Em cena: A Mostra Pilão e o cinema negro paraibano

Jaqueline Rodrigues
Moderna Parahyba
Published in
3 min readApr 23, 2021
Imagem do Filme: 5 Fitas — Heraldo de Deus Borges e Vilma Carla Martins Silva

É comum sermos levados pela mídia e pelo cinema a assistir a inserção de pessoas negras em estereótipos como o traficante ou a empregada doméstica, sendo raras as exceções que os colocam em papéis relevantes. Apesar de o Brasil ser um país composto majoritariamente pela população negra — representando mais de 54% dos habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) -, ainda assim estamos acostumados a encontrar elencos brancos.

Isso ocorre pelo fato de que o racismo estrutural está enraizado na sociedade e, por isso, a população negra sempre é escanteada no desempenho de papéis na televisão, no jornalismo ou em qualquer área. Isso acontece apesar da lenta inserção no mercado de trabalho que vem acontecendo.

Já no cenário cultural as coisas não se diferem muito. Os números de homens e mulheres negras no cinema brasileiro não são altos e isso cai mais ainda se pensarmos em cargos de direção, como roteiristas; é porque, infelizmente, esse tipo de produção não recebe incentivo no Brasil.

Afinal, no documento da Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 27, inciso 2, é dito que “todos têm direito à proteção dos interesses morais e materiais ligados a qualquer produção científica, literária ou artística da sua autoria”. Porém, quando falamos sobre a representatividade e diversidade no meio cultural, vemos que isso não se aplica, já que a população negra é a que possui menos acesso ao meio cultural.

Por isso, a Mostra de Cinema Negro — Pilão, realizada por meio da Lei Federal de Emergência Cultural Aldir Blanc, é um evento que compartilha um conteúdo gratuito, formado por pessoas afrodescendentes, visando o incentivo e apoio à produção de pessoas negras na Paraíba. É um evento que carrega muita originalidade e impulsiona as pessoas a consumirem conteúdos locais, destacando a presença de elenco e a parte técnica por pessoas negras.

A sua primeira edição ocorreu em 2016, na Comunidade Quilombola Fonseca, localizada em Manaíra, no sertão paraibano. Desta vez, por estarmos em um ano atípico, devido a pandemia do coronavírus, o evento está ocorrendo de forma remota, na plataforma do Youtube, no canal Artistas da Paraíba. Com isso, além de divulgarem as produções, trazem à tona debates acerca do corpo negro na produção cinematográfica, com a presença de grandes artistas. Uma das convidadas para a roda de debates foi Norma Góes: atriz, trançadeira, formada em letras português, uma grande mulher para a cultura do cinema paraibano e exemplo de luta.

A Mostra Pilão iniciou-se nesta segunda-feira (19) e estende-se até o domingo (25), ou seja ainda dá tempo de você conferir algumas das 27 produções escolhidas pelos organizadores para curtir um pouco do nosso cinema paraibano (e com artistas negros que é tão pouco explorado pelo nosso país). Dessa forma, pode-se acessar as produções na plataforma Todes Play que está sendo o grande parceiro deste evento durante o período de realização, disponível de forma gratuita.

A matéria “Em cena: A Mostra Pilão e o cinema negro paraibano” foi escrita por Jaqueline Rodrigues e faz parte da série de publicações especiais sobre o tema “Direito à cultura”, vinculado à disciplina Jornalismo, Cidadania e Direitos Humanos, do curso de Jornalismo da UFPB.

--

--

Jaqueline Rodrigues
Moderna Parahyba

Em constante evolução, amante de histórias e estudante de jornalismo.