Dedo na ferida

puxe uma cadeira
a panaceia
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2 min readFeb 1, 2017

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Era um dia ensolarado em meio a balões, cachorros e risadas. Crianças brincavam no parque até que escuta-se um grito e um choro. Era Pedrinho que tinha despencado do alto do balanço. Sangue, desespero e um corre-corre danado.

Imediatamente várias pessoas que estavam por ali vieram amparar o garotinho. A mãe, aflita, quando viu aquele monte de sangue do nariz pegou um pano e cuidadosamente, mas fazendo uma leve pressão, colocou em cima do machucado.

Aparentemente manteve a calma. Mas olhando nos olhos dela era possível ver o desespero de mãe. Não sabia se levava ele no colo até o carro, se trazia o carro mais pra perto do parque. Ou se tentava explicar, sem sucesso, onde tinha estacionado para que alguém viesse buscá-los.

O negócio era ela ir até lá buscar mesmo. Foi aí que ela posicionou a mãozinha dele sobre o pano que tampava o sangramento do nariz e disse a mamãe vai pegar o carro, fica calmo aqui com essa tia e põe esse dedinho aqui para segurar o seu dodói. Isso vai ajudar a parar de sangrar”.

Por o dedo na ferida era o conselho daquela mãe e, que na minha opinião, servia não só pro nariz do Pedrinho, mas para todo mundo que tinha uma cicatriz no coração ou um esfolado na alma.

Comum é a gente ouvir “calma, o tempo vai curar”. Conselho que vira uma grande bobagem perto de “põe o dedo na ferida”. Esperar o tempo agir é ser passivo demais. Sem contar que o tempo não é cicatrizante, não é médico e nem plaqueta. O tempo pode fazer esquecer, tirar o foco, mas é incapaz de curar qualquer coisa. Curar depende muito mais da gente do que dele.

Por o dedo na ferida dói e requer mais coragem. Precisa ter força de vontade pra não tirar o pano do sangramento por curiosidade. Mas é, com certeza, o único jeito de descobrir onde o corte é mais profundo e também a melhor maneira de conhecer qual a pressão ajuda a anestesiar. Para os nossos machucados emocionais, vale o mesmo cuidado: encarar e tatear até achar um jeito de amortecer.

Pedrinho seguiu a risca os conselhos da mãe e se recuperou. Ele já está de novo se arriscando. Afinal, quem se atreve a colocar o dedo na ferida sabe que no balanço da vida, mas vale ir no alto e correr o risco de se machucar do que ficar intacto, mas sem nunca tirar os pés do chão.

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senta! vamos conversar sobre a vida, amor e outras coisas. por thaís reis