“E QUEM ESTÁ LÁ FORA?”: Ser ou não ser o herói?

Grace Vasconcelos
Moderna Parahyba
Published in
3 min readMay 25, 2020
Photo by Bernard Hermant on Unsplash

José Ednaldo Ferreira de Souza ou “Edi” como costuma ser chamado pelos mais próximos, tem 52 anos, é hipertenso e trabalha em uma distribuidora de alimentos a quase 1 ano. Os problemas de coração de Ednaldo não receberiam tanto destaque se não estivéssemos em uma situação especial: como todos já sabemos, uma doença viral corre o mundo e existem pessoas do grupo de risco mais propensa a ter a versão fatal, que inclui os hipertensos.

Nos tempos de isolamento social, apenas os serviços essenciais que garantem a sobrevivência, saúde, abastecimento e segurança da população devem funcionar normalmente. Isso inclui os comércios de alimentação que precisam receber as cargas de produtos dos fornecedores.

Por ser entregador, Edi precisa sair todos os dias para distribuir os produtos básicos nos pequenos e grandes mercados da grande João Pessoa. Ele faz uso do álcool em gel e coloca a máscara durante as 8 horas de trabalho. No dia a dia, precisa ter contato com muita gente, precisa estar próximo dos auxiliares, dos gerentes de diversos estabelecimentos e algumas vezes pode entrar em contato com os clientes desses lugares.

Ednaldo tem medo. Sim, exatamente como eu e você que podemos nos dar ao luxo de ficar em casa, ele tem medo de contrair a doença ou levá-la para alguém que convive. Estar em casa poderia ser bem mais reconfortante. Afinal, na rua nem sempre tem lugar para lavar as mãos, você não sabe por onde a outra pessoa passou e quais os hábitos de higiene dela e etc.

O fato de você estar em casa, você teria um cuidado a mais, tomaria as precauções corretas e estando na rua, às vezes você quer lavar a mão e não tem onde. Então, estar na rua é muito difícil.”

Sobre os últimos dias, ele observou uma necessidade dos estabelecimentos em renovar as cargas de alimentos muito mais rápido que o normal. Isso pode ser um indicativo muito grave sobre como estamos consumindo e estocando desesperadamente os alimentos em nossas casas, segundo ele, é algo desnecessário, os fornecedores estão cheios e a distribuição dos alimentos continua normalmente.

Ele não pode parar porque eu e você precisamos comer, para isso os mercados precisam estar cheios. Ele precisa estar lá fora para que eu e você possamos nos sentir minimamente seguros em casa, mas isso não faz dele um herói. Na verdade, não faz de nenhum dos profissionais que estão lá fora, arriscando suas vidas, um herói. Os personagens poderosos que enfrentam tudo pela população e saem ilesos no final, só existem nos filmes.

Eu me sinto privilegiado por poder contribuir para sociedade em alguma coisa, outras horas eu me sinto um pouco preocupado com o que pode acontecer comigo ou o que eu posso trazer para outras pessoas através da minha circulação. Eu falo com várias pessoas, vou em vários comércios, então isso me trás um pouco de preocupação também.”

Revisão: Jaqueline Rodrigues

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