Fantasia é o que se pode fazer no cinema
O que Walt Disney trouxe para o cinema atual com a animação.
Antes de iniciar esse post, preciso me desculpar por ter sumido por uma semana. Acontece que eu estive preso em alguma galáxia distante e sendo forçado a ouvir poemas Vogons diariamente. Foi complicado, mas sobrevivi. Já ouvi poemas piores. Porém, agora eu voltei com tudo, então se prepare para ler muito conteúdo. Sente-se no seu sofá vermelho e embarque em mais uma viagem.
A Disney é, sem sombra de dúvidas, uma das produtoras de animação mais amadas do mundo, sempre trazendo histórias que encantam, desde os pequeninos até os grandalhões, que nem eu (digo de idade, porque tamanho eu não tenho). Acontece que a empresa nunca tentou inovar no formato de se contar as coisas, não é? Negativo, se concordou com a afirmação, você está muito enganado.
É difícil pensarmos na Disney como uma empresa que realiza experimentos. Atualmente conseguimos enxergar a evolução das animações no que diz respeito à técnica (e que evolução, hoje os bonecos fluem de uma forma quase que real), porém podemos perceber sempre o mesmo formato de roteiro, com os finais todos voltados para a mesma resolução e daquela forma que você já espera assistir. Diga sinceramente, você vai ao cinema assistir a uma animação Disney/Pixar e já sabe o que vai assistir, não é mesmo?
Veja bem, não estou criticando, de maneira nenhuma, a Disney, apenas estou afirmando que a empresa encontrou uma zona confortável, que mantém o telespectador vidrado na telona desde 1937, ano onde a adaptação “A Branca de Neve e os sete anões” estreou nos cinemas como um estouro, gerando uma sequência fenomenal de contos de fada.
Mas, voltando no conceito de a Disney nunca ter sido inovadora, devo dizer que não foi sempre assim. Na época de ouro da empresa, quando o seu líder ainda estava vivo, a companhia estava sempre num fluxo de inovação no método em que se deve levar uma história ao cinema, pois Walt Disney, um dos gênios que já passaram por esse mundo, ficava extremamente inquieto ao perceber que a sua empresa estava caindo na zona de conforto.
Foi dessa busca por novidades que a companhia Walt Disney de entretenimento lança um filme extremamente controverso, diferente e experimental que qualquer fã da empresa já possa ter visto: Fantasia.
O Projeto de Fantasia
Em 1941 lançou nos cinemas o trabalho que pode ser considerado um dos (senão o) mais ousado da história da Disney: Fantasia. Trata-se de um compilado de pequenos curta metragens desenhados e animados em sincronia com a música clássica. Sim, é exatamente isso que você leu.
Se você é fã do estúdio, com certeza já deve ter visto o icônico cartaz da animação, onde aparece o Mickey Mouse usando um chapéu de aprendiz de feiticeiro (o curta mais lembrado pelas pessoas, não por acaso, dentre todos os que estão presentes na obra).
Fantasia já começou ousado, pois trazia em seu projeto uma parceria com Leopold Stokovski, um dos mais populares regentes dos E.U.A na época, demonstrando que Fantasia precisava ser mais do que um filme e que a música teria a mesma importância da animação que o estúdio fazia.
A parceria resultou na seleção de 8 músicas clássicas que compõem o filme, porém, diferente do que alguém poderia esperar, Walt Disney queria abordar o som de diferentes formas, não contando a história que os concertos já mostravam. O quebra nozes, por exemplo, é utilizado para abordar as quatro estações do ano no curta em que é utilizado.
Contudo, Disney realmente foi longe com o filme, abordando temas líricos, como as quatro estações; artísticos, como a arte abstrata; científicos, como a história da vida na terra, mas também trouxe temas controversos, como um ritual satânico dos demônios para lúcifer (sinistro)
Fantasia além da animação
Se você acha que o filme foi inovador apenas por causa disso, está errado. Disney tinha planos muito fechados e experimentais para a animação, pensando muito além da exibição, até mesmo em como seria exibido. O projeto era tão fora da casinha que não poderia nem ser chamado de filme, mas sim um filme-concerto.
A ideia inicial do estúdio era entregar, anualmente, para as pessoas uma experiência totalmente nova ao entrar no cinema, dando a sensação de que o telespectador havia ido a um concerto e de quebra assistiu a um show de imagens. Assim, Disney faria versões diferentes de Fantasia todo ano, cada vez com 8 novas animações sincronizadas com novas músicas através da longa parceria com Stokovski.
Porém, a preocupação agora era o som. Como simular, dentro de uma sala de cinema, a sonoridade de um concerto? Daí nasceu o pedaço do projeto denominado “Fantasound”, que previa caixas de som espalhadas por toda a sala, onde seriam sincronizadas por instrumento. Assim, seria possível tocar cada instrumento em um canto diferente do cinema.
O fim da fantasia… Será?
O ousado projeto de Walt Disney parecia ser um sucesso. Cada detalhe trabalhado para entregar uma experiência que parecia única e que ganharia cada vez mais gerações de famílias apaixonadas pelo filme-concerto. Porém, o estúdio se decepcionou com o resultado.
Disney gastou muito para tornar seus planos realidade, mas não foi o suficiente. Apenas algumas salas conseguiram a instalação do Fantasound devido ao preço do sistema, limitando a experiência completa a apenas alguns cinemas, fazendo com que a bilheteria não atingisse nem mesmo a metade do esperado.
Trágico! Fantasia havia sido um fracasso. Disney faleceu sem se conformar que sua ideia não tenha ido para frente. Mas, em 1970, o estúdio testou novamente a animação nos cinemas e, curiosamente, descobriu que os jovens tinham experiências bastante fortes com o filme-concerto sob o efeito de alucinógenos.
Daí, Fantasia foi um marco de maior sucesso da Disney, recebendo uma continuação nos anos 2000, o Fantasia 2000.
O cinema pós Fantasia
Walt Disney voltou a fazer seus filmes tradicionais após o fracasso da sua brilhante ideia, o que levou o estúdio a manter esse tom em suas animações até os dias de hoje, onde se mantém de forma confortável a continuar os trabalhos.
Porém, atualmente, em todas as salas do cinema, contamos com uma experiência sonora que nasceu com o Fantasound, onde caixas de som são instaladas por toda a sala e sincronizadas a ponto de entregar a sensação de que o som está vindo de trás, dos lados ou da frente do telespectador. Agradeça o seu som 3D Dolby Digital 7.1 ao gênio Walt Disney.
Além disso, as músicas passaram a ter cada vez mais importância dentro das ações das personagens num filme e cenas como as do Mercúrio nos novos X-Men também devem ao estilo gráfico e sonoro que Disney criou com o Fantasia.
É isso! Espero que tenha gostado do conteúdo e que ele possa abrir a sua cabeça para tentar identificar novidades nos formatos de se contar uma história nos cinemas. Se você gostou, recomende, compartilhe e comente aqui no Moeda. Até a próxima!
Talvez você também goste do nosso texto sobre o formato obscuro de Tim Burton contar histórias.