Detroit Become Human | A empatia transforma o mundo

João Gabriel
Moeda Galactica
Published in
7 min readFeb 4, 2020

Olá, viajantes! Recentemente fechei o jogo Detroit Become Human e fiquei bastante surpreso de como ele mexeu comigo. Foi uma experiência incrível e introspectiva contemplar esta história. Quero falar sobre isso neste artigo. Pegue seu chá, sente no sofá mais confortável e vamos viajar!

Quantic Dream e seus games que conseguem falar muito mais sobre você do que muita gente por aí. Detroit Become Human é mais um título da empresa que já é muito conhecida por jogos chamados de “Point and Click”, onde você contempla a uma história e realiza escolhas que irão dar o segmento dela.

Jogos como Beyond Two Souls (da mesma produtora) e Until Dawn, da Supremassive Games caíram no gosto popular por conta da experiência de imersão na história causada pela sensação de que todo o desenrolar é uma consequência dos seus atos. Diferente de um jogo normal, onde você tem a liberdade de andar e agir, mas não interfere no andamento do que já está pré estabelecido.

Quando você faz uma escolha em um jogo desses e depois descobre que certo personagem morreu por causa dessa escolha, a sua interação com o que está acontecendo ali fica muito mais humana e próxima, fazendo você pensar sobre as suas escolhas na vida mesmo, na realidade.

É nesse ponto que Detroit me pegou em cheio, pois o jogo trabalha justamente com a empatia e sensibilidade em situações de crise e euforia. Mais do que isso, consegue trazer para a história situações tão próximas a nossa realidade que chega a ser insano o tanto de emoções que passam pelo seu corpo na hora de dar uma resposta ou realizar uma ação em cada cena.

Detroit Become Human ainda tem diversos finais diferentes que vão do caos total que vai deixar você se acabar de tanto chorar, à felicidade extrema onde tudo acontece bem. Saber disso faz a experiência ser ainda mais imersiva.

Uma maneira de enxergar a diferença

Discriminação, manipulação e identidade: os três pilares que movem a história de Detroit Become Human, num futuro onde a inteligência artificial chegou ao ponto de termos androides com aparência humana comercializados como produtos para facilitar a vida das pessoas.

O que uma coisa tem a ver com a outra? Tudo! O fato de os androides serem muito parecidos com os humanos geram problemas graves para toda a sociedade, principalmente com a ideia de que estes robôs podem ser usados para absolutamente qualquer coisa, como um prostíbulo, por exemplo.

Podemos discutir infindavelmente sobre o que seria correto ou errado se fazer numa situação dessas e essa é uma das grandes propostas de Detroit Become Human, porém, é incrível como as histórias dos três personagens se desenrolam ao longo do jogo de uma forma tão próxima ao que acontece com diversos grupos na nossa sociedade real.

Por isso, eu vi os androides no game como uma forma de deixar claro e explícito a diferença como a sociedade vê esses grupos, como os imigrantes, que é um dos assuntos abordados na história de uma das personagens. Se esses indivíduos robóticos criam inteligência, sentimento e senso de humanidade, seria correto escravizá-los e fazer com eles o que bem entender? A forma como as pessoas discriminam outras diferentes delas é correta?

Empatia e não violência

A possibilidade de pensar nesse turbilhão de situações e agir, podendo vislumbrar quais as consequências que suas ações podem gerar é fenomenal e Detroit Become Human consegue trazer essa experiência de uma forma sensacional. Eu emergi completamente na história e joguei, selecionando as opções que mais tem a ver comigo nas situações geradas pela história.

Prezei por manter a ideologia que sempre prego de que podemos resolver grandes conflitos através da paz e não violência. Eu simplesmente não conseguia selecionar uma opção que criasse um combate. Eu não podia fazer isso.

Tentei analisar ambos os lados do conflito, tanto dos humanos que tinham medo dos androides, quanto dos próprios androides que buscavam direitos e respeito. Desde o início da história, você consegue gerar uma ligação com os personagens por entender de onde surgem os sentimentos deles e a ideia de humanidade colocada em jogo.

Eu criei uma empatia pelos personagens. Muitas vezes, me vi representado por muitas das falas e situações pelas quais eles passam e, acredito eu, muita gente deve ter se chocado com a similaridade com fatos verídicos da nossa sociedade representadas ali no jogo. Me identifiquei com Marcos e sua busca por justiça e igualdade. Me identifiquei com Kara pela empatia que ela cria pela menina, sentimento materno. Me identifiquei com Conor em sua determinação em realizar aquilo que acredita ser correto.

Eu me empenhei em manter a empatia e promover o máximo de diálogos possíveis e, posso constatar que fui bem sucedido. Tive uma sensação incrível ao finalizar o jogo sendo 100% verdadeiro comigo e conquistando feitos históricos de paz e união entre os androides e humanos. Apenas dois personagens secundários morreram, Luther e Simon, mas acreditaram até o fim que meu posicionamento estava correto.

Libertei Conor através da análise e pesquisa. Ele conseguiu, pelo diálogo, compreender o lado de ambos e ser a peça chave para promover a igualdade, por ser um agente que atuava ao lado dos humanos. Inclusive, tirei seu parceiro policial do alcoolismo e conquistei uma grande amizade entre os dois.

Com Kara, consegui abrir os olhos de um machista que espancava suas robôs. Mostrei a ele que o amor pode vencer qualquer barreira, fazendo com que ele se redimisse ajudando na luta pela igualdade dos androides. Conquistei a confiança de uma criança que vivia em meio da violência e só conhecia a tristeza.

Com Marcos, provei que a violência não era o caminho correto para um grupo de androides extremistas que queriam disseminar sua raiva para conquistar a igualdade. Convenci o grupo a seguir meus passos e criei um grande movimento pacifista que fez com que a mídia e a população ficasse a favor dos androides, deixando o extremo exército humano como os verdadeiros vilões da história, por manipularem e usarem da violência sem nenhuma necessidade. Tive baixas, mas não revidei a violência e deixei uma mensagem de paz a todos naquele mundo.

Através de tudo o que fiz dentro do jogo, consegui provar para mim mesmo que a paz vence a guerra, e que devo continuar nessa crença para tudo o que eu fizer. Cada pessoa age de uma forma por um motivo específico e a empatia é a maior arma para derrotar isso. A violência, se combatida com violência, apenas aumenta, pois sugere que nenhum dos dois está se entendendo.

Hoje vejo nas redes sociais uma verdadeira batalha entre as pessoas sobre coisas em que elas acreditam. Porém, nenhum dos lados tenta analisar e entender a opinião do outro, para que possam argumentar de forma civilizada. Cada pessoa tem em sua mentalidade apenas que está certo e que precisa vencer a discussão e, dessa forma, aparecem apenas os argumentos que lhes convém.

Liberte a humanidade em você

Isso tudo me fez refletir sobre quem realmente eram os robôs nesse game. Será que eram os androides, que estavam lutando pela liberdade, respeito e cidadania, passando por situações constrangedoras e que poderiam custar suas vidas? Ou será que eram os humanos que não aceitavam a ideia de eles serem livres, achando que poderiam espancar, estuprar e escravizar, mesmo sabendo que tinham sentimentos, sensações e pensamentos?

As cenas que mais me comoveram em Detroit Become Human foram quando os androides liberam seus sentimentos, quebrando uma parede de segurança interior que os impede de realizar ações que não foram mandadas por um ser humano. Kara se desespera ao ver uma criança sofrendo com o alcoolismo e violência do seu pai e se libertou. Marcos foi através do ódio, por tentar proteger seu dono e ser dilacerado. Conor foi por simplesmente entender que estava sendo manipulado.

Eles sofrem, se forçam a arrebentar a parede que os prende, que os impede de ter uma identidade. Isso me lembra muito a mim mesmo, quando penso sobre minhas limitações e sobre o que eu deveria fazer para vencê-las. É a coragem em momentos que forçam você a ser corajoso, a se superar e vencer seus obstáculos.

Lute para se libertar, para vencer as barreiras que travam você de conquistar seus objetivos. Corra atrás daquilo que vai forçar você a quebrar sua parede de segurança e ter coragem o suficiente para ser você. Lembre sempre que não é necessário ser herói, você não precisa ser alguém fabuloso, sensacional e fantástico, você precisa apenas ser feliz, e para isso é necessário que seja livre.

É difícil, muitas vezes dolorido. É uma decisão complexa. Mas é necessária. Se liberte das correntes que amarram você e ganhe o universo. Não deixe que nada acabe com sua essência, com sua bondade, mas lute contra o que te prende e tenha voz para poder dizer o que sente e poder ser mais feliz.

Tenha sempre a empatia em mente. Tente entender o lado da outra pessoa que fala com você e promova a paz em tudo o que fizer. Isso ajuda você a se libertar e também a outras pessoas. Diálogos pacíficos e empáticos dão muito mais resultados de consenso do que os promovidos através do ódio e violência.

Detroit Become Human, no fim das contas, trata sobre a liberdade, tanto pessoal quanto social. Se liberte e liberte o mundo. Você tem esse potencial de transformar por onde passar.

É isso, viajantes. Espero que tenha gostado do artigo de hoje e que eu possa ter entregado momentos de reflexão para você neste dia. Semana passada escrevi o artigo sobre Senhor dos Anéis e a Primeira Guerra Mundial. Leia, compartilhe, comente… Mas só se você quiser. Até a próxima viagem!

--

--

João Gabriel
Moeda Galactica

Fascinado pelo universo fantástico, desejo motivar as pessoas a correrem atrás de seus sonhos através de palavras e experiências da vida do nerd que vos fala.