Memórias de uma infância entre leituras e brincadeiras de rua

Jaqueline Rodrigues
Moderna Parahyba
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3 min readMay 14, 2021
Fotografia: Roan Nascimento

Todo dia se torna mais difícil conseguir inserir-se no meio cultural, a luta é constante na verdade. Ao que tudo indica, possuímos o direito ao seu acesso, não é à toa que na Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 27, inciso 1 é dito que “toda a pessoa tem o direito de tomar parte livremente na vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar no progresso científico e nos benefícios que deste resultam.”. Porém, na prática, isso se confirma mesmo?

Inicialmente, a música que veio de imediato sobre essa temática foi “Fim de semana no parque, do grupo Racionais MC’s”, por escancarar uma realidade que não é visibilizada — a falta de acesso à cultura por crianças e jovens da periferia -, em um dos trechos é anunciado “a molecada da área jogando descalços, no barro, na terra”. Expondo lembranças e marcas de uma infância carregadas de nostalgia por ter presenciado esse tipo de lazer nas áreas que não possuem incentivo.

Mas o que me questiono é sobre aquelas crianças que não tiveram sequer uma quadra esportiva na escola. A longo prazo eles poderão oferecer isso para as próximas gerações? Eu gostaria mais ainda de poder afirmar que poderia garantir essa iniciativa. Afinal, como posso sustentar algo que sequer o governo cumpre e falo isso, porque sou uma das pessoas que viu a falta de empenho influenciar diversos caminhos.

É comum muitos associarem a cultura a uma prática advinda da população rica, mas será que não é porque desde pequenos fomos acostumados a aceitar aquilo que pudesse estar ao nosso alcance? Como autora deste texto, te digo que eu vi de perto como as ações lúdicas influenciam no crescimento de uma criança que vem de uma área desprovida. Desde cedo aprendemos que se você não escolhe o caminho da educação, outros caminhos te esperam, nem sempre são positivos e essa é a dura realidade dos lugares mais pobres.

A promoção da cultura não é algo apenas de um grupo restrito, como grande parte da população periférica acredita. Ela pode sim, ser também algo que encaminhe pessoas e diga que você pode escolher o que quiser, sem a pressão de uma sociedade que nos fere a todo tempo, que nos coloque à prova. Aqui ainda trago na mesma letra do Racionais MC´s, a notória visão da desigualdade entre o acesso básico à cultura para os cegos vêem.

“Com seus filhos ao lado estão indo ao parque

Eufóricos brinquedos eletrônicos

Automaticamente eu imagino

A molecada lá da área como é que tá

Provavelmente correndo pra lá e pra cá

Jogando bola descalços nas ruas de terra

É, brincam do jeito que dá”

A primeira memória que vem em mente com relação à cultura é sobre a desigualdade que enfrentamos; que nos tira o privilégio de termos o mínimo. Mas ao mesmo tempo o desânimo e a indignação sobre como avançar se estamos em um país que dizem que apenas os ricos lêem, sendo que grande parte da população possui acesso ao mundo da cultura, através dos livros. Pois é, deixa eu te contar uma coisa caro leitor, foi a leitura quem me resgatou, despertou desde cedo o interesse pela escrita e me trouxe para o lugar que sempre quis estar, através do pouco incentivo que depositaram.

A crônica “Memórias de uma infância entre leituras e brincadeiras de rua” foi escrita por Jaqueline Rodrigues e faz parte da série de publicações especiais sobre o tema “Direito à cultura”, vinculado à disciplina Jornalismo, Cidadania e Direitos Humanos, do curso de Jornalismo da UFPB.

Revisão: Carolina Cassoli

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Jaqueline Rodrigues
Moderna Parahyba

Em constante evolução, amante de histórias e estudante de jornalismo.