Bicho Maluco Beleza

Heloísa Holanda
Moderna Parahyba
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4 min readJun 30, 2020

Nascido em São Bento do Una, no estado de Pernambuco, Alceu Paiva Valença, de 73 anos, é um cantor, compositor e cineasta brasileiro. Ele surgiu como expoente da geração da música nordestina nos anos 70 e foi um dos primeiros a promover a união do som do agreste nordestino com a guitarra elétrica.

Alceu cresceu em convívio direto com os elementos vivos que ajudaram a consolidar a cultura do Nordeste, assimilando a tradição e a música do agreste e do sertão a partir das raízes que as constituíram. Na Fazenda Riachão, onde passou a sua infância, acostumou-se a observar os encontros musicais e poéticos que o avô costumava promover. Aos sete anos, mudou-se com a família para a cidade de Garanhuns, e em seguida para Recife.

Na sua adolescência, Alceu começou a se interessar pela poesia urbana e contemporânea e pelo cinema, principalmente o francês, tendo assim as matines do cinema São Luiz como um de seus principais refúgios. Adquiriu o gosto pela música e ganhou um violão de presente de sua mãe, dona Adelma, escondido do pai, pois ele não queria ver o filho metido em rodas de cantoria.

Tomou gosto pela política e questões sociais, o que fez com ele em 1965, passasse para a Faculdade de Direito do Recife. E sem grandes pretensões, inscreveu-se num concurso promovido por uma associação americana que oferecia um curso de três meses na Universidade de Harvard, que faz parte da prestigiada Ivy League, a liga dos principais centros acadêmicos dos EUA. Sem saber uma palavra de inglês, ele elaborou uma redação que comparava o Marxismo com a Igreja e apontava poeticamente as contradições das ideologias políticas em voga. Acabou aprovado e foi parar em Fall River, Massachusetts, onde teve aulas e assistiu palestras com grandes figuras proeminentes da conservadora política de estado americana.

Por conta do seu espírito rebelde, aproximou-se dos estudantes de esquerda e chegou a parar numa reunião do grupo ativista Panteras Negras, em Boston. Valença ia para as praças cantar seu repertório de xotes, emboladas, baiões e acabou sendo adotado pelos hippies locais. O burburinho cresceu até que um jornal local entrevistou o artista. No dia seguinte, a matéria estampava, em inglês: “Alceu Valença, o Bob Dylan brasileiro”, considerando seu repertório absolutamente regional como uma derivação folk dos protest songs que proliferavam na face mais contestadora da América.

Após voltar pra Recife e se formar no ano de 1969, desiste das carreiras de advogado e jornalista (trabalhou como correspondente do Jornal do Brasil) e resolve investir na música. Em 1971 ele decide para o Rio de Janeiro, dando o pontapé inicial da sua carreira. Junto com Geraldo Azevedo procurou Jackson do Pandeiro para que cantasse com eles num festival de MPB. Participou de festivais da TV Tupi e da TV Globo. Em 1974 lançou “Molhado de Suor”, seu primeiro disco solo. Em 1975 teve a música “Caravana” incluída na trilha sonora da novela Gabriela da TV Globo.

Em 1980, ele lança o LP Coração Bobo (Ariola), cuja música de mesmo nome faz sucesso nas rádios de todo o país, revelando o nome de Alceu Valença para o grande público, tornando-se assim conhecido por todo o Brasil desde então. Alceu tem no total 33 álbuns na sua discografia, incluindo o álbum “Sete Desejos” (1991) que contém a faixa “Belle de Jour”, a qual tem uma historia muito singular. De volta a Paris, já consagrado no Brasil, Alceu entregou um poema em branco à atriz Jacqueline Bisset, num encontro espontâneo em um café da Rive Gauche. Impressionado com a beleza da mulher, ambientou a musa existencialista da Nouvelle Vague na Praia de Boa Viagem, em Recife. Entretanto, confundiu as musas. Batizou a canção com o título do filme de Luis Buñuel estrelado por Catherine Deneuve, confundindo assim a atriz com outra bela da tarde.

Ele passa a explorar seu gosto pelo cinema em 2009, com ser filme Cordel Virtual (a Luneta do Tempo), onde ele aborda sua infância em São Bento de Una e desenvolve uma história de cangaço com diálogos em ritmo de cordel. A produção levou os prêmios de “Trilha Sonora” e “Direção de Arte” no 42º Festival de Cinema de Gramado. Entre roteiro, captação de recursos, escalação de elenco e filmagens, Alceu demorou quinze anos para concluir o trabalho. O filme foi lançado no circuito comercial em março de 2016.

“Minha vida parece um filme, como se eu estivesse fazendo um documentário de tudo. As músicas guardam minha memória visual, são HDs de lembranças.”

Migrando entre música, Direito, jornalismo, política, poesia, e cinema, Alceu é um dos personagens mais icônicos da cultura brasileira contemporânea, cuja influência moldou muitos dos artistas dos quais consumimos hoje e músicas entoam a trilha sonora das vidas da maioria de nós.

Fontes: http://alceuvalenca.com.br/biografia/

https://www.ebiografia.com/alceu_valenca/

https://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa256005/alceu-valenca

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Heloísa Holanda
Moderna Parahyba

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