I AM NOT OKAY WITH THIS — TEMPORADA 1 — CRÍTICA DA SÉRIE + QUADRINHO

Adailson Paiva
Moderna Parahyba
Published in
4 min readMay 20, 2020

Em meio à ressaca de carnaval, a temporada inicial de I Am Not Okay With This chegou na Netflix em 26 de fevereiro de 2020. A série que traz para as telas mais uma das obras de Charles Forsman — criador do quadrinho The End Of The Fucking World que originou a série homônima do serviço de streaming — também conta com parte da produção de Stranger Things para nos apresentar a história de Sydney, uma garota de 17 anos que, após o suicídio do pai, registra sua jornada de autodescobrimento em um diário. A trama usa de flashforwards alternados durante os episódios que atraem o espectador para o mistério de como a protagonista chegou à situação apresentada neles ao longo da temporada.

Sophia Lillis, que atingiu a fama interpretando Beverly nas últimas adaptações de IT — A Coisa e também participou da conceituada Objetos Cortantes, encarna Sydney, uma jovem que vive os dramas habituais da adolescência com o pequeno diferencial de ter que lidar com seus recém-descobertos superpoderes. Junto dela está Wyatt Oleff (o jovem Senhor das Estrelas em Guardiões da Galáxia, também trabalhou com Lillis em IT — A Coisa) nos apresentando Stanley, o vizinho que ajuda na descoberta dos poderes de Sydney e se apaixona por ela no processo. A série conta ainda com Sofia Bryant no papel de Dina, a melhor amiga da personagem de Sophia Lillis, e Aidan Wojtak-Hissong como Liam, o irmão mais novo de Sydney. Juntos, estes personagens compõem o núcleo principal que vai ajudar e fazer parte dos dramas da vida de Sydney durante a história.

O enredo segue o modelo das séries adolescentes da Netflix, executando bem os conceitos básicos a que se sujeita sem trazer uma grande quantidade de novidades. Sydney é a típica adolescente pária na cidade e na escola, que é hostilizada sem o menor motivo aparente e só se dá bem com seus poucos amigos, apesar magoar e ser magoada por eles com frequência. Ela corre para Stanley, o nice guy apaixonado, quando não está bem com a melhor amiga e para Dina, a antiga companheira de todas as horas, quando o vizinho faz algo que a desagrada, enquanto o roteiro usa isso para desenvolver as relações entre essas personagens.

A produção também traz um pastiche visual e sonoro das suas inspirações ao longo da temporada. Há claras alusões à Carrie e a outras obras famosas de Stephen King, vide a própria escolha de Oleff e Lillis para o elenco. Bem como o uso de uma estética que não necessariamente foi criada por Wes Anderson mas é bastante utilizada pelo diretor e se faz presente também em The End Of The Fucking World, que tem a mesma produção. O clima segue o de uma das inúmeras aventuras de Steven Spielberg e há ainda um episódio inteiro nitidamente baseado no Clube dos Cinco de John Hughes. Na trilha sonora se destaca o emprego da já conhecida simulação de nostalgia, passando por músicas de Roxette, Pixies e Bonnie Tyler mas utilizando também de faixas originais da Bloodwitch, banda da qual Stanley é fã dentro da série e que teve suas músicas gravadas especialmente para a setlist dela.

Porém, é como adaptação que I Am Not Okay With This se destaca. O quadrinho de Charles Forsman tem a mesma base da série, mas aborda a história de uma maneira bem mais sombria do que a que chegou ao serviço de streaming.Há muito potencial na obra, o equilíbrio entre a temática pesada e os traços à la Archie Comics, As Aventuras de Tintim e Peanuts é genial, mas não há tempo suficiente de desenvolvimento da protagonista — cuja história parece sair do nada para lugar nenhum — de modo que o leitor não se importa o bastante com ela, fato que talvez seja motivado pela curta duração do volume único de apenas 15 capítulos. A série consegue transpor este obstáculo e nos traz ainda um Stanley mais carismático que o dos quadrinhos originais para agregar aos dramas da protagonista, que também ficaram um pouco mais interessantes nesta repaginação da história.

I Am Not Okay With This é uma boa diversão descompromissada para passar o tempo durante a semana ou mesmo maratonar em um único dia. O quadrinho é recomendável sim a quem tiver interesse após assistir a série, apesar da temática a leitura é bastante fluida e pode ser rapidamente concluída. A ambientação e o clima nostálgicos trazem uma leveza para a série que faz dela, mesmo que não tão inovadora nem apoteótica, uma boa pedida para discutir ou assistir com os amigos. Sydney é uma personagem que ainda parece ter muito o que mostrar e, com a virada da última cena, podemos esperar algo interessante de uma próxima temporada se a Netflix seguir seus padrões de renovação.

Revisão: Rayssa Oliveira

Foto: Charles Forsman no Twitter

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Adailson Paiva
Moderna Parahyba

Supostamente jornalista. Gosto de alienígenas em caixas azuis e falo de filmes às vezes.