DA LUTA EU NÃO FUJO

Heloísa Holanda
Moderna Parahyba
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3 min readJun 30, 2020
É melhor morrer na luta do que morrer de fome.”

Mulher, mãe, trabalhadora, sindicalista e defensora dos direitos dos oprimidos e necessitados, Margarida nasceu em Alagoa Grande/PB, e foi a primeira mulher a exercer um cargo de direção sindical no país. Seu nome e sua história de luta inspiraram a Marcha das Margaridas (criada no ano 2000), que é a maior ação conjunta de mulheres trabalhadoras da América Latina.

Entre as lutas travadas pela sindicalista estão a busca pela contratação com carteira assinada, o pagamento do décimo terceiro salário, o direito das trabalhadoras e dos trabalhadores de cultivar suas terras, a educação para seus filhos e filhas e o fim do trabalho infantil no corte de cana. A atividade era marcante na região, em especial pela existência da Usina Tanques, a maior do estado da Paraíba naquela época.

Margarida assumiu a presidência do sindicato de sua cidade em 1971, onde permaneceu durante 12 anos no comando. Em seu tempo de gestão, o Sindicato moveu mais de 600 ações trabalhistas e fez diversas denúncias, como a endereçada diretamente ao Presidente do Brasil, em 1982, João Batista Figueiredo. Infelizmente, Margarida não viveu o suficiente para ver o resultado da sua luta. Por causa do surgimento do Plano Nacional de Reforma Agrária, a violência no campo foi intensificada por parte dos latifundiários, que não queriam perder suas terras, nem mesmo as improdutivas.

A partir deste momento, o trabalho de Margarida na defesa dos direitos dos trabalhadores entrou em conflito com os interesses dos latifundiários, tornando-a uma ameaça para eles. Em seu discurso na comemoração do 1° de maio de 1983, na cidade de Sapé, na Paraíba, ela deixou isto bem claro: “Eles não querem que vocês venham à sede porque eles estão com medo, estão com medo da nossa organização, estão com medo da nossa união, porque eles sabem que podem cair oito ou dez pessoas, mas jamais cairão todos diante da luta por aquilo que é de direito devido ao trabalhador rural, que vive marginalizado debaixo dos pés deles”.

Ela foi assassinada em 12 de agosto de 1983, com um tiro de espingarda no rosto disparado por um matador de aluguel. O crime ocorreu em frente a sua casa, na presença do marido e do filho, de apenas 8 anos de idade na época.

O caso teve repercussão internacional, com denúncia encaminhada à Corte Internacional de Direitos Humanos e várias outras entidades semelhantes. Severino, o marido de Margarida, dizia que “ela era uma mulher sem medo, que denunciava as injustiças”. Na época de sua morte, 72 ações trabalhistas estavam sendo movidas contra os fazendeiros locais.

Símbolo da luta pelos direitos dos trabalhadores rurais, Margarida recebeu, postumamente, o prêmio Pax Christi Internacional, em 1988; em 1994, foi criada pela Arquidiocese da Paraíba a Fundação de Defesa dos Direitos Humanos Margarida Maria Alves e, em 2002, recebeu a Medalha Chico Mendes de Resistência, oferecida pelo GTNM/RJ.

O dia de seu assassinato, 12 de agosto, é conhecido como o Dia Nacional de Luta contra a Violência no Campo e pela Reforma Agrária.

A casa simples onde Margarida Alves morou e foi assassinada virou museu no mesmo ano. Na fachada, a lembrança mais doída da família está pintada em letras grandes. “Aqui foi assassinada em 12/08/1983 a líder sindical Margarida Maria Alves.”No interior do imóvel, em uma parede, a frase que marcou a vida da sindicalista: “da luta eu não fujo”.

Revisão: Adailson Paiva

Foto: Sê-lo Marginália

Fontes: https://www.brasildefato.com.br/2019/08/12/conheca-margarida-alves-simbolo-da-luta-por-direitos-para-as-trabalhadoras-do-campo

https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2019/11/05/filho-de-margarida-maria-alves-lider-sindical-morta-ha-36-anos-ganha-indenizacao-de-r-431-mil.ghtml

https://www1.folha.uol.com.br/poder/2019/08/saiba-quem-foi-margarida-alves-sindicalista-que-da-nome-a-marcha-camponesa.shtml

https://www.fundacaomargaridaalves.org.br/

http://cma-dev.jscconsultoria.com.br/um-pouco-da-historia-de-margarida-maria-alves-no-dia-dao-trabalhadorao/

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