Laura Oliveira: resiliência e mundo do trabalho

Jorge Rocha
Mondo 50+
2 min readJun 20, 2023

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Laura Oliveira é professora da Sirius Education

Ouvi diversas vezes que resiliência é um “diferencial chave” quando se fala em carreira ou atuação profissional. E fica essa associação implícita entre longevidade e maior resiliência como se fosse algo natural. Também não é natural o costume, seja das empresas ou de nós mesmos, de contar com incentivos ou preparação nesse sentido. É viável pensar em resiliência em um plano de carreira?

Laura Oliveira: Você sabe que eu tenho cada vez mais dificuldade com essa despolitização da esfera do trabalho, né? E pra mim, não dá pra pensar em resiliência como um diferencial sem levar em conta o enfraquecimento da regulamentação estatal sobre o mercado de trabalho e a normalização desse modus operandi que promove a autorresponsabilidade em detrimento da responsabilidade coletiva. Como podemos falar de trabalhadores que não se deixariam abater por nada quando vivemos em um país no qual a crescente precarização da mão-de-obra é uma realidade? Existe um motivo pelo qual o discurso do empreendedorismo tenha a sua origem em países ricos e desenvolvidos, mas encontre maior penetração naqueles cuja economia é fraca e o desemprego é alto. Somos mesmo essa nação tão empreendedora ou estaríamos forçando as pessoas a encontrar seus próprios caminhos diante da escassez do mercado de trabalho?

Em um cenário bem próximo do ideal, um profissional 50+ tem um considerável valor de marca — e aqui vamos nos ater “apenas” a fatores como reputação, autoridade e credibilidade. O futuro do trabalho, desde que a expressão foi criada, depende também desses fatores para ser uma realidade viável. Por que ainda não aprendemos a validar e viabilizar essa força de mercado?

Laura Oliveira: As empresas ainda não se deram conta da mudança na pirâmide etária e parecem estar pouco preparadas para uma força de trabalho mais velha. Hoje, a gente tem um paradoxo no país: o desemprego, de um lado, e a escassez da mão de obra qualificada, de outro. Por que ainda não aprendemos a valorizar profissionais 50+, então? Suspeito que a resposta está no etarismo, que insiste em erroneamente rotular essas pessoas como ultrapassadas, menos criativas e resistentes às mudanças.

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