga Parahyba: O Centro Cultural São Francisco
“Chego no pátio do Convento de São Francisco e paro assombrado. […] Do Nordeste à Bahia não existe exterior de igreja mais bonito nem mais original que este. E mesmo, creio que é a igreja mais graciosa do Brasil — uma gostosura que nem mesmo as sublimes ‘mineirices’ do Aleijadinho vencem em grandiosidade”, disse o escritor Mário de Andrade, em seu livro “O Turista Aprendiz”, em 1929, ao conhecer o Convento localizado no Centro da Capital.
Eu já fui milhares de vezes visitar o Centro Cultural e tenho a mesma reação que o Mário de Andrade: paro assombrada. Não há outro lugar com tamanha riqueza de detalhes nesta cidade. Detalhes atribuídos ao longo dos 200 anos de construção, por inúmeros arquitetos diferentes.
A construção iniciada em 1589 era apenas uma base de acolhimento feita de taipas, mas nos próximos anos os frades iniciaram o levantamento de paredes de pedra calcária e a construção do Convento. Por obter uma localização privilegiada, passou de centro religioso franciscano para posto militar na Invasão Holandesa. Entre os anos de 1634 e 1655, serviu de refúgio aos mercadores holandeses e funcionou como paço governamental.
Além disso, no Centro Cultural também eram enterradas as pessoas mais ricas da cidade. Em 1894, chegou a ser ocupado pelo governador da época, que instalou um hospital militar e uma escola de aprendizes para marinheiros, mas não durou muito tempo para o Bispo reivindicar novamente o espaço.
O Barroco e o Rococó marcam a arquitetura do Convento. O primeiro, é um movimento europeu conhecido por sua dramaticidade. Aqui, o Barroco é tropical, com frutas típicas como o abacaxi e o caju, assim como a representação indígena do cocar à cima da cabeça de Santo Antônio em uma das capelas. Já o segundo, é um desdobramento do Barroco, entretanto sendo bem mais suave.
O ponto mais alto da construção foi a adição de azulejos portugueses em 1734. Os tons de azul contam histórias bíblicas, falam sobre a Paixão de Cristo e hoje, lutam de forma corajosa contra a ação do tempo.
Em todas as visitas que fiz sempre encontro algo novo. Os salões e os jardins são os mesmos de sempre, mas parece que sempre deixo um detalhe para trás e o encontro na próxima visita. É impressionante como a história de frades franciscanos corta a minha história 431 anos após a instalação das primeiras paredes. É a história viva da minha cidade resistindo a agressões do tempo, da chuva e do clima tropical. Resistindo também a agressões humanas no seu chão de mirra ou nas antigas madeiras que cobrem o chão.
Agradecer as tentativas recentes de manutenção desse espaço é a única coisa que uma jovem pessoense pode fazer quando olha ao redor e vê outras dezenas de imóveis históricos, sem nenhum ou pouco interesse público e social de ser renovado e ressignificado.
O Centro Cultural São Francisco é tombado pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1952. Passou por uma restauração completa em 1979 e reabriu na década de 90 como o espaço que conhecemos hoje.
Atualmente, esse monumento vai além de um registro temporal de uma João Pessoa muito religiosa, pois também reserva espaços para a expressão artística pessoense e brasileira. Nas terças e sextas pela manhã, acontece o “Sons da Igreja”, projeto de extensão do curso de Música da UFPB, onde é realizado mini-espetáculos. Além disso, em determinados momentos da visita guiada, temos acesso à quadros, esculturas e utensílios artesanais feitos por artistas de diferentes Estados Brasileiros.
Para fazer a visita guiada (a única permitida), é cobrada uma taxa de 4 reais a meia entrada e 8 reais a inteira. Para assistir o Sons da Igreja, deve-se também adquirir o ingresso na entrada.
“Na frente de tudo o cruzeiro é um monólito formidável. Estou assombrado. A Paraíba possui um dos monumentos arquitetônicos mais perfeitos do Brasil. Eu não sabia… Poucos sabem…” O Turista Aprendiz, Mário de Andrade.
Edição: Jaqueline Rodrigues
Saiba mais: MEDEIROS, Adriana Guerra. A Igreja de São Francisco/Convento de Santo Antônio em João Pessoa — PB: evolução temporal e análise com base no olhar do turista.
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