Papa Francisco, eu e uma economia desenhada para o ser humano

Taynaah Reis
Moeda Seeds
Published in
4 min readNov 5, 2020

Nesta última semana, fui comunicada sobre a minha participação em um evento e fiquei tão emocionada que pude voltar à minha infância. Já contei algumas vezes sobre meu primeiro negócio de sucesso: o Banco dos Bancos. Com meus brinquedos como clientes assíduos, o banco tinha processos muito particulares, sendo o principal deles a não cobrança de juros. Em minha cabeça de criança, qualquer pessoa que não conseguisse arcar com seus compromissos junto a uma instituição financeira deveria ser ajudada e não punida com mais juros.

Cresci e passei minha adolescência em Brasília. Centro dos três poderes republicanos, a cidade inteiramente projetada para ser a capital brasileira tem em seu dia a dia comitivas de carros de luxo, levando os protagonistas dos setores públicos e privados e passando por gigantescos e imponentes prédios e palácios.

Porém, o que sempre me gerou questionamento era como um dos municípios mais ricos do Brasil, poderia ter em seu entorno o retrato da desigualdade: as chamadas cidades satélites marginalizaram os trabalhadores que vieram dos quatro cantos do país para construir a capital federal e hoje são fadados à pobreza e falta de acesso à educação, saúde e políticas sociais. Algo de muito errado acontecia.

Todo meu campo de estudo foi focado em como resolver estes contrastes que se espalham de norte a sul do Brasil e em incontáveis países do mundo inteiro. Fundei, em 2017, a Moeda Semente: mais do que ser uma resolvedora de problemas, a primeira fintech brasileira de impacto social se transformou em uma proporcionadora de oportunidades.

Graças à nossa política de nano e microcrédito a empreendedores que transformam suas comunidades locais gerando emprego, preservando a fauna e flora e resistindo à pressão de um mercado agressivo e elitista, construímos e investimos em projetos comprometidos com políticas socioambientais de diminuição da pobreza, respeito à diversidade, preservação do meio ambiente e vários dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável traçados pela ONU (métrica norteadora da Moeda Semente).

Eis que já era chegado o epílogo deste desafiador ano de 2020 e toda essa agenda pessoal minha, que evoluiu para a fintech que fundei e hoje sou CEO, encontrou a de ninguém menos que a do Papa Francisco. Em novembro, o pontífice, jovens líderes e eu colocaremos em pauta os novos rumos da economia no evento online: “Economia de Francisco: os jovens, um pacto, o futuro”.

O Papa tem externado sua preocupação com o patamar que a economia mundial chegou, cada vez mais ignorando as bases de sustentação e privilegiando ainda menos pessoas. A violência e desproporção deste mercado egoísta excluiu ao longo das últimas décadas milhões de pessoas, trazendo como consequência a desigualdade sem precedentes.

Neste novo desenho econômico (ou, como diz o pontífice, a nova alma da economia) que discutiremos entre o dias 19 e 21 de novembro, vamos colocar o ser humano ao centro de todas as ações. Para que os cidadãos do mundo possam receber os benefícios de seu trabalho, não mais sustentar um sistema que repele a igualdade e o desenvolvimento universal.

No que diz respeito às instituições financeiras, poderei expor meus questionamentos ao modus operandi que alimenta o gigantismo de bancos que habituaram-se a sonegar crédito aos pequenos clientes e pressioná-los com taxas abusivas. Apresentarei projetos sementes de sucesso da Moeda e como podemos realmente gerar impacto social, ambiental e econômico com políticas humanas e respeito à vida e ao planeta.

Não consigo expressar o tamanho da minha felicidade. A organização deste evento já joga luz à indignação de muita gente: reunidos seremos mais fortes, poderemos fazer mais. Também vejo um potencial muito grande de assistirmos a um marco para nosso sistema econômico. Poderemos realmente traçar uma agenda positiva de ações e soluções práticas. É a chance, o contexto e o movimento para que nossa voz seja ouvida por setores públicos e privados.

As sementes que por aqui já temos espalhado buscam a igualdade de gênero, o combate à pobreza, a sustentabilidade e, principalmente, a justiça social, agora estarão sendo cultivadas por novos campos. Em breve, trago novos detalhes para que você possa viver este momento tão especial comigo e possamos redesenhar a economia do futuro.

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