Concurso Inovar para Mudar : a autonomia das mulheres rurais e sua contribuição para reduzir a pobreza e a insegurança alimentar

Em outubro de 2019 foi lançado no Brasil o concurso “Inovar para mudar: a autonomia das mulheres rurais e sua contribuição para reduzir a pobreza e a insegurança alimentar”. Esta é uma ação da Campanha Mulheres Rurais, Mulheres com Direitos e também uma parceria com a Moeda Seeds Bank.

O concurso teve por objetivo destacar soluções empreendidas por mulheres e dar visibilidade às atuais conquistas e aos futuros desafios que elas enfrentam para reduzir a pobreza rural e garantir a segurança alimentar e nutricional.

A Moeda mergulhou de cabeça nessa iniciativa. Podemos dizer que a caminhada foi incrível, trazendo à tona realidades desafiadoras e que de fato precisam ser visibilizadas. Nós tivemos a oportunidade de conhecer mulheres lutadoras e criativas que, mesmo diante de cenários desfavoráveis, se superam e fazem a diferença em seus territórios. Elas são verdadeiros exemplos que nos inspiram e nos enchem de esperança e força.

Das 271 iniciativas inscritas, 89,1% contribuem para a questão da segurança alimentar. Esse elevado percentual só reforça essa afirmação da FAO que diz o seguinte: “As mulheres da área rural são responsáveis por mais da metade da produção de alimentos, desempenham um papel importante na preservação da biodiversidade e garantem a soberania e segurança alimentar a partir da produção de alimentos saudáveis.” Na visão das participantes, essa contribuição para redução da insegurança alimentar está relacionada à produção de alimentos saudáveis, em bases agroecológicas, à geração de renda e aos processos educativos.

Na Moeda, lutamos pela equidade entre homens e mulheres. Consideramos que essa é uma condição essencial para o desenvolvimento sustentável pois as mulheres são as que mais sofrem com a desigualdade social, política e econômica. São muitos os dados que demonstram essa afirmação. Dentre eles, podemos citar 2 bem relevantes: somente 30% das terras pertencem às mulheres e somente 10% das pessoas que conseguem crédito são mulheres. Dentre as iniciativas inscritas, 68,8% declarou que o empreendimento sofreu algum obstáculo simplesmente pelo fato de ser dirigido por mulheres.

Também foi constatado que todas as propostas trabalham com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável e contribuem ativamente para que o Brasil alcance suas metas. 65% delas declararam contribuir para o ODS 8 (Trabalho Digno e Crescimento Econômico), 62% para o ODS 12 (Consumo e Produção Responsáveis), 52% para o ODS 1 (Erradicação da Pobreza) e quase 50% das inscritas declararam contribuir para o ODS 5 (Igualdade de Gênero). Em alguma medida, todos os 17 ODS foram citados.

Praticamente 100% das experiências inscritas declararam contribuir para a autonomia das mulheres rurais ao ajudar na garantia da renda própria, oferecer apoio sociopedagógico, formação e capacitação, gerar visibilidade ao trabalho da mulher, valorizar conhecimentos, elevar sua autoestima, promover a auto organização, encorajar e apoiar a organização da produção, processamento e comercialização de produtos das mulheres e muito mais.

Identificou-se um leque enorme de produtos e serviços das mulheres rurais de todo o Brasil, dentro os quais podemos citar: artesanatos, hortifruti, mandioca e derivados, bebidas e polpas de frutas, panificados, fibras naturais, geléias, doces e compotas, produtos do extrativismo vegetal, óleos, carnes, leite e derivados, cosméticos naturais, produtos medicinais, temperos, cafés especiais, diversos tipos de mel, sementes e insumos e serviços diversos. Uma riqueza impressionante.

Toda a produção acima descrita está comprometida com o desenvolvimento sustentável. Todos os projetos declararam não apresentar nenhuma ação que gere poluição ou cause impactos negativos nos ecossistemas; não praticar o uso excessivo ou perda de recursos naturais; não permitir maus-tratos contra animais; não violar normas nacionais; não praticar formas de trabalho exploratórias; não violar direitos humanos; e não realizar nenhuma ação que venha a ter impactos negativos nas comunidades.

As iniciativas possuem também abordagens bastante interessantes como por exemplo: 93% destas experiências declararam ter resgatado algum cultivo ou prática tradicional; o cultivo e resgate de espécies crioulas foram várias vezes citados; áreas degradadas com práticas agroecológicas forma recuperadas; observou-se que receitas tradicionais são passadas de mãe para filha; práticas de fermentação natural, técnicas de artesanato e uso de matéria prima local na confecção de artesanato estão sendo utilizadas; confecção de brinquedos tradicionais e brincadeiras associadas a identidade cultural; uso e cultivo de plantas medicinais e cosméticos; e uma quantidade impressionante e muito maior de conhecimento está sendo resgatado pelas mulheres rurais.

O concurso aponta mais uma dica: foi declarado por 80% dos empreendimentos que o produto ou serviço principal foi desenvolvido com base em um saber que foi passado de geração em geração, dentro da família ou comunidade. Esse dado é extremamente relevante pois, além de resgatar conhecimento e práticas tradicionais, a maior parte das mulheres estão utilizando esse conhecimento ou prática para produzir e gerar renda, contribuindo assim para sua autonomia. Isto é motivo de celebração pois a autonomia das mulheres rurais é uma preocupação constante do nosso projeto. Acreditamos que os saberes ancestrais não podem ser perdidos ao longo do tempo.

Perceber que o conhecimento presente em cada empreendimento inscrito está sendo passado de mãe para filha é algo que chama a atenção e deve sim ser comemorado. Essa riqueza de conhecimento não pode ser perdida ao longo dos anos e a preservação dessa continuidade depende de cada um de nós. A sociedade como um todo tem o dever e obrigação de enaltecer e valorizar tais conhecimentos.

O aspecto inovador da maioria dos empreendimentos inscritos é justamente a valorização da cultura e da identidade local que estão impressas nos produtos. O respeito ao meio ambiente, a existência de relações justas e a contribuição efetiva para autonomia das mulheres rurais são considerados como o grande diferencial desses projetos. Por isso que podemos falar que os produtos e serviços contam de fato uma história que é inerente à eles. Finalmente, foi relatado pela maioria das iniciativas inscritas que seus produtos são valorizados no mercado local, principalmente por consumidores conscientes que desejam saber a origem do que estão consumindo, buscando, a partir da sua relação de consumo, gerar impacto e contribuir para uma sociedade mais justa e solidária.

Para concluir, podemos salientar o seguinte: ser mulher no Brasil não é tarefa fácil e, ainda assim, essas mulheres estão se destacando. Elas estão produzindo alimentos saudáveis, gerando riqueza, preservando e recuperando o meio ambiente, produzindo serviços, fomentando a educação e contribuindo com o nosso país de diferentes formas. Por isso podemos afirmar que todas as participantes já são vencedoras. As experiências compartilhadas conosco neste concurso demonstram que estamos no caminho certo e que podemos acreditar num futuro melhor.

É nesse espírito que queremos divulgarmos a proposta vencedora e as menções honrosas. Não foi fácil para a equipe de júris escolher apenas uma iniciativa, mas os critérios foram todos seguidos à risca.

Menções Honrosas

Horta Mandala das Mulheres de Carneirinho Caruaru — PE (agricultora)

Cida Pescadora — BA (pesca)

Sabores do Cerrado — MG (extrativista)

Produção Agroecológica em Comunidade Quilombola — PR (quilombola)

Cultivo Tradicional Mbya Guarani (indígena)

A grande VENCEDORA do Concurso, destacando sua contribuição para a autonomia das mulheres rurais, a redução da pobreza e a insegurança alimentar foi: o MIMAS — Movimento Indígena de Mulheres do Alto São Marcos.

Agradecemos imensamente todas que participaram e estiveram com a gente nesses meses. Foi muito prazeroso receber tantas inscrições maravilhosas e saber mais de histórias tão significativas.

Se quiser saber mais sobre a Moeda: moedaseeds.com