Brasil Nazista de 2020: simples assim

Jéssica Modinne
Modinhas
Published in
4 min readJan 17, 2020

A síndrome autoritária segue. E segue muito bem, obrigada, amigx alemão/alemã.

Gostaria de ser alemã e entender como é ser estereotipada, o tempo todo, como uma nazista. Deve ser horrível achar que todo mundo pensa que você ainda acredita em Odin e é a favor de pureza racial. Não que todo mundo que é alemão seja ou tenha sido, enfim, mas, no meu imaginário feminista/gayzista/esquerdista, a figura alemã é muito branca, loira, de preferência, com olhos claros, alta, com poucos pelos no corpo e, eventualmente, levanta a mão direita com rispidez e segurança de que um bunker nojento vai assegurar a vida de um cara que mata pessoas por diversão.

A culpa não é minha, pois o estereótipo é anterior a minha existência. Vocês também têm um estereótipo nosso, não é? Desculpem, amigxs alemães/alemãs, mas isso é o que eu e um bando de gente aqui no Brasil aprendeu sobre vocês, quer dizer, um bando de gente que prestou atenção nas aulas de história, porque o maior feito alemão, segundo os livros didáticos daqui, foi ter elegido Hitler — e dizer que isso foi o maior feito de vocês não é, obviamente, um elogio.

Desconfio aqui com os meus búzios de que os avós e tataravós de vocês, aqueles que gostavam de vestir trajes militares pretos, estão reencarnando no inferno (conhecido, atualmente, como Brasil). Talvez o Diabo tenha cansado de mandar essa galera para os EUA e achou que seria bacana dar umas “férias” nas terras tropicais e queimadas propositalmente pelo próprio povo tupiniquim. E, gente, vocês não têm ideia de como esse povo está se divertindo! O próprio Goebbels reencarnou (ou incorporou, né?) como o secretário (que é menos que um ministro, mas ok) da cultura do governo do Hitl… BOLSONARO! Que honra ter este gênio propagandista nos abençoando com o seu conhecimento e ideias xenofóbicas, fascistas, assassinas, homofóbicas, anti-semitas, entre outras características que o tornaram braço direito do Bolson… HITLER! Até Wagner ele ainda escuta, vocês acreditam? Espero que ele se atualize percebendo que o maior culto nacional do cancioneiro brasileiro é Heavy Baile (vide as canções “C.E.O.N.” e “Cavalgada”).

É de impressionante semelhança: o cabelo, a fala ritmada por música, o retrato do nosso Führer das Milícias pregado na parede ao fundo, a bandeira do partido (que é a do Brasil, atualmente), tudo exatamente igual. Para um dramaturgo, a peça não passou de uma reprodução de muito sucesso — talvez pelos motivos errados, talvez pelos motivos certos, não sabemos –, pois a quantidade de views que o vídeo teve é de causar inveja em qualquer blogueira; mas sabemos o que isso tudo significa. Até o Dória sabe. O Olavo de Carvalho fez menção de que Alvim não está bem mentalmente.

Acho que estão sendo críticos demais com Alvim; vejam só: o cara se deu ao trabalho de dramatizar um discurso de terror e fascismo, citando o nazista Goebbels, altamente repudiado por TODO o mundo e ninguém o aplaude, ninguém reconhece o seu grande feito e a qualidade do gel de cabelo que usou para o vídeo! Ora, um dramaturgo premiado (vide Wikipédia), formado pela CAL, não merece este reconhecimento, mais uma vez? Depois querem dizer que as cenas violentas de Bacurau é que são arte! A arte brasileira não se resume a golpe de impeachment (aliás, o prêmio do Oscar já nos legitimou. Então, como bons colonizadxs, estamos no circuito artístico dos maiores golpistas, arte esta muito difundida em toda a América Latina, cujos patrocínios norte-americanos tem rendido bilheterias estratosféricas — quem é o Universo Cinematográfico Marvel perto de nós, hein?), também somos bons na estética cinematográfica nazista.

A tristeza do meu país pode ser ironizada, porque temos que criar o riso, temos que produzir vida de onde tentam retirá-la. As políticas de terror estão nos matando: sentadxs no sofá de casa, podemos ser mortxs. Falar em resistência política me soa, agora, como um disco de vinil arranhado. Cedemos à loucura? Ou nos tornamos cúmplices dela? Para pessoas como Alvim, tornar-se cúmplice pode ter sido uma estratégia de sobrevivência, pois vive aquele que mata, que propaga a morte, a guerra. Não acredito nesta alternativa como sendo a melhor, ou mesmo a única possível para “conviver” em meu país. Ainda não sei que estratégia formar, que existência poderia me motivar a continuar em minha militância política, mas, sem dúvida nenhuma, não é escolhendo o nazismo como muleta social. As artes estão condenadas a uma estética mortífera no Brasil e no mundo. Estamos condenadxs às balas que ilustram o partido do nosso Führer.

Este texto é propositalmente inconcluso, esteticamente rizomático e profundamente engasgado. Boa sorte ao nazista que o queira ler.

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