As mulheres das cooperativas por elas mesmas
Em outubro de 2018, a Moeda se juntou a 1100 mulheres no 1º Encontro de Mulheres Rurais do Mercosul Ampliado, uma união de ações promovidas pela Unicafes e REAF. Foi um momento emocionante de troca de experiências, apresentação de projetos e discussão sobre a contribuição da mulher para o cooperativismo.
O Encontro continua gerando frutos. Um deles é a pesquisa realizada em parceria com a UNILA, envolvendo 173 mulheres participantes, com objetivo de entender como elas percebem o que limita e o que potencializa sua participação dentro de espaços cooperativos.
Os resultados trazem as impressões de quem realmente vive o dia-a-dia nas cooperativas. Enquanto algumas questões já intuídas foram confirmadas, a pesquisa trouxe à tona elementos importantes e que devem ser considerados por quem deseja fomentar a conquista da autonomia das mulheres rurais tendo o cooperativismo como um instrumento:
- Da amostra entrevistada, a maioria das mulheres que atuam em cooperativas têm mais de 40 anos, sendo grande o número de pesquisadas com mais de 55 anos.
- Apenas 20% das entrevistadas ocupam cargos nos conselhos de administração das cooperativas — dessas, a maioria tem mais de 40 anos
59% viu surgirem mais discussões sobre a participação feminina nas cooperativas, mas um grande número não vê isso se tornar prática corrente. - A maioria das entrevistadas dedica de 1h a 5h por dia à atuação nas cooperativas.
- A maioria das entrevistas dedica 5 a 10 horas por dia para tarefas e cuidados domésticos não remunerados, sendo que 13% delas comentou trabalhar mais de 15 horas por dia em tarefas domésticas.
- Na percepção das entrevistadas, tarefas domésticas e a falta de formação são fatores determinantes na participação das mulheres nas cooperativas; logo em seguida surgem a falta de motivação, a insegurança e auto-afirmação.
Assim como se percebe em outras esferas profissionais, as mulheres citam a necessidade de cuidar da casa e das crianças como um dos fatores que as impedem de ter melhor formação e de dedicar mais tempo às cooperativas. Outro fator que chama atenção é o machismo combinado à baixa auto-estima das mulheres: isso as deixa inseguras e menos motivadas, inibindo uma maior participação. Como resultado, projetos e agendas importantes para esse grupo ficam em segundo plano, reforçando num ciclo as condições que impedem a igualdade de participação feminina.
Outro ponto importante é a baixa participação de mulheres jovens — mesmo num universo pesquisado restrito e aleatório, isso reforça a importância de formar e “empoderar” as protagonistas das próximas gerações. São as mulheres mais jovens que têm mais contato com inovações em produção sustentável e que podem aumentar a renda de suas comunidades enquanto preservam o meio-ambiente do qual dependem.
Os resultados apontam caminhos mais assertivos para transformar as discussões sobre a participação feminina em cooperativas em prática. Junto com a Carta de Medianeira, também resultado do 1º Encontro de Mulheres Rurais do Mercosul Ampliado, esse material tem o poder de dar voz às mulheres rurais para que conquistem a igualdade.
É em prol dessa mudança essencial que desenvolvemos Projetos Semente — Investimentos de Impacto que apoiam principalmente as mulheres; e é também por isso que a Moeda participa novamente em 2019 da Campanha Mulheres Rurais, Mulheres Com Direitos. Estudos internacionais têm mostrado exaustivamente que a igualdade de gênero é chave para aumentar a renda mundial. É hora de fazer toda essa teoria virar realidade.
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